Contando as obras e conquistas do Poeta do Povo, Sampario apresentará “A negra palavra – Solano Trindade” no Carnaval Virtual 2022

Presidida por Luiz Henrique, a águia altaneira de São Paulo apresentará em 2022 o enredo “A negra palavra – Solano Trindade”. A Sampario fará uma viagem pelas principais obras e conquistas do poeta do povo. Além de Luizinho, a Sampario é composta por Vinicius Marques como vice presidente, Izaias Junior como carnavalesco, Fernando Constâncio e Gleison Maurício como diretores de carnaval e Wendel Henrique como enredista. O desfile da escola terá 22 alas, 4 alegorias, 3 tripés e 1 casal de mestre sala e porta bandeira.

Confira a entrevista cedida pelo presidente, Luiz Henrique:

1- Como conheceu a LIESV e por que a escolheu?

Conheci em 2013 numa conversa com amigos do grupo “JIO”, onde numa resenha de fundar uma escola de samba em tom de brincadeira, nos apresentaram a LIESV

2- Qual a história da sua escola, como foi fundada, qual o motivo, quais as cores, símbolos nome?

Dentro dessa conversa citada na pergunta anterior resolvemos criar a Grêmio Escola de Samba Virtual Sampario, ela foi fundada dentro da Internet, então brinco que ela é uma escola do Brasil, mas como grande parte dos membros do JIO residiam em São Paulo e no Rio, por isso o nome SAMPARIO. As cores da escola são o azul e branco e o símbolo é a águia, símbolo e cores são em homenagem a Nenê de Vila Matilde

3- Qual será o enredo da sua escola e como ele será contado na passarela virtual (quantas alas, alegorias e demais elementos)?

Sampario trará para avenida o enredo “A negra palavra” Solano Trindade. Uma viagem da águia altaneira pelas principais obras e conquistas do poeta do povo.

A escola vem com 22 alas, 4 alegorias, 3 tripés e 1 Casal.

4- Como a equipe da sua escola foi montada e quem faz parte dela?

Nossa equipe vem caminhando junto desde nossa fundação, sempre há uma alternância de cargos, mas a gente sempre mantém as mesmas pessoas, pois temos um lema que é trabalhar com amigos, o dia que os amigos se afastarem, a Sampario para.

Vinicius Marques – Vice Presidente
Izaias Junior – Carnavalesco
Fernando Constâncio – Diretor de Carnaval
Gleison Maurício – Diretor de Carnaval
Wendel Henrique – Enredista

5- E o samba enredo, vai fazer eliminatórias de samba ou vai encomendar? Se for eliminatórias, quais as regras da disputa, pra onde os compositores devem mandar os sambas e etc

Vamos manter a linha de 2021 e apresentar um samba composto pelos membros da escola e convidados…

6- O que você e sua escola esperam do Carnaval Virtual 2022, tanto de vocês quanto das coirmãs?

2022 está sendo um ano estranho, como o Carnaval foi em abril, nós da Sampario só fomos focar no projeto de Carnaval agora, apesar de já ter enredo, sinopse e logo desde o início do ano, a gente deseja fazer um Carnaval melhor que o de 2021 e se consolidar de vez no grupo especial, e esperamos que nossas co-irmãs mantenham ou superem o grande espetáculo que fizeram em 2021, que foi dos grandes carnavais da história da LIESV…

Confira abaixo a logo e a sinopse do enredo da Sampario para o Carnaval Virtual 2022:

“A negra palavra – Solano Trindade”

Apresentação:

“A minha poesia continuará com o estilo do nosso
populário, buscando no negro o ritmo, no povo em geral
as reivindicações sociais e políticas e nas mulheres, em
particular, o amor. Deixem-me amar a tudo e a todos”
(Solano Trindade)
Seguindo o caminho da negritude, como ensinaram nossos ancestrais, nossa águia altaneira se põe a voar de volta a suas raízes africanas a fim de reencontrar a essência de sua negritude, nas “negras palavras” do poeta do povo, Solano Trindade.
O Grêmio Recreativo Escola de Samba Virtual Sampario, como um quilombo de cultura e resistência, adentra novamente a passarela do samba erguendo a
bandeira da negritude brasileira, como sempre fez em seus quase 10 anos de
existência Desta forma, fazendo jus a sua história, a águia azul e branca viaja entre as principais obras e conquistas de Solano Trindade para apresentar ao carnaval virtual e ao povo do samba de todo o Brasil seu legado de luta em prol da cultura afro-brasileira

Sinopse do Enredo

Setor 1 (setor de abertura): O negro canto de liberdade

Sou Negro

meus avós foram queimados
pelo Sol da África
minh’alma recebeu o batismo dos tambores
atabaques, gonguês e agogôs.
Contaram-me que meus avós
vieram de Luanda
como mercadoria de baixo preço
plantaram cana pro senhor do engenho novo
e fundaram o primeiro Maracatu
[…]
(Sou negro – à Dione silva, Solano Trindade)
Eu sou o poeta Negro. Entro em cena. Trago em minhas obras e em minhas
palavras a força e a ancestralidade de meu povo. Trago a resistência de
Palmares, do quilombo de zumbi. Trago a sabedoria e a inteligência daqueles
que cruzaram o mar. Eu sou o poeta Popular, falo por meus irmãos de pele
escura, esquecidos por esse Brasil de desigualdade. E assim, em poesia
visito meu povo de pele preta, que bate seu atabaque a fim de manifestar sua
fé, seus cantos, suas danças, mas que também esse mesmo atabaque que
lamenta, chora e demonstra sua indignação contra todo o preconceito e a
desarmonia social.
Me chamo Francisco Solano Trindade. De nome Solano como o forte vento
que cruza o continente Africano. Vento que leva para longe tudo aquilo que
se coloca em seu caminho, e espalha para todo o mundo. Jogo minhas
palavras ao vento, para que possam se espalhar por todos os cantos deste
país meus ideais de luta e liberdade. Liberdade no sentido literal e figurado.

Setor 2: O menino do Recife

[…]
Recife
maracatu
com Rei e Rainha
mexendo com o corpo
e alma da gente
Recife
Xangô da Baiana
na praia do Pina
para “seu” Exu
[…]
Recife
frevo
serenata
melhor carnaval do mundo
melhor cidade da terra
melhor cantinho do céu
pra não perder a saudade
(Canção à minha cidade – À Maria Margarida, Solano Trindade)
Minha jornada se inicia em Recife. Jornada de luta e de vida, uma tão
indissociável da outra, de tanto que se cruzam, descruzam e entrecruzam. Se
incia em uma Recife de meu pai sapateiro e de minha mãe quituteira, onde
negro não vive, apenas sobrevive, como parte do retrato de um Brasil onde
aqueles de pele não branca são parte dos indesejados da sociedade.
Contudo, também é a Recife do frevo, do maracatu, do caboclinho, do
coco-de-roda, da ciranda e do afoxé. Uma Recife de essência negra e
cabocla, a essência do populário, que se manteve como pilar de toda minha
jornada.
E em minha jornada busquei fazer com que minhas negras palavras, como se
fossem o toque de um tambor ou um cortejo de maracatu, se espalhasse por esse Brasil, e também pelo mundo, assim como a dança, o folclore e a
cultura de nossa gente preta e brasileira.

Setor 3: Poeta pernambucano, ativista brasileiro

A minha alma nasceu africana
Aprendi a amar com as águas do rio
Compus meus poemas com o povo na rua
Com o povo na rua cantei e dancei…
[…]
(Viva a rapaziada da canela suja, Solano Trindade)
Em minha passagem por esse Brasil, me fiz presente onde se fez necessária
a minha luta. Onde não pude estar deixei a cargo de meus irmãos de luta
compartilharem meus ideais de cultura e contra opressão, como minha
mulher Margarida Trindade, e meu companheiros Édson Carneiro, Haroldo
Costa, Abdias do Nascimento e demais negros em movimento.
Enquanto estive por aí, lutei para dar voz e reconhecimento ao nosso povo, e
notáveis foram nossos feitos, conquistas e batalhas em prol da cultura e do
bem viver, como o I e II Congresso Afro-Brasileiro, a Frente Negra
Pernambucana, o Centro Cultural Afro-Brasileiro, o Teatro Popular do Negro,
Grupo de Arte Popular de Pelotas, Teatro Folclórico Brasileiro, e o Comitê
Democrático Afro-Brasileiro.
Mas talvez fora Embu, dentre os lugares onde fixei morada, onde fiz minhas
maiores contribuições para a cultura e arte. Por lá ficaram sementes, parte de
minha vida, de minhas produções e de minha família, que formaram raízes e
se mantêm vivas até hoje.

Setor 4: Voz ao povo preto… a poética de re-existência negra

Nas manhãs de sol
O trabalhador
Sai pra trabalhar,
Nas manhãs chuvosas
O trabalhador
Sai pra trabalhar
É a natureza
E o trabalhador
Sempre a trabalhar
Que constrói o mundo
Que constrói a vida
Sempre a trabalhar
[…]
(Amanhã será melhor, Solano Trindade)
Contudo, acredito que minhas palavras tiveram papel importante para
denunciar as mazelas que acometiam (e ainda acometem) meu povo. Como
a luta por liberdade, daqueles que continuam socialmente escravizados, e do
direito do trabalhador. A luta contra a fome e a miséria que assola milhares
de brasileiros, em sua maioria negros, esquecidos nas periferias, e as
margens da sociedade. E aquela que talvez tenha sido a maior das lutas, a
luta pela arte, negritude e educação.

Como meu legado para nosso povo, que ainda sofre e carrega consigo a
marca do preconceito deste país, deixo as sementes para que se plante um
Brasil e um amanhã melhor. Que minha obra fique para a eternidade, de
forma que se façam ouvidas as minhas palavras por todos aqueles que ainda
se encontram escravizados. Para que se construa uma luta por emancipação,
e que seja o ponto de partida do diálogo para uma sociedade justa e
igualitária. Para que seja viva a cultura afro-brasileira, e para que seja possível re-existir, indo muito além de apenas resistir, para que nos façamos presentes. E para que jamais esqueçamos que a luta só começou.
Deixo a cena, mas não deixo vazio este palco. Saio para que este chão se
transforme em passarela, por onde possam desfilar minhas “negras
palavras”, bordadas em azul e branco no pavilhão da águia guerreira. Parto
para a eternidade, com a esperança de dias melhores. Parto para onde
encontram-se ancestralizados os grandes imortais que lutaram por nossa
negritude.

Referências
GREGÓRIO, M. C. Solano Trindade: Raça e classe, poesia e teatro na trajetória de um afro-brasileiro (1930 – 1960) . Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal do Rio de Janeiro. 2005.
REIS, Z.C. Apresentação, in TRINDADE, Solano. Poemas Antológicos de Solano
Trindade. 2a edição. São Paulo. Editora Nova Alexandria, 2011
TRINDADE, Solano. Poemas Antológicos de Solano Trindade. 2a edição. São
Paulo. Editora Nova Alexandria, 2011

Autor do enredo: Wendel Henrique e Eric Augusto

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