A Imperador Terra Nova, escola de São Bernardo do Campo – SP, trará um pedacinho doce da cultura do nordeste. Cantando os Doces do Nordeste, a agremiação promete um carnaval saboroso, de dar água na boca de quem assistir e de muita cultura e conhecimento.
Confira a entrevista cedida pelo presidente da escola, Diogo Gonçalves:
1- Como conheceu a LIESV e por que a escolheu?
Pesquisando desfiles e me encantei.
2- Qual a história da sua escola, como foi fundada, qual o motivo, quais as cores, símbolos nome?
A Imperador era um sonho meu e de um amigo para o carnaval real… ai ficamos sabendo da liesv… porém no ano de 2018 ele faleceu e dei continuidade nesse sonho.
3- Qual será o enredo da sua escola e como ele será contado na passarela virtual (quantas alas, alegorias e demais elementos)?
Doces do Nordeste, o lado doce da nossa formação.
4- Como a equipe da sua escola foi montada e quem faz parte dela?
Thiago Tartaro (Enredista) Danilo Santiago(Carnavalesco).
5- E o samba enredo, vai fazer eliminatórias de samba ou vai encomendar? Se for eliminatórias, quais as regras da disputa, pra onde os compositores devem mandar os sambas e etc?
Eliminatórias. As regras são que pode ser a capela ou instrumental , gravada por um ou mais integrantes. Enviar para d_io_go100@hotmail.com
PRAZO: ATÉ 27 DE ABRIL
6- O que você e sua escola esperam do Carnaval Virtual 2021, tanto de vocês quanto das coirmãs?
A espero que seja igual aos outros anos.. um Carnaval acirrado.
Confira abaixo a logo e a sinopse do enredo da Imperador Terra Nova para o Carnaval Virtual 2021:
“Doces do Nordeste na Terra Nova, o lado saboroso de nossa formação“
“A história do Nordeste é a história do açúcar e do negro.” É assim que em célebre obra, Gilberto Freyre retoma antigo escritor para falar da história do açúcar e dos doces no Nordeste brasileiro. Era grande a sanha lusa na época da colonização. Os sequestrados de África vinham para cá trabalhar a contragosto, sem sequer ter a possibilidade de plantar outra coisa senão a cana, matéria-prima do ouro comestível dos trópicos. Plantar cana, produzir açúcar, vender açúcar, sofrer pelo açúcar, morrer no Pelourinho por açúcar. Se alimentar de açúcar. O sangue que escorria se misturava à garapa. A dominação tinha um mórbido sabor doce do árabe “al-sukkar”. Não havia ali cultivo de muitos outros alimentos. Assim, criou-se o costume de comer muito doce. E como hoje, o povo recebe chicotada e devolve arte. Os ancestrais, trabalhadores da Casa Grande, em contrato outorgado com sinhás e influência de ingredientes indígenas, fizeram florescer nesse chão sofrido o maior caleidoscópio de sabores do país.
Contribuição das três raças, louros para as famílias ricas em seus nomes. Em Pernambuco germinou a maior variedade de bolos. O sociólogo diz que ali naqueles bolos é que encontramos a tal miscigenação das raças em estado comestível. Na farinha do reino da sinhá branca, bota coco querido da negra e depois finaliza com castanha de caju da matriarca indígena. Sai daí o maior de Pernambuco praqueles tempos: Bolo Souza Leão, comido e venerado até hoje. Os Noruegas, outros nobres pernambucanos, resolveram juntar coco, manteiga e açúcar. Foi no forno dessa Casa Grande que nasceu o tataravô do beijinho, que hoje é docinho, mas antes era bolinho. As famílias donas dos engenhos de Pernambuco dominavam as receitas e até hoje, se ao ir em Recife, você traz um bolo de rolo para a família, é resultado de muita história, de muito Brasil.
Mas não era só bolo. Explodiu de sabores doces o Nordeste, sabores estes que estão aí até hoje. Dá-lhe gema de ovo com açúcar. Mistura, adoça mais, dá forma redonda. Pra comer quindim a saúde pode ficar pra depois. E se ficar doente, nos tempos da Colônia se podia comprar rapadura era pra curar doença. Já comeu uma tapioquinha de manhã? Agradeça ao indígena e ao nordestino. Já tomou teu sorvetinho de fruta? Inovação da terrinha, a partir da tecnologia estrangeira. Onde já se viu, guardar alimento gelado? Pois é… Isso foi a sensação do Nordeste lá pelo séc XIX. E de colherada em colherada a gente se esbalda é no doce de jerimum da vó. Delícia.
Até pra comemorar gentes e datas o Nordeste fez doces. O Bruxo do Cosme Velho, que amava um doce de coco, dizia: “o doce é o princípio social do Rio de Janeiro”. O Rio importou esse princípio social da região da antiga capital. Teve bolo pra aviador que voou primeiro, pra libertação (libertação?) dos escravizados e pra maior revolta do norte: a cabanagem. Alimentação e sua dimensão política…
Hoje a Imperador Terra Nova festeja os doces do Nordeste. E qual a maior reunião de delícias que se pode encontrar deles? A Festa de São João, é claro! Pula fogueira, come uma cocada. Vai na barraca do beijo e depois mais um mugunzá (não é canjica, viu paulista?) e talvez uma canjica, que é doce de milho cozido, isso sim. Entre quadrilhas e caipiras, a festa está feita. Eu não disse lá em cima que a gente recebe chicote e devolve com festa? Para o bem e para o mal, somos assim. E viva o São João, viva o Carnaval, viva o Nordeste, viva os doces nordestinos!
Referência bibliográfica
FREYRE, Gilberto. Açúcar: Uma Sociologia do Doce. Global. São Paulo. 2005
Autor do enredo: Thiago Tártaro