A vice-campeã do Grupo de Acesso do Carnaval Virtual 2021 trará neste ano o enredo “O Bloco do Eu Sozinho”. Depois de um grandiosíssimo desfile no ultimo carnaval, disputando nota a nota o título do Acesso, a alvi-negra de Niterói pretende usar o máximo de elementos possíveis pra contar o enredo de forma clara e apresentar um grande carnaval.
Neste enredo, o personagem central é um Arlequim que chega ao Rio através da cultura veneziana importada pela aristocracia. Aqui o Arlequim é refeito aos costumes aristocráticos, mas conhece a resistência popular e uma figura mirabolante; o Zé Pereira.
Confira a entrevista cedida pelo presidente, Julio de Souza:
1- Como conheceu a LIESV e por que a escolheu?
Conheci a Liesv em meados de 2016 e 2017. Nesse período fundei uma escola, a extinta Unidos de Inoã, que não foi pra avenida por alguns problemas pessoais.
Em 2021 decidi voltar e participar da Liesv novamente.
2- Qual a história da sua escola, como e onde foi fundada, qual o motivo, quais as cores, símbolo e nome?
O Corso D’Alegia é uma escola inspirada nos antigos carnavais de rua do Rio. Suas cores é inspirada no Cordão do Bola Preta, o bloco mais tradicional do Rio.
Com sede em Niterói, a escola foi refundada com um novo nome: Corso D’Alegria — antes Unidos de Inoã — com o desejo de participar da Liesv novamente.
O nome “Corso D’Alegria” é ligado ao antigos corsos carnavalescos que desfilavam na antiga Avenida Central. Seu símbolo é o Arlequim!
3- Qual será o enredo da sua escola e como ele será contado na passarela virtual (quantas alas, alegorias e demais elementos)?
O Bloco do Eu Sozinho é um enredo autoral. Neste enredo, o personagem central é um Arlequim que chega ao Rio através da cultura veneziana importada pela aristocracia, que tinha um sonho de impor um carnaval civilizado logo após a proibição do Entrudo.
Aqui o Arlequim é refeito aos costumes aristocráticos, mas conhece a resistência popular e uma figura mirabolante; o Zé Pereira.
Inspirado no Zé Pereira, o Arlequim passa à ser a voz dos populares, que em dias de folia lutam firmemente contra a repressão, o preconceito e a censura.
A cultura carnavalesca do Rio vai se formando através da força do povo, e ganha espaço nos jornais e nas revistas da época, que contribui ainda mais para a popularização de um carnaval que hoje é conhecido mundialmente.
E pra celebrar a força dos nossos ancestrais, o um Corso Popular dá um baile na avenida com personagens que ainda lutam em dias de folia, seja pra sobreviver ou pra combater o preconceito e o olhar que condena.
O Corso D’Alegria pretende usar o máximo de elementos possíveis pra contar o enredo de forma clara e apresentar um grande carnaval.
4- Como a equipe da sua escola foi montada e quem faz parte dela?
A equipe é formada unicamente pelo presidente que também é o carnavalesco, e uma intérprete feminina, que já virou marca da agremiação.
5- E o samba enredo, vai fazer eliminatórias de samba ou vai encomendar? Se for eliminatórias, quais as regras da disputa, pra onde os compositores devem mandar os sambas e etc?
Pela primeira vez, disputando um desfile oficial, o Corso irá realizar eliminatórias de samba.
As regras;
A única exigência é um refrão romântico realçando o amor do Arlequim pela Colombina(o carnaval).
- O samba poderá ser feito em parceria ou solo.
- O compositor poderá enviar quantos sambas desejar.
- É obrigatório pelo menos uma passada inteira do samba.
- É opcional o uso de instrumentos musicais.
- O envio do samba e da letra, pode ser feito pelo WhatsApp ou pelo Instagram da escola.
- A data limite pra entrega dos sambas é 15 de abril, até às 23h
Contatos pra envio do samba:
WhatsApp: 21973428173
Instagram: @corsodalegria
6- O que você e sua escola esperam do Carnaval Virtual 2022, tanto de vocês quanto das coirmãs?
Espero um carnaval bem competitivo do Corso D’Alegria e um grande espetáculo das coirmãs.
Confira abaixo a logo e a sinopse do enredo da Corso D’Alegria para o Carnaval Virtual 2022:
“O Bloco do Eu Sozinho”
JUSTIFICATIVA:
No passado, especialmente no Rio de Janeiro, a brincadeira do Entrudo era bastante popular em dias de folia.
Só que ao passar do tempo, aos olhos da aristocracia, o Entrudo e outras manifestações populares carnavalescas foram julgadas como uma maneira indecente de se brincar carnaval.
Por esse motivo, os aristocratas importaram o carnaval de Veneza para o Rio, trazendo consigo a Commedia dell’arte e seus personagens, como o Arlequim — personagem central do nosso enredo e símbolo do Corso D’Alegria — afins de impor um “carnaval civilizado.”
Chegando aqui no Rio, o Arlequim passou à ser reputado como símbolo de um “carnaval civilizado” pela aristocracia, mas anteriormente em Veneza ele era conhecido pelo seu feitio mirabolante. Já aqui foi contido e refeito aos costumes aristocráticos.
Com sua liberdade canalizada, ele sai triste pelas ruas do Rio, onde conhece a resistência popular e uma figura que ele se inspira e se identifica: o Zé Pereira.
Inspirado no Zé Pereira, o Arlequim se liberta das amarras impostas, ergue novas bandeiras, dá voz aos populares, e a população inspirada neste “Zé Pereira”, sai às ruas em dia de folia em busca dos seus direitos.
Numa época que não existia Escolas de Samba, os Blocos, Cordões, Ranchos e Cucumbis foram fundamentais para vencer a repressão por parte dos aristocratas.
Cronistas e Chargistas da época narraram esse momento nas principais revistas e jornais, fazendo do carnaval popular a marca da cidade do Rio.
Aos poucos o povo foi moldando o carnaval, com sua identidade única e própria, com características que aqui já existiam.
E foi assim que o nosso carnaval se tornou conhecido mundialmente, por conta da bravura dos nossos ancestrais, que lá no passado, enfrentou situações imagináveis.
Por isso, a alvinegra de Niterói presta esse tributo à todos os nossos ancestrais, num corso contemporâneo de solitários foliões que vislumbra o carnaval como um ato de se libertar, manifestar e resistir, e que por isso se torna tão apaixonante aos olhos do artista.
São eles;
Os ambulantes que colocam seus blocos sozinhos na rua em dia de folia e que lutam firmemente contra um sistema sócio-econômico que visa favorecer uns e desfavorecer outros.
Dos guerreiros funcionários de barracão empenhados em dar um banho de cultura num desfile de carnaval.
Dos Bate-Bolas do subúrbio carioca, tão perseguidos e reprimidos pelas autoridades.
Da brava gente do Morro da Alegria — um local tão abandonado pelo poder público — que desbrava a passarela virtual e que não esconde sua paixão pela nossa eterna colombina; o carnaval.
SINOPSE:
Um dia, tão cinzento e melancólico, fui trazido para um Rio de Janeiro vil, sem encantos mil.
Fui artigo de solução para a aristocracia que perseguiam manifestações carnavalescas populares do Rio naquela época, seja ela de matiz africana ou então o tão popular Entrudo.
A perseguição se dava por motivos de querer impor um carnaval civilizado e culto, inspirado nos grandes carnavais de Veneza.
(Carnaval que sempre foi democrático, sinônimo de liberdade, e que descende de uma farra dionisíaca…)
E eu, o Arlequim, que antes era uma figura conhecida mundo afora pelo meu feitio mirabolante — inclusive em Veneza, de onde parti — fui adaptado ao “carnaval civilizado” e aos costumes da aristocracia brasileira que residia predominantemente no Rio.
Com a minha liberdade canalizada, tornei-me triste e sem esperança, caminhei soturno pela cidade, numa infinda corda bamba.
Enxuguei o pranto em cetim,
Me enfeitei de apáticos paetês e pintei o meu nariz…
Saí por aí, brincando de ser feliz.
“Ô Abram Alas” para o “préstito” do palhaço “borocoxô” que vende felicidade!
(…) Sem fama e sem vintém,
Amando os vinhos e os baralhos,
Eu, nesta veste de retalhos
Sou tudo quanto te convém.
(Manuel Bandeira. O Descante de Arlequim)
Pelos nobres e luxuosos salões, mais de mil de palhaços mascarados e “civilizados.”
Enquanto eu, o Arlequim importado de Veneza reputado como símbolo de um carnaval civilizado no Rio e que chorava pelo amor da “Colombina” no meio da multidão, conheço então a resistência popular e me trajo de Zé Pereira.
Inspirado no Zé Pereira — o solitário folião que promovia algazarras — fui a voz dos menos favorecidos, daqueles tão reprimidos quanto eu, e ergui novas bandeiras!
O luxo das Grandes Sociedades promovidas pela elite, se alastrava pela cidade. O requinte dos carros alegóricos intimidava e oprimia a população — que exausta — vê num Zé Pereira a inspiração!
Num ato de resistir, surgem os “Heróis de Carnaval”.
Portas se entreabrem para novas manifestações carnavalescas que lutam firmemente contra a opressão imposta, lideradas por um “Zé Pereira…”
Um Rio antes melancólico, enfim começa ganhar traços de esperança.
Pelos Blocos e Cordões, fantasias despidas de qualquer censura — reis e rainhas, morcegos e piratas, marinheiros e diabinhos — compravam a alforria dos escravos para bradar em seus desfiles o movimento de libertação.
Enquanto os Cucumbis desfilavam combatendo a repressão imposta com animais vivos enfeitados, afins de causar horror na elite.
Saíam por aí cantando e dançando ao som de ganzás, agogôs, atabaques e chocalhos.
Vestidos de índios, com lanças, cocares, tacapes e devotados à Nossa Senhora do Rosário!
Os Ranchos por sua vez, ganhavam as ruas sob acordes de violões e cavaquinhos que embalava a porta-estandarte, que então revelava toda a sua ginga num lindo bailar!
Nos jornais e folhetins, o carnaval popular ganhava cada vez mais destaque, e assim surge a especialização definitiva dos cronistas carnavalescos e dos chargistas afins de divulgar aquele carnaval que vencia todas as barreiras.
Eram matérias que destacavam a importância da figura do Zé Pereira para a cidade e de incentivos ao carnaval do povão, com linguagem popular(gírias), chistes, jogo de palavras, trocadilhos, expressões populares e paródias – característico do humor carioca…
O afinco popular de querer lutar, extinguir o preconceito e a perseguição dos aristocratas em forma de folia, foi fundamental também para surgir outras manifestações carnavalescas futuras após a libertação dessas amarras que antes foram impostas.
Foi aqui que eu aprendi à amar essa cultura multicor que se formou através da força do povo.
Hoje o nosso carnaval é o maior do mundo e o mais popular, é claro! Superando inclusive aqueles carnavais europeus que os aristocratas se inspiravam…
É por isso que eu convido todos à embarcarem comigo neste corso de solitários foliões, apaixonados por carnaval, de espíritos livres e transcendentes.
Um corso diferente daqueles luxuosos promovidos pela elite…
Um corso inspirado na luta dos nossos ancestrais…
Um corso dos ambulantes autônomos, que colocam seus blocos sozinhos na rua em dias de folia.
Da brava gente do “Morro da Alegria” que brilha na passarela virtual.
Dos perseguidos Bate-Bolas(Clóvis) do subúrbio carioca, que mesmo reprimidos, não perdem a sua essência.
Dos artesãos, pintores, escultores e de tantos outros, que fazem um barracão de zinco.
É um corso popular e de todos aqueles apaixonados por carnaval, assim como eu, que faço a alegria de milhares de expectadores na “Cyberfolia”, deixando claro que o carnaval sempre foi e sempre será liberdade, manifestação e resistência.
Por isso, sempre hei de te amar, carnaval! Minha eterna Colombina!…
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Fonte de pesquisas: Acervo digital da biblioteca nacional, docomomo, raizdosambaemfoco, riodejanejeiroaqui, e-publicações, blog cifrantiga e folha de SP.
Autor do enredo: Julio de Souza