Camarões dos Pampas homenageará Djalma Sabiá na Edição Especial do Carnaval Virtual – LIESV

Campeã do Grupo Especial em 2011, a Camarões dos Pampas estará presente na Edição Especial do Carnaval Virtual em Fevereiro de 2021. Com o enredo “No meu morro tem Salgueiro, Onde reina o Sabiá”, a tradicional agremiação vai homenagear Djalma Sabiá, um dos fundadores da Acadêmicos do Salgueiro.

Sinopse do Enredo

No meu morro tem Salgueiro, Onde reina o Sabiá

Rufam os tambores, que é dia de festejar,
Hoje a ancestralidade preta vai reinar;
Dos contos do cativeiro, eis do ventre livre, à curimba e ganzá.
Catiço no morro, moleque certeiro,
Driblando a vida, no Trapicheiro
Preto consciente, Kaô! “D’alma” livre em vôo alto, para sempre um “Sabiá”.

Nos batucajés tijucanos, foi sambista por opção,
No “Gargalhada” becada a grande inspiração;
Que afinava em blocos, e desciam como escola.
Nos bailados a rodopiar, viu os seus grandes amores.
E no “junta e disjunta”, foi um dos fundadores.
Da Academia do morro, “feita” pra bater de frente com as de Paulo, Silas e Cartola.

Alinhado de fato ao desejo insurgente,
Que não era nem melhor nem pior, apenas diferente;
Lançou versos e deu voz ao “Brasil, fonte das artes”.
“Ô-ô-ô-ô-ô . Acabou-se o navio negreiro”, com garra cantou,
“Da viagem de Debret”, dos cativos no “Valongo”; seu talento imortalizou.
E o negro livre “Chico Rei”, na Revolução Salgueirense, foi seu maior estandarte.

“E por que não” mais uma história?
Em tempo de consciência, o mestre foi o templo da memória;
“Na maior felicidade”, foi à cara do Salgueiro, que no “tambor” fez-se o grande Griot.
Honras ao Aláàfín de Oyó, a majestade africana encarnada,
Que hoje reina no Orum vermelho e branco, e segue no firmamento sua jornada,
Junto aos Obás do reino, em sua apoteose, que a academia do samba consagrou.

Pesquisa e texto: Leandro Ramos.

Glossário

  • Ventre livre – trata-se da lei do ventre livre que foi promulgada em 28 de setembro de 1871, ela determinava que os filhos de escravizadas nascidos a partir de 1871 seriam considerados livres. A avó de Djalma Sabiá nasceu pouco tempo após essa data e como o mesmo expressa no documentário “O Sabiá do Samba”, a mesma foi “beneficiada”, pela lei. Ela embalou a infância do menino contando “causos” do tempo do “cativeiro”, alimentando sua grande curiosidade por sua ancestralidade;
  • Curimba – é o nome que se dá ao grupo de pessoas que se relacionam com as práticas musicais dentro dos rituais dos cultos africanos no Rio de Janeiro. Para isso podem-se utilizar diversos instrumentos, mas os mais comuns são os atabaques, o agogô e a própria voz. Foi dada a sua mãe o fato de alimentar o imaginário do garoto sobre as histórias do terreiro, feita no candomblé, ela via isso como fator fundamental para que o menino Djalma de Oliveira Costa, se entendesse como preto;
  • Ganzá – é um instrumento musical de percussão utilizado no samba e outros ritmos brasileiros. É um tipo de chocalho, em formato cilíndrico, preenchido com areia, grãos de cereais ou pequenas contas. Outro ponto que fundamentou a construção do imaginário negro do menino Djalma, eram as rodas de samba nas esquinas da Rua Uruguai na Tijuca (local de nascimento do mesmo), observador, ficava admirando a sonoridade do ganzá, e como aquilo o remetia a uma ancestralidade que o garoto ainda buscava conhecer;
  • Catiço – é o termo usado para denominar as crianças agitadas, levadas. Uma clara referencia a uma das qualidades das entidades e/ou do orixá Exu (orixá mensageiro, que abre os caminhos). Apesar de residir na parte tida como o asfalto (o não morro), o garoto era assim chamado, pois circulava livremente pelos morros das adjacências;
  • Certeiro – qualidade de quem acerta com exatidão em determinado objetivo. O moleque Djalma tinha ótima fama em cumprir os biscates, picos e recados com zelo e responsabilidade;
  • Trapicheiro – trata-se do morro do Trapicheiro, como era conhecido anteriormente o morro do Salgueiro;
  • Kaô – saudação ao Orixá Xangô, o mesmo que “venho saudar o rei/pai”. Na construção sincrética do imaginário do menino, o Orixá da justiça tem vital importância;
  • Sabiá – o apelido Sabiá foi adquiriu jogando futebol. Apesar de ser magrinho e ter as pernas finas, era beque central e ninguém passava por ele. Fato que o técnico adversário, irritado gritou na beira do campo: ‘Mas não é possível que ninguém consiga passar por esse sabiá! Dá uma porrada nesse perna de sabiá”. Alcunha que o mesmo incorporou ao nome;
  • Batucajés – dança afro-brasileira, ao som de tambores, também chamada de batuque do Jarê na Bahia; pode-se também usar o pandeiro, a cuíca, o chocalho e a matraca como instrumentos;
  • “Gargalhada” becada – trata-se de Antenor Gargalhada, compositor, considerado um dos maiores sambistas da época de ouro da MPB, os anos 1930. Também era estimado batuqueiro e partideiro. Foi fundador da Escola de samba Azul e Branco, do morro do Salgueiro, da qual foi diretor de harmonia. 1936 o jovem Djalma Sabiá a pedido de sua avó, foi estagiar na sapataria dos irmãos italianos, ali mesmo na Tijuca. Local onde Antenor Gargalhada batia ponto, trajado impecavelmente, com a beca na estica (traje elegante), atrás de biscates e bicos. Onde invariavelmente começava a cantar suas composições que seduzia o jovem, que cunhou: “Ele era tudo o que eu queria ser”.
  • “Junta e disjunta” – refere-se aos eventos que antecederam a fundação dos Acadêmicos do Salgueiro, em 5 de março de 1953. Sabiá teve participação importante nas diversas negociações que tentavam unir as escolas do Morro do Salgueiro. Na data dita a cima obteve-se a fusão de duas escolas que coexistiam no morro: a Azul e Branco e a Depois Eu Digo, e que posteriormente também absorveu a Unidos do Salgueiro. Djalma sabiá junto com Geraldo Babão tinham plena consciência que cada uma delas possuía as suas características e valor, mas individualmente não tinham estrutura para serem competitivas no concurso das escolas de samba. E negociavam bravamente no convencimento dos lideres das mesmas para união;
  • Paulo, Silas e Cartola – Paulo da Portela, Silas de Oliveira e Cartola, foram bambas das três escolas que dominavam o cenário do concurso dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro na época – Portela, Império Serrano e Mangueira -. O principal motivo para as pequenas escolas do morro serem unificadas em torno da mesma bandeira, era para as mesmas serem competitivas frente às três dominantes. Fato que ocorreu, pois em seu primeiro desfile, em 1954, o Salgueiro já mostrou a que veio e obteve o 3º lugar;
  • “Brasil, fonte das artes”, “Navio negreiro”, “Debret”, “Valongo” e “Chico Rei” – Como compositor, papel que assumiu com maior protagonismo dentro da escola, assinou belíssimas obras e em seis oportunidades, venceu o concurso da escola e embalou os desfiles. É o autor dos sambas de 1956 (“Brasil, fonte das artes”), 1957 (“Navio negreiro”), 1958 (“Homenagem aos fuzileiros navais”), 1959 (“Debret – Viagem pitoresca e histórica ao Brasil) e 1976 (“Valongo”); além do clássico de 1964 (“Chico Rei”), o que o conferiu maior notoriedade após ser gravado por Martinho da Vila, foi composto com Geraldo Babão e Binha, e é tido como um dos maiores samba-enredo de todos os tempos. Embora não se reconhecesse como grande vocalista, Djalma Sabiá também defendeu o samba da escola durante os anos de 1956, 1957 e 1959;
  • “E por que não” –; Após as vitórias nas disputas de sambas e os poucos anos esbanjando os seus dotes vocais, o fundador salgueirense preferiu continuar apenas nos cargos administrativos e de diretoria. Foi o diretor de carnaval e harmonia do desfile de 1987. O enredo era “E porque não?” dos carnavalescos Renato Lage e Lilian Rabelo;
  • Griot. – é o indivíduo que na África Ocidental tem por vocação preservar e transmitir as histórias, conhecimentos, canções e mitos do seu povo. Existem griots músicos e griots contadores de histórias. No carnaval de 2009 do Acadêmico do Salgueiro, Mestre Djalma interpreta o papel de griot, na terceira alegoria, que remetia a ancestralidade africana do tambor, fato que o alegrou e emocionou bastante, e qual ele retornaria a representar no Abre alas da escola no desfile de 2014 que remetia a criação do mundo na tradição ioruba, reinando solenemente na avenida, onde foi coroado com premio SRZD de destaque daquele ano;
  • Aláàfín de Oyó – era um título do obá do antigo império de Oió, território localizado nos anos atuais na Nigéria. Na língua iorubá, a palavra obá significa rei ou imperador. Em seu ultimo desfile por sua escola de coração em 2019, Djalma Sabiá desfilou representando a majestade africana do quarto Aláàfín de Oyó – Xangô. Patrono espiritual da escola, e seu pai protetor. Neste mesmo ano ele recebeu o titulo de presidente de honra do GRES Acadêmico do Salgueiro, titulo a qual já exercia por mérito;
  • Orum – na mitologia ioruba, é o que se define como o céu ou o mundo espiritual, paralelo ao Aiye (mundo físico). Tudo que existe no Orum coexiste no Aiye através da dupla existência Orum-Aiye; O mestre Djalma Sabiá, até então ultimo fundador vivo do Salgueiro, faleceu no dia 09 de novembro de 2020 aos 95 anos, deixando de herança uma das principais instituições culturais do país. Assim o Rei Salgueirense, transcende ao paraíso negro, em sua derradeira busca pela ancestralidade.
  • Obás do reino – na linha de Xangô, os Obás são título honorífico do candomblé, reis ou ministros da região de Oyo, concedidos aos amigos e protetores do terreiro. O rei Sabiá reencontra no Orum vermelho e branco, admiráveis figuras, verdadeiros Obás do reino Salgueirense, eternos protetores do terreiro da academia do samba. Como Antenor Gargalhada, Geraldo Babão, Noel Rosa de Oliveira, Paula do Salgueiro, Jorge Calça Larga, Isabel Valença, Anescazinho do Salgueiro, Fernando Pamplona, Iracema Pinto, Almir Guineto, Mestre Louro e muitos outros que consagraram a africanidade da escola.

Referências Bibliográficas:
COSTA, Haroldo. Salgueiro: Academia do Samba. Rio de Janeiro: Record, 1984.
BRUNO, Leonardo. Explode, coração: histórias do Salgueiro. Rio de Janeiro: Verso Brasil Editora, 2013.
PAMPLONA, Fernando. O encarnado e o branco. Rio de Janeiro: Editora Nova Terra, 2013.
FARIA, Guilherme José Motta. O G.R.E.S Acadêmicos do Salgueiros e as representações do negro nos desfiles das escolas de samba da década de 1960. Tese de doutorado apresentada ao Instituto de Ciências Humanas e Filosofia da Universidade Federal Fluminense. Niterói, UFF, 2014.
SIQUEIRA, José Jorge. Entre Orfeu e Xangô: a emergência de uma nova consciência sobre a questão do negro no Brasil 1944/1968. Rio de Janeiro: Pallas, 2006.
FONSECA, Christian Gonçalves Vidal da. O Tambor que fala: Narrativas de Áfricas nos enredos carnavalescos do Rio de Janeiro (2003 a 2018). Dissertação (Mestrado) apresentada ao Centro de Ciências Humanas e da Educação, Programa de Pós Graduação em História da Universidade do Estado de Santa Catarina, 2019.

Outras Referências

  • Documentário – “O Sabiá do Samba”, de Beto Waite, Diego Tavares e Pedro Bálaco. Produzido e realizado pela CineTrupe, com co-produção do Mais Carnaval, 2019
  • Documentário – “Partideiros”, de Carlos Tourinho e Clóvis Scarpino. Embrafilme,1978
    -Matéria jornalística – Personalidade – Djalma Sabiá, Por Vitor Melo. Projeto Sal60, Realização GRES Acadêmicos do Salgueiro e Carnavalize. Disponível em https://sal60.com.br/sal60/2020/11/19/djalma-sabia/
    -Matéria jornalística – Djalma Sabiá e a revolução negra do Salgueiro, Por Bruno Ribeiro. Revista Opera; 20 de novembro 2020. Disponível em https://revistaopera.com.br/2020/11/20/djalma-sabia-e-a-revolucao-negra-do-salgueiro/
  • Matéria institucional – História – ANOS 50, OS PRIMEIROS DESFILES E O PRIMEIRO TÍTULO, GRES Acadêmicos do Salgueiro. Disponível em http://www.salgueiro.com.br/anos-50/
  • Matéria institucional – História – ANOS 60, ANOS DE OURO PARA O SALGUEIRO, GRES Acadêmicos do Salgueiro. Disponível em http://www.salgueiro.com.br/anos-60/

Anexos (sites)

  • Samba-Enredo Salgueiro 1956 – BRASIL, FONTE DAS ARTES, de Djalma Sabiá / Eden Silva (Caxiné) / Nilo Moreira. Disponível em https://www.letras.mus.br/sambas/958852/
  • Samba Enredo Salgueiro 1957 – NAVIO NEGREIRO, de Djalma Sabiá / Armando Régis. Disponível em https://www.letras.mus.br/salgueiro-rj/710530/
  • Samba Enredo Salgueiro 1958 – EXALTAÇÃO AOS FUZILEIROS NAVAIS, de Djalma Sabiá / Carivaldo Da Mota / Graciano Campos. Disponível em https://www.letras.mus.br/salgueiro-rj/710531/
  • Samba Enredo 1959 – DEBRET, VIAGEM PITORESCA E HISTÓRICA AO BRASIL, de Djalma Sabiá / Duduca. Disponível em https://www.letras.mus.br/salgueiro-rj/683000/
  • Samba Enredo Salgueiro 1964 – CHICO REI, de Djalma Sabiá / Binha / Geraldo Babão. Disponível em https://www.letras.mus.br/salgueiro-rj/683010/
  • Samba-Enredo Salgueiro 1976 – VALONGO, de Djalma Sabiá. Disponível em https://www.letras.mus.br/sambas/958872/

Regras do concurso de samba enredo:

– Os sambas poderão ser feitos solo ou em parceria de compositores;
– Cada compositor ou parceria poderá colocar em disputa quantos sambas quiser;
– É necessário envio do áudio com no mínimo duas passadas do samba, possuindo ou não instrumentos;
– O envio do samba em arquivo mp3, juntamente com a letra em word/bloco de notas deverá ser encaminhado para o e-mail: murilo_sousa@msn.com;
– Data limite para entrega dos sambas: 29 de Janeiro de 2021 (NOVA DATA), até as 23:59 hrs;
– Qualquer dúvida, entrar em contato no Instagram da escola @camaroesdospampas

Logo oficial do enredo:

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