“Espelho” é o enredo da Casarão da Ilha para o Carnaval Virtual 2024

Nome da Escola:ESCOLA DE SAMBA CASARÃO DA ILHA
Data de Fundação:22/01/2020
Cidade/Estado:São Luís – Maranhão
Símbolo da Escola:A serpente encantada de São Luís
Cores da Escola:Rosa e Branco
Instagram da Escola:Casaraodailhaoficial
Nome do Presidente:Enoque Silva
Nome dos Carnavalescos:Marcos Paulo Teixeira e Italo Fonseca
Intérprete:A Definir
Outros Integrantes:Diretor Marketing – Rivanio Almeida
Diretor de Comunicação – Iury Mendes
Enredo:ESPELHO
Autor do Enredo:Marcos Paulo Teixeira

ESPELHO

/ê/

substantivo masculino

1. 1. superfície lisa e muito polida, capaz de refletir a luz e as imagens de objetos e pessoas.

2.   2. lâmina de vidro ou de cristal, metalizada na face posterior e cuja face anterior é us. para refletir a luz e as imagens de objetos e pessoas.

Neste momento, transcenderemos as barreiras do tempo até o ano 3000 a.C., imergindo-nos no esplendor da Idade do Bronze. Estamos na Suméria, sob a luz matinal, presenciamos o surgimento de civilizações, templos que se erguem em direção aos céus e mitos entrelaçando-se com a realidade. Entre as brumas do passado, percebemos nas mãos dos artesãos o cuidadoso movimento de modelar a areia, resultando na criação de um objeto intrigante: uma superfície refletora. Este objeto se torna um dos mais fascinantes feito pela humanidade.

Estamos testemunhando os primeiros espelhos sendo confeccionados a partir de obsidiana, juntamente os astecas desenvolvera, a mesma técnica em sua era, um tipo de vidro vulcânico natural. Esses objetos proporcionam a oportunidade de “nos ver como os outros nos veem”. Podemos utilizá-los para antever o futuro, revisitar eventos passados e buscar a verdade. Além disso, iremos adotar o costume das futuras famílias abastadas, exibindo nossa prosperidade por meio de imponentes espelhos venezianos – e vamos temer pela má sorte caso algum deles se quebre.

Observe os egípcios, neste momento, estão empenhados na produção de espelhos com cobre polido. Enquanto isso, Veja os romanos, que estão inovando na técnica ao adotar espelhos de vidro. Esses artefatos se entrelaçarão com as crenças, mitos e lendas específicos de cada cultura. Na Grécia, feiticeiras da Tessália utilizarão espelhos “mágicos”, e no século 3 a.C., sacerdotisas registrarão suas previsões ao se cortarem com esses artefatos.

Os espelhos também serão empregados pelos specularii, uma ordem de sacerdotes que surgirá em breve na Roma clássica, alegando a capacidade de visualizar o passado, presente e futuro por meio desses objetos. Essa tradição, conhecida como “catoptromancia” ou “captromancia”, não se limitará aos gregos e romanos, estendendo-se por diferentes momentos históricos e lugares ao redor do mundo.

Agora, adentramos na China, onde a difundida crença de que os espelhos têm a capacidade de concentrar e capturar a energia dos astros, especialmente da Lua, é notável. Surpreendentemente, nos deparamos com um imperador cuja recente ascensão ao trono é atribuída ao poder dos espelhos. Qin Shi Huang, o primeiro imperador da dinastia Qin, afirma, por volta do ano 25 depois de Cristo, possuir um espelho que lhe permite vislumbrar as qualidades interiores das pessoas que contemplam o objeto.

Em muitas culturas que se desenvolveram, será aceita a ideia de que os espelhos não refletem apenas a aparência física, mas também a “natureza interior” ou a alma de uma pessoa. Essa crença originará diversas ideias, incluindo a de que vampiros e outros demônios não possuem reflexo no espelho. Além das diversas superstições que serão criadas, uma delas que o espelho atrai raios.

O mito de Narciso está frequentemente relacionado ao conceito de narcisismo, que é o amor excessivo por si mesmo. A história de Narciso tem sido contada e recontada em várias formas ao longo dos séculos, seja em obras de arte, literatura ou música. Os reflexos de si mesmo sempre foram e continuarão sendo uma fonte infindável de fascínio para a humanidade.

Regressando ao Egito. Os espelhos são agora o principal objetos de cultos. Eles vão estar intimamente associados à deusa Hathor, que era considerada a deusa da beleza, do amor e da maternidade. Estão presentes em rituais religiosos e funerários, e muitas vezes sendo mumificados e enterrados com os mortos para ajudá-los em sua jornada para o além. Eles vão possuir suas próprias características, uma forma arredondada e um cabo feito de material específico, alguns ricamente decorados. O cabo do espelho poderá ter várias formas, como um cetro em forma de talo de papiro, uma jovem nua que lembrara a deusa do amor, ou um cabo de obsidiana negra, cor da Ressurreição.

Nos hieróglifos, a palavra “espelho” designava a cruz da vida: Ankh. Esotericamente, o espelho será instrumento do perpétuo rejuvenescimento, da manutenção da beleza. Esotericamente, da porta aquática e ígnea (associada a Hathor e a Hórus), que permitia a passagem ao invisível.

Agora estamos no ano de 1668, durante o reinado de Luís XIV, e nos encontramos no coração de um dos palácios mais grandiosos e opulentos do mundo. Alguns anos antes, este palácio foi inaugurado com grande pompa e circunstância, mas Luís XIV aspirava a algo ainda mais icônico para o local. E qual seria esse elemento? Nada menos que uma de suas maiores fascinações: espelhos.

Nesse ano, testemunhamos a conclusão da Galeria dos Espelhos, uma obra- prima arquitetônica que se tornou um dos destaques do palácio. A galeria é composta por 17 arcos majestosos, cada um revestido com espelhos que refletem a beleza interior do palácio e as 17 janelas que dão para o jardim. Cada arco abriga 21 espelhos, totalizando 357 espelhos que adornam este salão magnífico. Esta é a Galeria dos Espelhos, um testemunho do esplendor e da grandiosidade da era de Luís XIV.

E aqui, diante de nós, está Oxum, a mais bela das divindades, envolta em sua aura dourada. Com o espelho em mãos, ela se contempla com graciosidade, adornada por joias, perfumes e roupas que brilham como o sol nas águas que ela governa. Oxum, a dona das águas doces, mergulha nelas, refrescando-se enquanto cuida com amor da mãe da vida.

Mas Oxum é mais do que a própria beleza e doçura. Sua sabedoria e poder transcendem, revelados pelos mistérios do oráculo Ifá, aprendidos após seduzir Exu, o mensageiro dos orixás. E é através desse espelho, seu confidente mágico, que ela enxerga além das aparências, desvendando a verdadeira essência das pessoas e o espelho torna-se não apenas uma ferramenta, mas um escudo contra inveja, ciúmes e mal, refletindo e dissipando tais forças sombrias.

Contemple agora as mulheres israelitas, em um ato de generosidade que vai ecoar por eras. Elas doam voluntariamente seus espelhos de bronze, mais do que meros instrumentos de vaidade, mas reflexos de uma beleza que transcende o físico. Esses espelhos, agora incorporados à bacia de bronze, simbolizam a verdade, a justiça divina e, acima de tudo, um sacrifício consciente em nome da santidade. Essa aliança vai além do material; é uma fusão de sacrifício e reverência, onde o ato de renunciar à vaidade se torna a própria essência da purificação espiritual.

Agora, conduzo-o às páginas da Bíblia, onde os espelhos assumem uma importância ainda maior. Os espelhos na Bíblia não são apenas superfícies refletoras, mas portadores de significados que transcendem o físico. A quebra de um espelho, é um sinal espiritual, uma ruptura na relação com o divino.

É fascinante notar como esse artefato conquistou um espaço especial também nas tramas dos contos de fadas, entrelaçando narrativas encantadoras e cheias de simbolismo. Em “Branca de Neve”, ecoa a famosa indagação da madrasta diante do espelho: “Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu?”. Já em “A Bela e a Fera”, o espelho mágico sob posse da Fera vai além de refletir imagens, simbolizando uma forma única de compreensão entre os personagens. A não-tradicional narrativa de “Alice Através do Espelho” nos transporta para um mundo peculiar e invertido, explorando as maravilhas do outro lado do reflexo.

Agora, adentremos uma viagem pelo universo científico, onde os espelhos transcendem sua função tradicional e nos revelam facetas extraordinárias de seu potencial. Na jornada ao espaço, somos levados ao ano de 1969, um marco histórico da exploração lunar. Na missão Apollo 11, astronautas depositaram um pequeno tesouro na superfície lunar: um espelho. Foi usado para medir distâncias cósmicas. Um raio laser, enviado da Terra, encontrava seu reflexo nesse espelho lunar, permitindo aos cientistas calcularem com precisão a distância entre a Terra e a Lua. Ainda mais impressionante, mergulhamos nas profundezas da matéria. Os espelhos, conhecidos por refletir luz, agora desafiam a física ao refletir átomos. Sob a influência de um campo magnético, os físicos criaram um espelho que trata átomos como partículas de luz. Este fenômeno, uma dança quântica, não apenas intriga, mas abre portas para aplicações inovadoras na computação quântica e na nanotecnologia.

E como se isso não bastasse, os engenheiros nos revelam outra surpreendente faceta dos espelhos: a capacidade de refletir não apenas luz, mas também som. A criação do espelho acústico, um dispositivo capaz de direcionar um som como um sussurro para uma pessoa específica, transcende os limites da percepção auditiva.

Assim, nesta jornada pelo conhecimento, os espelhos, ao longo dos séculos, não apenas refletiram luz e imagens, mas evoluíram para os “espelhos” modernos: redes sociais, telas eletrônicas e meios de comunicação. Esses refletem nossa imagem, histórias e interações, embora sejam também palcos de manipulações e mentiras. Em meio a essas dualidades, persistimos, triunfantes, na busca pela verdade e autenticidade.

E deixamos aqui a frase que deu origem a esse enredo, da minissérie presença de Anita, do livro de Mario Donato:

“Ele refletiu toda a cena de ciúmes, também a morte dos dois, já imaginou que fascinante conhecer o passado de um espelho? Entrar por dentro dele, como Alice.”

Pesquisa, desenvolvimento e texto: Marcos Paulo & Ítalo Fonseca

Regras do Concurso:Samba Encomendado.
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