A Campeã voltou! Maior campeã do Carnaval Virtual, Imperatriz Paulista, retorna à ativa após 4 anos afastada em busca de mais um título.

O coro dos integrantes da alvinegra é uníssono: A CAMPEÃ VOLTOU! Após 4 anos afastada sem desfilar, a maior campeã do Carnaval Virtual com 3 títulos (empatada com a Cupincha de Campo Grande) – 2005, 2007 e 2009 – retorna à LIESV com algumas renovações e grande parte da equipe vitoriosa da década passada. O enredo “ÉS TUPI DO BRASIL – DO SONHO DE CLÉCIO A UM PAÍS DE CARNE E OSSO” irá contar a obra do artista Clécio Penedo, que reatualizou a antropofagia modernista dentro da temática de reapropriação da cultura contemporânea pelo índio. Serão 16 alas e quatro alegorias.

Confira a entrevista cedida pelo diretor de carnaval, Theo Valter:

1- Como conheceu a LIESV e por que a escolheu?

O Presidente Luis Butti conheceu a LIESV nós primórdios dela, fazendo inclusive parte do júri do primeiro desfile em 2003.

2- Qual a história da sua escola, como foi fundada, qual o motivo, quais as cores, símbolos nome?

A IP foi fundada em 25 de janeiro de 2004 fruto da paixão do seu fundador, Luis Butti, por Carnaval. Como bom corinthiano as cores são preto e branco. O símbolo é uma coroa.

3- Qual será o enredo da sua escola e como ele será contado na passarela virtual (quantas alas, alegorias e demais elementos)?

O enredo “ÉS TUPI DO BRASIL – DO SONHO DE CLÉCIO A UM PAÍS DE CARNE E OSSO” irá contar a obra do artista Clécio Penedo, que reatualizou a antropofagia modernista dentro da temática de reapropriação da cultura contemporânea pelo índio. Serão 16 alas e quatro alegorias.

4- Como a equipe da sua escola foi montada e quem faz parte dela?

Além do Presidente Luís Butti fazem parte da equipe o Carnavalesco Murilo Duarte, a historiadora Jasmin Molina, autora do enredo, seu irmão gêmeo Jason Molina, compositor do samba de 2020 da coirmã Falcões da Serra, que irá contribuir na parte musical, eu, Theo Valter Knetig, e o Thiago Morganti, que estamos auxiliando a escola e o Butti em tudo que for necessário.

5- E o samba enredo, vai fazer eliminatórias de samba ou vai encomendar? Se for eliminatórias, quais as regras da disputa, pra onde os compositores devem mandar os sambas e etc

Será encomendado.

6- O que você e sua escola esperam do Carnaval Virtual 2021, tanto de vocês quanto das coirmãs?

Só temos uma coisa pra dizer: A CAMPEÃ VOLTOU.

Confira abaixo a logo e a sinopse do enredo da Imperatriz Paulista para o Carnaval Virtual 2021:

“ÉS TUPI DO BRASIL – DO SONHO DE CLÉCIO A UM PAÍS DE CARNE E OSSO”

JUSTIFICATIVA

O ‘canibalismo’ como marca da cultura brasileira, devorando tudo e fazendo surgir algo novo, com as nossas cores, já esteve presente algumas vezes no carnaval brasileiro. Sua mais célebre manifestação foi o “Tupinicópolis” de Fernando Pinto, onde o mundo contemporâneo se transforma numa metrópole indígena, com seus produtos personalizados e shoppings.

Fernando Pinto certamente se inspirou no mundo das artes brasileiras para realizar suas ideias. Um dos artistas mais importantes nesse contexto foi Clécio Penedo, que reatualizou a antropofagia modernista dentro desta temática de reapropriação da cultura contemporânea pelo índio. André Faria Couto explica como Clécio faz parte dessa tradição:

“Na primeira metade do século XX coube ao Modernismo, fascinado pelas lendas da mata brasileira, recolocar com força o universo indígena no cenário de nossas artes, como atestam obras do porte de Macunaíma, de Mário de Andrade; Cobra Norato, de Raul Bopp; e Martim Cererê, de Cassiano Ricardo. Dessa vez, porém, os significados que envolviam a representação do indígena seria motivo de disputa entre as duas correntes antagônicas em que se dividiu o movimento modernista. De um lado, o viés politicamente conservador do movimento Verde-Amarelo, que buscava identificar nos tupis o elemento fundador da nacionalidade brasileira. No pólo oposto, os integrantes do movimento Pau-Brasil, que ironizavam a busca de uma suposta pureza de origem para os brasileiros, levando Oswald de Andrade a resumir a questão através de uma nova versão para o velho dilema: Tupi or not tupi. Mordaz, Oswald acrescentava ainda que era na antropofagia ritual dos tupis, no hábito desses índios de comer a carne de seus adversários vencidos na guerra, que se deveria identificar o elemento formador e definidor da nação brasileira. A identidade do Brasil, diz ele, não deveria ser procurada numa imaginária e improvável pureza étnica, e sim na contínua “deglutição” de todas as influências que nos chegam do exterior, e da qual fazemos uma síntese culturalmente rica e original. (…) Evidentemente, é a partir dessa interpretação antropofágica da cultura e da sociedade brasileiras que Clécio Penedo se utiliza da figura do indígena. Sua obra retoma e reatualiza essa perspectiva ao procurar dar conta do cruel, avassalador e irreversível processo de integração nacional que o artista assistiu consolidar-se no país. Vivia-se então a década de 1970 e é preciso que se perceba a obra de Clécio no que ela tem de documento vivo e inquieto desse momento crucial da história brasileira, aquele em que o país viu se abrir, finalmente, a última etapa de seu longo e doloroso processo de integração territorial. Processo esse que terminou como começou: agredindo os povos indígenas e tomando as suas terras.”

Segundo conta o artista, em uma determinada noite de sonhos, um índio chamado Urubatã apareceu e lhe pediu: “Pare tudo que você está fazendo e vai defender o meu povo”. E foi isso que Clécio fez – a partir de sua obra, denunciou o massacre da cultura indígena e a violência do processo de exploração a que foi submetido o índio, de caráter autoritário e genocida.

Num país que teima em esquecer o seu passado, relembrar a arte contestadora que duelou com os anos de chumbo da ditadura é fundamental.

SINOPSE

Raoni not is mais aquele
Jary is name de índio
Kayapó is not titica não
If theu are smiling again… KILL HIM

(És Tupi do Brasil, de Clécio Penedo e Bianco Marques)

Urubatã is name de índio.

Somos frutos de sonhos e pesadelos, de uma terra cujo nome vem do vermelho do sangue – e ainda dizem que essa nossa vermilhidão vem do Pau Brasil. Ha Ha Ha.

Fomos catequizados, escravizados e destronados. E agora querem a nossa integração.

Ou será entregação?

Integration ou Entregation?

Por isso eu peço, artista, que me ajude:

“Pare tudo que você está fazendo e vai defender o meu povo”.

Sim, porque a arte é a única forma de acabar com essa campanha, com essa americanização da nossa cultura.

Sempre fomos canibais, mas agora querem que sejamos consumidos.

Querem transformar a nossa AMAzônia em LOVEzônia.

Eles chegaram com seus lixos culturais, com suas musas aloiradas, com seus objetos inúteis com seus cowboys enlatados, e querem mudar tudo.

A banana virou salsicha.

O índio usa a águia careca americana no cocar.

Índio virou garoto propaganda de coca-cola e de fusca, conforme escrito na ‘cartilhada’:

o bebê bobinho bebia a vida na bica
a cola da coca vedou a boca da bica
o bebe babando bebe a coca calado

o boi bufou na floresta
vovô fugiu do fogo
o bife é do fusca o bofe é do vovô

Raoni not is mais aquele – aparece nas capas de revista e anda no meio deles.

E é por isso que temos de retomar o controle… e devorá-los!

A maior subversão só quem pode fazer é a arte. Por isso, nos apropriaremos da cultura deles. O índio vai estar nas telas de Picasso, entre ícones e gestos. Vai penetrar os quadros de Miró. Vai tocar o dedo de Deus na Capela Cistina.

E fazer seu ritual canibal em uma Ceia Santa!

Comei-vos uns aos outros!

RESUMO DO DESFILE

O desfile inicia com o índio Urubatã pedindo socorro e denunciando o massacre do índio no brasil – a chegada do colonizador e sua tentativa de catequizar e escravizar o nativo.

Depois, vemos a chegada da cultura invasora – primeiramente, a chegada do lixo cultural estrangeiro, a partir de símbolos da cultura americana dos anos 60 e 70, e sua ligação com os generais da ditadura.

O terceiro momento é a campanha publicitária – Índio sendo usado para vender esse lixo, sempre destacando a diferença entre o “Cru” indígena e o “Cozido” estrangeiro – o choque cultural, com destaque na utilização midiática do índio Raoni.

Por fim, a redenção pela arte – o Índio volta a seu papel ‘canibal’, devorando e se apropriando da cultura branca a partir da arte, aparecendo junto a telas famosa, terminando com um Santa Ceia Canibal.

ORGANOGRAMA

Comissão de Frente c/ Tripé – Pajelança contra o mal
Casal 1 – Satanás ou Tio Sam?
Ala 1 – Pau (no) Brasil
Abre Alas – A invasão estrangeira
Ala 2 – Catequizados
Ala 3 – O Jogo do Poder
Rainha de Bateria – Marilyn Monroe
Ala 4 – Bateria – Submarino Amarelo
Ala 5 – Faroeste cabloco
Ala 6 – Dor e dólar
Carro 2 – LOVEzônia
Ala 7 Baianas – Yes, nós temos… Salsichas?
Ala 8 – Wolksboi (O boy e o boi)
Ala 9 – Mamando coca-cola
Casal 2 – A liberdade e a estátua
Ala 10 – Cacique América
Ala 11 – Mickey indígena
Ala 12 – Tempos modernos no Projeto Jari
Carro 3 – “És Tupi do” Brasil
Ala 13 – As cores do artista
Ala 14 – A jaguatirica de Miró
Destaque de chão – Orra, Vá civilizar sua mãe
Ala 15 – O índio cubista
Ala 16 – Tocando o dedo de Deus
Carro 4 – Santa Ceia Canibal
Velha Guarda – A redenção pela arte

BIBLIOGRAFIA

. BARBERO, Estela Pereira Batista. Artes Indígenas no Brasil – Trajetória de Contatos: História de Representações e Reconhecimentos. Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2010.

. Catálogo exposição CLÉCIO PENEDO, ÉS TUPI BRASIL, apresentada no Museu Nacional de Belas Artes.

. Entrevista com Ana Letícia Penedo em: https://www.youtube.com/watch?v=73wgHIFXpdE

. FARIA COUTO, André Luiz. A recorrência da temática indígena nas Artes Brasileiras.

. MARQUES, Bianco e PENEDO, Clécio. Nasce uma cidade, desfile cênico. Catálogo da exposição acessado em https://issuu.com/salapreta/docs/nasce2015

. PINTO, Fernando. Sinopse do enredo “Tupinicópolis”, Mocidade Independente de Padre Miguel 1987, acessado em http://www.galeriadosamba.com.br/escolas-de-samba/mocidade-independente-de-padre-miguel/1987/

Autor do enredo: Jasmim Molina e Theo Valter

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