No dia 27 de agosto de 2021, quem abrirá os desfiles do Grupo Especial do Carnaval Virtual será o G.R.E.S.V. Castelo. A agremiação de Batatais-SP, que é uma homenagem à escola real de mesmo nome da cidade, vai para seu terceiro carnaval na LIESV sendo o primeiro na elite. Após conquistar um 8º lugar em 2020, a escola trará talvez a lenda mais conhecida do folclore brasileiro: Saci. Confira a sinopse e os detalhes que a escola pretende trazer em seu carnaval.
Confira a entrevista cedida pelo presidente da escola, Danilo Santiago:
1- Como conheceu a LIESV e por que a escolheu?
Conheci através do amigo André Rangel que me apresentou o projeto do carnaval virtual Liesv. Hoje Andre preside a Ases Imperial madrinha da Castelo
2- Qual a história da sua escola, como foi fundada, qual o motivo, quais as cores, símbolos nome?
Grêmio recreativo e escola de samba virtual Castelo foi fundada em 04.03.2018, nas cores Rosa e Branco tanto seu nome como suas cores se inspiraram na escola de samba real de Batatais a Castelo. Nosso símbolo é o Castelo a roseira (homenagem a Rosas de ouro) e o beija flor (homenagem a Colibris e a Beija Flor de Nilopolis).
Em 2018 nosso primeiro desfile sobre os Manonas tínhamos a intenção de subir ao grupo A, mas devido a gravação amadora perdemos pontos valiosos e nosso sonho foi adiado, amargando um 8lugar entre 13 desfilantes.
Em 2019 numa pesquisa sobre a cor Rosa encontrei informações de que a energia que emanava de Oxum era Rosa, e Oxum se tornou nosso enredo nos abençoando com um vice campeonato por 0.1 e subindo ao acesso A
Em 2020 devido a votação do conselho houve a união dos grupos A e B e a Castelo novamente se via aprisionada ao grupo de acesso geral, sentindo que não estava no grupo A por seus méritos. Nosso enredo foi sobre o jubileu de ouro da escola real de Batatais Castelo. Nossa maior inspiração. Conquistamos o 8 lugar por 0.5 da campeã numa disputa acirrada entre quase 40 escolas virtuais. Conquistamos a última vaga para ocupar a elite do carnaval virtual o tao sonhado Grupo Especial.
Foram 3 anos de muito crescimento pessoal e como artista e como amante do carnaval.
3- Qual será o enredo da sua escola e como ele será contado na passarela virtual (quantas alas, alegorias e demais elementos)?
O Conto do Principe Saduci, e os Contos, Mitos e Lendas do nosso folclore – Saci
Esse será nosso enredo para 2021 estrear o grupo especial.
Traremos uma lenda do folclore e a mística história que envolve histórias, mitos, lendas e crenças sobre o ser místico Saci.
A escola se divide em 5 setores com 4 alegorias 1 quadripe e 27 alas.
4- Como a equipe da sua escola foi montada e quem faz parte dela?
A equipe é a mesma de 2020. Renovamos com o carnavalesco Marcos Teixeira, nosso diferencial e mudança será no carro que som. Por forças maiores como 2 escolas do especial estariam com o Bessa ( Castelo e a Floripa ). Preferimos não deixar pra última hora pra ver com qual escola Bessa fecharia…e tomamos a difícil decisão de encerrar com o interprete e apostar em um novo.
Esse ano para renovar nossa equipe traremos o Interprete atualmente da Barroca zona sul, Pixule.
5- E o samba enredo, vai fazer eliminatórias de samba ou vai encomendar? Se for eliminatórias, quais as regras da disputa, pra onde os compositores devem mandar os sambas e etc?
Sim faremos disputa de sambas.
Os interessados poderão enviar para o e-mail da escola gresvirtualcastelo@gmail.com ou pelo whatsapp 14 99129-9242, e poderão tirar suas dúvidas pelo meu whatts também, é só chamar lá no grupo liesv.
Enviar até o dia 20/04.
6- O que você e sua escola esperam do Carnaval Virtual 2021, tanto de vocês quanto das coirmãs?
Esperamos um otimo espetáculo.
A Castelo conquistou a última vaga do Grupo de acesso, pela matemática é a última das 20 escolas. Então nosso sonho sem duvida é ser campeão do grupo especial, mas nossa missão maior é ganhar posições para nos mantermos no grupo e lá ficarmos por muito tempo.
As co irmas desejamos sucesso e que todos possam competir na mais integra das dusputas por igual.
Confira abaixo a logo e a sinopse do enredo da Castelo para o Carnaval Virtual 2021:
“O conto do Príncipe Saduci,e os contos, mitos e lendas do nosso Folclore Saci“
Apresentação:
Nosso enredo mistura os Contos, Mitos e Lendas do folclore popular, para contar a história do ser místico SACI – O mais rico e conhecido personagem do Folclore Brasileiro.
Nossa mística história começa pelo conto de Emy Moraes para introduzir toda a dor, força e resistência do povo negro na luta contra a escravidão e liberdade. A história do Príncipe Saduci relatada de forma mitológica, cheia de segredos e mistérios será a nossa base para contar a trajetória dos mitos e lendas envolvendo o ser da Floresta, protetor das matas e das ervas que curam.
Sinopse:
Um conto de luta, sofrimento e dor…nos dá a base para contar o nosso enredo, traz a saga de um Príncipe negro que é aprisionado e escravizado junto com seu povo. Acorrentados, foram trazidos ao Brasil para trabalharem na exploração do Pau-Brasil no Século XVI. Pau-Brasil que era enviado a Europa por seu grande poder de tingimento em tecidos na cor vermelho como brasa, vermelho cor do sangue dos corpos machucados pelos açoites e brasa das ardências de suas dores.
O sofrimento do povo negro acendeu a chama de libertação em Saduci o Príncipe negro escravizado, já em terras brasileiras, vendo o dia a dia do seu povo cada vez mais abatido, sofrido, desumanizado, ele clamava por libertação e justiça. Saduci organizou os negros coordenando uma fuga em grupo, conseguiram fugir, e se refugiar nas matas.
Nas matas os negros se refugiavam e para que os Senhores coloniais não mandassem os Capitães do Mato para resgata-los as escravizadas mais velhas que permaneciam na senzala inventavam contos, mitos e lendas sobre um ser que adentrava as matas e fazia de lá sua morada, um ser sombrio e zombeteiro.
As histórias assustavam a todos e assim os escravizados fugitivos não eram pegos.
Na beira da mata eles recebiam as refeições que as escravizadas preparavam escondido dos seus Senhores, eles abanavam um pano vermelho como sinal e faziam fumaça com seus cachimbos.
Saduci por ser o líder e responsável pelas fugas, não ficou ileso, foi perseguido, capturado e foi castigado, apanhou tanto que uma das pernas foi arrancada de seu corpo, para servir de lição aos negros que tentassem uma nova fuga. O príncipe foi deixado na mata lançado ao próprio destino para morrer.
…Nas matas protegidas por Oxóssi, vivia o orixá Ossain – protetor das ervas medicinais – O curandeiro… Ossain cuidou de Saduci e seus ferimentos, mas não pode restituir a mutilação que ele havia sofrido, o tempo passou e Saduci foi se curando até ficar fortalecido, mas ele já não tinha mais a perna, e deste modo morreria se fosse apanhado pelos Capitães do mato novamente, lançado ao próprio destino Ossain sabia que Saduci não resistiria e ele não viveria mais como um ser humano.
No meio da mata trovejante surgiu com a luz de relâmpagos e trovões – Oyá, Yansã a Senhora dos ventos e das tempestades. Yansã vendo que um filho negro da cor estava sofrendo, e que não poderia mais viver como humano, magicamente Yansã docemente soprou e de seus lábios surgiu um redemoinho de vento que abraçando Saduci o elevou, o redemoinho era o presente de Yansã a ele, era a perna que Saduci não tinha. Com isto Saduci estava protegido na mata contra todos, conseguindo se locomover na velocidade do vento, mas preso nas matas para sempre se tornando um ser místico encantado. O ser místico encantado se torna o guardião das matas e protetor dos animais e pessoas que a habitam.
Os escravizados que vieram para o trabalho no ciclo da cana de açúcar resistiam à escravidão de todas as formas possiveis, entre elas estavam a quebra de equipamentos, trabalhar de forma lenta, queimar de mais ou de menos o açucar, provocar incendios na lavoura e, claro, a fuga. Essas atitudes nos remetem aos relatos das travessuras atribuídas ao Saci.
O Saci-Pererê que conhecemos hoje é uma junção de mitos e lendas dos três povos – branco, Índio e o Negro, no final do século XVIII ou começo do século XIX, que ao longo do tempo acrescentaram suas raízes na forma mística. Mas a figura atual foi incorporada pela cultura caipira e também pelos povos africanos escravizados.
Os índios Guarani do Sul do Brasil contavam a lenda do curumin Sacy-Perereg-çaa (cy = olho mal e perereg = saltitante), ser Elemental, protetor das matas, índios e animais. A influência dessa lenda no Sul foi tão grande que ela não ficou reclusa ao Brasil e espalhou-se pelos países vizinhos. Na Argentina, Uruguai e Paraguai, o saci-pererê é conhecido como yacy-yateré, diferentemente do saci, não é careca e possui cabelosloiros, usa um bastãodeouro como varinha mágica (que o torna invisível) e um chapéudepalha. Na origem da lenda do saci, ele era um protetor da floresta e, por isso, muitos consideram-no como um personagem derivado da lenda do curupira. Na medida em que sua história se espalhou, ela foi incorporando outros elementos que fazem parte do folclore de cada região e que podem ser oriundos de outras culturas.
No Norte ele é um menininho negro africano que perdeu a perna lutando capoeira e fuma um cachimbo, uma das mãos é furada de tanto carregar a brasa para acende-lo e a carapuça, um gorro vermelho que vem da Europa, era o Piléu romano que o escravizado ganhava quando recebia a liberdade, que se adaptou para o lendário Trasgo, um doende verde encantado que possuía a mesma carapuça dando-lhe poderes mágicos, como o de aparecer e desaparecer onde quiser.
Forte é a ligação com a floresta, este lado ecológico o aproxima tanto de sua matriz guarani quanto da africana, já que permite comparações com o orixá Ossain e o Exu, guardião das aldeias.
O Saci é “gerado” em gomos de Bambu Taquaruçu por 7 anos e o nascimento é em noites de tempestades já com os cachimbos acesos, pronto para fazer travessuras, trançar a crina dos cavalos, queimar a comida, esconder objetos, rodopiar e bailar no embalo do vento ou no redemoinho, assoviar dentre as matas, e assustar bicho e gente. Vivem por 77 anos e com a mesma magia do ser místico encantado, eles se transformam e repousam na forma de um cogumelo chamado orelha de pau em seu sono mais profundo, destilando o veneno adormecido em quem ousar desperta-lo para que seu ciclo seja reiniciado.
Vive solitário nas matas e existem pelo menos três tipos: Saci-Pererê que é o mais conhecido, o Saci Saçurá moreno e brincalhão, e o Saci-Trique, branco e de olhos vermelhos, mas ás vezes ele se transforma numa ave de nome Matiapere, que tem um assobio persistente, ora fino ora grave, que a gente nunca sabe de onde vem e risadas exageradas. Ele é tão ligeiro que forma um corrupio de vento ao andar.
Quem entra na mata em busca de ervas, deve pedir autorização ao Saci, já que ele é o Guardião das ervas sagradas e detém a sabedoria, tendo a função denominada farmacopeia. Quando um indivíduo considerado mau adentra na floresta em busca do quilombo, é o Saci quem defende. Impõe-se com bravura, faz o indivíduo se perder, esconde suas coisas e faz com que seja atacado por animais.
No senário de escravidão do Brasil colonial, as Amas-secas e os Pretos-velhos contam que todo escravizado fugido quando era capturado, passava por torturas, podendo até ser esquartejado, ficando sem uma perna para não fugir mais. Mistérios, mitos e lendas que rondam e assombram o ser da noite, o medo cria o travesso, o exu-mirim da madrugada, na escuridão das matas, escondem os segredos do Saci e da ave consagrada que leva o seu nome e que canta para espantar todo o mal da floresta.
Saci muitas das vezes foi associado a figura de um diabo, ou de um ladrão, ou de um ser extremamente mal, tudo no intuito de depreciar a imagem do negro, demonstrando os resquícios do racismo presente na sociedade brasileira. Algumas pessoas acabam associando o Saci a essa negatividade, totalmente desvirtuada da real construção da lenda. Não se deve mais ensinar que as crianças prendam o Saci numa garrafa. Isso remete a imagem de um cativeiro. Caçar e capturar o Saci é a ideia de possuir um escravizado, tornando-se Senhor e sendo o Saci obrigado a realizar seus desejos.
Ainda existe na história uma relação de domínio que revela uma cultura que carrega uma marca racial forte e elementos de captura e submissão característicos do período escravocrata.
Essas são heranças pesadas da escravidão, que perdurou por mais de três séculos no Brasil na lenda do nosso Saci.
PALAVRAS CHAVES:
– seiva do pau-brasil, sangue de suas feridas (referindo a cor vermelha)
– Principe negro
– Libertação
– Sombrio
– Mutilação
– Ossain
– Curandeiro
– Ervas medicinais
– Oyá (Yansã)
– Senhora dos ventos
– Filho negro
– Curumim
– Capoeira
– Bambu Taquaruçu
– sopro de yansa
Autores do enredo: Danilo Santiago e Marcus Teixeira