A Rosa Vermelha está de volta à LIESV. Após alguns anos afastada, a escola está de volta no Grupo de Acesso B em 2019. A agremiação vem com o enredo “Ophidia” de autoria de Alexandre Garcia e Mateus da Rosa. A escola do presidente Alexandre Garcia confirmou Victor Farias como carnavalesco e Claudio Bardelli Junior como intérprete. Confira o recado da escola:
Inicialmente é um prazer após 3 anos, retornar à liga que nos deu a primeira oportunidade de mostrar o nosso trabalho. Sabemos do grande desafio que temos pela frente e esperamos fazer um desfile digno e que possa agradar a todos. A ideia do enredo veio de uma conversa informal com amigos e um deles falou “cobra comendo cobra” e na brincadeira pensamos “isso dá enredo hein” e quando fomos pesquisar sobre as serpentes vimos que realmente podia proporcionar um grande visual e um enredo rico e ao mesmo tempo com uma pitada de crítica. Podem esperar uma Rosa renovada em todos os sentidos mas ao mesmo tempo esperar um desfile grandioso. Com humildade e respeito estamos de volta.
Confira abaixo a sinopse na íntegra.
“Ophidia”
O ser humano em sua essência é observador e contemplador desde os seus primórdios imemoriáveis sobre este firmamento. O homem primitivo tinha por costume observar e automaticamente relacionar os acontecimentos e ações naturais a mitos sobre-humanos, bem como associar estas forças a animais e cultuá-los como a própria materialização viva das energias deificadas.
A serpente é naturalmente um animal fascinante que imprime medo, curiosidade e encantamento. É um ser repleto de mimetizações que espelham as próprias faces humanas dando base para mitos e credos por todo o mundo. Talvez a mais expressiva dessas mimetizações seja o próprio reino de Daomé que é em essência etimológica a terra de Dan – a serpente deificada das culturas Ewe-Fon. Contam as lendas que o palácio real de Daomé fora construído sobre o estômago da grande serpente encantada que guarda e guia a todos os filhos da terra, pois Dan é o grande elo que circunda e liga o globo terrestre ao mundo metafísico dos Voduns.
E assim diversas outras culturas humanas também tinham suas cosmovisões ligadas ao misticismo das serpentes como os egípcios, fenícios, hindus, hebreus e orientais. E mesmo com o apogeu de civilizações avançadas com os estudos das filosofias e ciências os mitos permaneceram vivos no cotidiano dos povos peninsulares greco-romanos na figura de Angícia, de Medusa e seus assombros chegando até os confins nórdicos com Jörmungandr o temível ser dos oceanos.
O medo e o encanto das serpentes também foi base para os mais terríveis contos fantasiosos de marinhas – não havia sequer um navegante medieval que não jurasse ter visto a grande serpente quimérica guardando o portal do abismo do Mar-oceano. E mesmo após atravessar as intempéries dos mares o fábulo olhar nas terras do além-mar mirava dos mais diversos terrores do imaginário europeu provocados pelo poder da oralidade ameríndia.
Chegando aqui os invasores deram conta que o paraíso mítico chamado de Novo Mundo era habitado pela grande serpente emplumada asteca Quetzacoatl e seu epíteto Mawé: Unhamangará. E quanto mais adentravam na mata mais ficavam horripilados ao ouvir os alaridos dos índios que contavam sobre as grandes cobras que descem do sol Zuruahá, da grande besta de fogo Boitatá ou do maligno rebojo que serpenteava as embarcações até afundá-las por completo nos rios e beiragens provocados pela grande Boiuna ou pela eterna luta das irmãs serpentes Caninana e Honorato.
O arquétipo da criatura dualista que transita dois mundos – o humano e o divino – deu asas a inspiração da criação do bastão símbolo da medicina. Conta o mito grego que Esculápio – sempre visto portando um bastão com uma serpente enrolada – era exímio na arte da cura podendo até trazer a vida daqueles que já partiram para o mundo dos mortos e sua fama se espalha por todo o território mediterrâneo irritando e enciumando profundamente os deuses que o condenam a viver nas estrelas formando a constelação de Ofiúco, popularizada como “o serpentário”.
O tempo revela que a beleza e os mistérios das serpentes também deram tônica aos estudos biológicos e clínicos durante toda história. São centenas de espécies e subespécies ativas – ora predadores letais, ora caça fácil no emaranhado de complexidades ecossistêmicas – que carregam consigo características únicas que nos revelam a força da natureza viva, evolutiva e equânime. O mito do animal que carrega o veneno e a panaceia – a cura para sua própria arma – é o grande símbolo dos estudos dos soros antiofídicos. E nestes estudos o Brasil é referência mundial desde o século XIX com os estudos do Instituto Butantan que é um verdadeiro jardim de pesquisas e conhecimentos biológicos.
A essência peçonhenta também se encarna na estereotipificação concreta das pessoas que levam pra suas vidas o lado soturno das serpentes e se transformam em verdadeiras cobras destilando seus venenos em todos os cantos, em todos os assuntos e redes sociais. São formados grupos e amizades que são verdadeiros ninhos de pequenas cobrinhas picando a torto e a direito criando verdadeiramente o esboço vivo do ditado “cobra comendo cobra”.
E não há quem nunca tenha visto seu inimigo na mais peçonhenta das cobras em qualquer aplicativo de mensagens instantâneas por ai. A era informatizada veio e deu voz de liberdade para uma legião de mentes destrutivas e sendo assim, o dito de “não se dar asas pras cobras” não se valeu, pois a violência, o veneno da vaidade humana é cada vez mais tóxico nas mídias e redes contemporâneas.
Há de se enxergar o além, há de se transmutar e se re-significar tal qual as serpentes que estão em constante mutação trocando de pele a cada verão nos ensinando que a vida é cheia de reviravoltas e que o ás da vida é saber viver em paz deixando pra trás a peçonha e o ledo veneno… muitas das vezes imaginário, mas sempre letal.
O samba da escola será encomendado
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