Arrebatados por Momo homenageará Madureira em 2020

A Arrebatados por Momo fará sua estreia na LIESV em 2020. E a escola promete estrear com o pé direito fazendo uma homenagem ao bairro de Madureira. Confira as palavras do presidente Elidio Fernandes Júnior:

  1. “Nossa bandeira remete às nissas paixões foliãs (Império Serrano, Portela, Mangueira e União da Ilha)… e considerando que todas são escolas de samba tradicionais, dentre as 4 propostas, optamos uma uma que remetesse à tradição; à proposta mais tradicionalista. Foi uma escolha coletiva com a participação de 5 integrantes da nossa escola.
  2. Hummmm… não vou revelar muito…rsrs… esperem um desfile de matriz afro (mas não apenas…), passando pela constituição do Jongo na Serrinha, chegando ao Quilombo Madureira. Assim, desfilaremos com o enredo dividido em 3 setores e 16 alas. Traremos 2 casais de MS/PB e 3 alegorias. Já estamos trabalhando dando apoio ao nosso designer Mateus Alves.
  3. Queremos estrear com tudo. Temos sangue novo e a equipe está engajada com o projeto. Claro que será um ano de aprendizado. Mas nao queremos apenas participar. Já queremos mostrar que não é apenas diversão para nós… Somos competitivos e queremos honrar nossas referências do mundo do samba…
  4. Abriremos a disputa porque já há compositores parceiros que querem fortaçecer o GRESV Arrebatados por Momo… e acreditamos que podemos conseguir um belo hino para contar nossa primeira história… Vamos enviar a sinopse aos interessados que terão até o início de fevereiro para nos enviar suas obras para procedermos a escolha… Ainda divulgaremos o regulamento…
  5. O nosso público pode esperar uma agremiação forte e estruturada. Toda a nossa narrativa terá como mote uma homenagem à Tia Maria do Jongo, figura icônica do Jongo da Serrinha e da cultura de Madureira, berço do Samba (Portela e Império Serrano) e hoje reconhecida por ser base para cultura popular do charme e da CUFA, além do movimento LGBTQ+… Então, esperem um desfile das tradições aos dias de hoje.
    Um desfile com vigor, força, tradição e de valorização da cultura Popular.
  6. Nossa agremiação ensaiou sua estréia em 2015/16…mas só agora está indo além da ata de fundação. É chegada nossa hora. Vamos arrebatar a todos com nosso desfile… aguardem! Podem apostar suas fichas… “

Confira a logo, sinopse e ficha técnica da escola:

Título do Enredo 2020 *
Sou raiz, sou jongueira… Meu Quilombo é Madureira!

Sinopse do Enredo 2020

  1. Histórico do Enredo

Pisei na pedra, a pedra balanceou,
Levanta meu povo, cativeiro se acabou.
(Jongo da Serrinha)

É importante observar que os rituais de matiz africana não separam o profano do sagrado e a comunhão com o divino se dá, também, através do canto e da dança. Se as religiões cristãs necessitam de um templo para seus ritos, os bantu e outros povos de África terão na própria natureza seu local de encontro com as forças metafísicas.
Com a escravidão, as relações entre o homem e a natureza são alteradas. Num ambiente novo, sem a proteção da coletividade, com novas regras de condutas, suas práticas identitárias serão refeitas.
A origem bantu da maioria dos negros que foram trazidos como escravos, suprindo a demanda de mão-de-obra nas fazendas de café e cana-de-açúcar, influenciou diretamente a formação de nossa cultura. E nas festas dos santos católicos dos senhores, em fazendas afastadas, com o objetivo de romper com o tédio dos brancos, era permitido que os escravos dançassem o jongo, até como forma de promover certa calmaria na revolta e no sofrimento cotidianos. O Jongo não era dançado em data específica: poderia ser ao final da colheita do café, em homenagem a pessoa importante, ou nas grandes festas, geralmente religiosas, tais como São Sebastião, Nossa Senhora do Rosário, São José, São Jorge, 13 de maio e festas juninas, em pagamento de promessa do santo de devoção… Sempre situado num panorama adverso, o negro brasileiro guardou um traço fundamental das culturas africanas, o que lhe garantiu a possibilidade de reconstruir novos laços identitáros e de solidariedade: a relação coletiva com a terra: para os povos de África, a relação entre a o homem e a terra se dá de modo coletivo. Na diáspora a posse da terra é vedada, mas os cativos constroem, tomam posse e defendem o terreiro, espaço de chão batido em frente às senzalas, onde se canta e dança. Mas, aquela escravidão não durou para sempre, e o Jongo, forte como só ele, seguiu vivo nos redutos de resistência cultural.
O jongo, esta dança dos ancestrais, dos pretos-velhos, era praticada por poetas-feiticeiros que se desafiavam para disputar a sabedoria entoando suas Porfias. Fatos do passado… Contam, até, que aqueles que tem “vista forte”, são capazes de enxergar um falecido mestre jongueiro se aproximar das rodas para lembrar os tempos em que dançava o caxambu…
E num olhar de encantaria e encantamentos tudo se constrói… A terra é lugar da celebração entre homens, ancestrais e natureza…
No terreiro de terra batida, já lá pela meia noite, uma grande fogueira é acesa pela negra mais idosa e responsável pelo jongo da comunidade. O estalar da madeira promove fagulhas que conforme vão subindo misturam-se às estrelas do céu que guarda e acolhe aquele ritual. Com as bênçãos dos tambores sagrados e a licença dos Pretos-Velhos, são iniciados os improvisos. Ecoa o primeiro verso, ponto de abertura…e vem uma resposta… no toque dos tambores, ritmado, vem acompanhado pelo bater de mão, ampliando o som como uma oração ao passado-presente. O primeiro casal se dirige ao centro da roda que se forma e dá início à umbigada. Os pés descalços conectam cada jongueiro com a terra vida, de onde vieram, para onde retornarão, num eterno ritual de louvação, embalado por seus Pontos. Os casais vão se revezando: “Bota fora ioiô…”, ou então, “Dá uma beirada, cumpade!”. A pisada forte com pé direito, “Tabiá”, é típica do povo de Madureira… Para alegrar a todos e divertir a comunidade, vem a Visaria.O Cachimbo, a cachaça, café ou caldo de cana, a batata doce, o milho e o amendoim… Olfato, visão, tato, paladar, audição…uma sinestesia inebriante toma conta de todos embalados pelos pontos a noite inteira… Na intenção de enfeitiçar outro jongueiro, o Encante era levando para a roda…Até que todos cantam para o amanhecer, com o astro Sol que chega para a todos saudar…Era o jongo do Encerramento.
Ao longo do século 20, as comunidades jongueiras estiveram envolvidas em complexos e dinâmicos processos socioculturais que condicionaram diferenças e especificidades. No Sudeste brasileiro, em muitas das comunidades com descendentes de escravos, o jongo desapareceu, tanto pela dispersão de seus praticantes em consequência da migração e dos processos de urbanização, como pelo obscurecimento destas práticas por outras expressões de maior apelo junto ao crescente mercado de bens simbólicos. Ou também devido à vergonha motivada pelo preconceito, expresso pelos segmentos da sociedade abrangente, relativo às práticas culturais afrobrasileiras. Em outras comunidades, no entanto, o jongo tem sido um fator de integração, construção de identidades e reafirmação de valores comuns – estratégias em que a memória e a criatividade são fundamentais. Diante das desigualdades econômicas, da exclusão social e da invisibilidade deste fazer cultural junto aos demais segmentos da sociedade brasileira, as comunidades jongueiras têm desenvolvido soluções próprias, alternativas para a preservação de seus saberes e expressões.
Toda essa raiz indetitária, com profunda carga ancestral acaba encontrando em alguns morros cariocas novos redutos, onde as famílias negras continuavam a cantar e dançar o jongo. E aí, afastada da parte central da cidade lá pelos idos da primeira metade do século passado, como se fosse uma roça afastada, a Serrinha, em Madureira, surge como a terra batida fértil onde se preserva essa matriz da cultura afro-brasileita, o Jongo.
O cotidiano dessa gente de Madureira, com cachoeiras, bambuzais, animais, candeeiros, ferros em brasa aproximava os quandos da história pela lembrança dos ambientes das fazendas de outrora. Novas famílias foram-se constituindo e dando continuidade a este ambiente de resistência Cultural. As relações que os jongueiros estabeleceram com os setores dominantes da sociedade, com as autoridades civis e os agentes religiosos variaram ao longo do tempo e do espaço, dando lugar a histórias locais únicas. Histórias de continuidade quase secreta ao longo de décadas, como a do círculo de familiares, vizinhos e amigos que frequentavam a casa de Maria Joana Monteiro – a Vovó Maria Joana rezadeira –, no morro carioca da Serrinha. Pouco visíveis para outros segmentos sociais além dos moradores dos arredores, os jongueiros do lugar foram ativos no processo de dar a conhecer sua dança e música em outros círculos, sob a forma de espetáculos. Mas com o passar do tempo, implacável, a sabedoria do Mestre Darcy e sua família plantou a semente que germina até hoje: o Jongo da Serrinha. Por outro lado, abandonar o divertimento herdado das gerações antecessoras e aderir a formas de expressão associadas à vida urbana moderna podem ter sido, em outros contextos, estratégias de proteção contra o estigma da escravidão.
Aclamado e reconhecido, o Jongo tem uma grande dama coroada por seu povo: Tia Maria do Jongo. Seu doce bailar ao ritmo dos tambores e do bater de mãos traduz uma imensa e rica herança cultural que acaba sendo um legado aos jovens que conviveram com sua demonstração de força e vitalidade. Filha de negros escravizados, vindos das bandas de Minas Gerais, quando criança, Maria de Lourdes não podia, por força da tradição, participar das rodas de jongo, mas viu seu florescer na serra dos sonhos dourados. Doce como seu bailar são seus ensinamentos plenos de afeto: a goma de amido de milho, a bainha de laçada, a experiência de viver com 13 irmãos, os bailes de seu pai, o contato com as pastorinhas, as cirandas cirandinhas…o nascimento do Reizinho de Madureira, glorioso império Serrano.
Hoje, a Casa do Jongo, nos pés da Serrinha, mantém viva a chama e é o nascedouro de novos jongueiros que carregarão, a cada bater de pé, a cada umbigada, a cada toque de tambor, a herança de nossa rainha Tia Maria do Jongo. E esta Casa faz parte do grande Quilombo Madureira, lugar de força, luta e resistência cultural da Negritude, onde diversas tribos se encontram…
Assim, em 2020, a Arrebatados por Momo se volta para sua comunidade para coroar nossa rainha redentora do Jongo da Serrinha. Porque?
Quando Tia Maria batia na mão, era o povo bantu chegando…
Quando Tia Maria batia o pé, era o negro escravizado jongando…
Quando Tia Maria rodava pegando em sua saia, era sua história brilhando…
Quando Tia Maria girava na roda de jongo, era sua ancestralidade voltando…
Quando um novo jongueiro entoa um ponto, é a herança de nossa rainha se propagando…

Salve o Jongo da Serrinha!
Salve Tia Maria do Jongo!
E vivas ao Quilombo Madureira!

  1. Obras de Referência
    ALCANTARA, Renato de. A tradição da narrativa no Jongo. Rio de Janeiro: UFRJ / Faculdade de Letras, 2008.
    JONGO DA SERRINHA, (s/d). “Pisei na Pedra”. In: jongodaserrinha.org/historia-do-jongo-no-brasil/ (Acesso em 19/07/2018)
    jongodaserrinha.org/historia-do-jongo-no-brasil/ (Acesso em 19/07/2019)
    museudapessoa.net/pt/conteúdo/historia/o-morro-tambem-foi-feito-de-jongo-44620 (Acesso em 18/07/2018)
    Dossiê IPHAN 5 – O Jongo do Sudeste. In: http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/PatImDos_jongo_m.pdf (Acesso em 12/09/2019)
  2. Justificativa do Enredo
    Assumir Tia Maria do Jongo como ponto de partida e de chegada do enredo do GRESV Arrebatados por Momo provocou alguns movimentos que serão estruturadores de nosso desfile para o carnaval 2020.
    Enquanto ponto de Partida, Tia Maria nos remete à sua raiz ancestral Bantu e todo o arcabouço cultural que chegou às nossas fazendas de café e cana-de-açúcar via negros escravizados. Dentre muitos: O Jongo. Das fazendas para as favelas cariocas, num novo movimento de resgate, reconstrução e ressignificação cultural a tradição jongueira ganha robustez e se consolida em algumas comunidades, como a da Serrinha, em Madureira. Comunidade onde nossa Tia Jongueira reinou com sua força simbólica, presente até hoje.
    Por isso e contando esta história, apresentamos o enredo Sou raiz, sou jongueira… Meu Quilombo é Madureira!, que se dividirá em 3 setores

SETOR 1: A Raiz Ancestral
Com a diáspora africana, recebemos vasto legado cultural. Que se consolida pelas terras das fazendas do Vale do Rio Paraíba do Sul.
SETOR 2: Uma vida de aprendizados
A convivência com seus pais e mestres jongueiros, além da herança ancestral, enriqueceu de experiências a vida de Tia Maria do Jongo.
SETOR 3: O Jongo da Serrinha e o Quilombo Madureira
Ganhando os palcos sem deixar de lado a história que representa, o Jongo da Serrinha se torna Patrimônio Cultural. E a Casa do Jongo faz parte do Quilombo Madureira – onde resiste o samba, o charme, a CUFA… – E nele coroamos nossa rainha, Tia Maria.

Presidente da Escola: Elidio Fernandes Junior

Carnavalesco: Mateus Alves

Intérprete: Beth Ramôa

Vice-Presidente: Elizabeth Dawes
Diretor de carnaval: Jefferson Coelho
Enredo: Elidio Fernandes Junior
Pesquisadores: Elidio Fernandes Junior e João Pedro Andrade Mourão

As regras do concurso serão divulgadas pela escola em breve

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