Em seu aniversário de 15 anos de existência, a tradissionalíssima Sereno de Cachoeiro do presidente e faz tudo Milton dos Santos, cantará o “Rosário dos Pretos” no Carnaval Virtual de 2022. Com disputa de samba enredo aberta até dia 5 de junho, a azul e branco de Cachoeiro do Itapemirim mantém a mesma equipe de 2021, com James Bernardes de Intérprete e o próprio presidente fazendo a função de Carnavalesco mais uma vez.
Confira a entrevista cedida pelo presidente, Milton dos Santos:
1- Como conheceu a LIESV e por que a escolheu?
Conheci a LIESV em 2005, através do site da Liga. Achei muito legal a ideia, mas levei ainda dois anos para inscrever a minha escola na CAESV.
2- Qual a história da sua escola, como foi fundada, qual o motivo, quais as cores, símbolos nome?
A Sereno de Cachoeiro nasceu da minha vontade de participar do Carnaval, já que na época as escolas de samba da minha cidade , Cachoeiro de Itapemirim – ES estavam desativadas. O nome veio inspirado na Sereno de Campo Grande, um nome que sempre achei legal, a águia e as cores azul e branco vieram da Portela. Assim nasceu a Sereno de Cachoeiro.
3- Qual será o enredo da sua escola e como ele será contado na passarela virtual (quantas alas, alegorias e demais elementos)?
Em 2022 apresentaremos o enredo Rosário dos Pretos, sobre a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, uma entidade da Igreja Católica surgida no Sec. XVI, congregando homens escravizados e libertos, sendo centros de proteção mútua e defesa da cultura afro-brasileira. Contaremos desde a devoção ao Rosário até as irmandades que resistem até os dias de hoje. Desfilarem com 5 alegorias, 25 alas e 2 tripés.
4- Como a equipe da sua escola foi montada e quem faz parte dela?
A equipe continua a mesma de 2021.
5- E o samba enredo, vai fazer eliminatórias de samba ou vai encomendar? Se for eliminatórias, quais as regras da disputa, pra onde os compositores devem mandar os sambas e etc
Estamos com eliminatórias abertas, receberemos os sambas concorrentes até dia 01/06. Os sambas (letra e audio) podem ser enviados para o WhatsApp 28999165048.
6- O que você e sua escola esperam do Carnaval Virtual 2022, tanto de vocês quanto das coirmãs?
Mais uma vez esperamos um espetáculo de alto nível e uma disputa acirrada. As escolas virtuais se tornaram uma brincadeira muito séria.
Confira abaixo a logo e a sinopse do enredo da Sereno de Cachoeiro para o Carnaval Virtual 2022:
“Rosário dos Pretos”
SINOPSE
Negras mãos calejadas desfiam contas em oração. “Contas de Lágrimas de Nossa Senhora”, e lágrimas de emoção.
Olhos fechados, bocas se abrem repetindo as preces em honra à Santa Mãe de Deus. São mulheres e homens pretos, descendentes dos que vieram cativos para esta terra, arrancados de diversas partes da África, de onde trouxeram a fé em suas divindades, mesmo aquelas que foram levadas para lá por homens de outras terras.
Entre as crenças que foram levadas para a África estava a fé Islâmica, principalmente ao norte do continente. Os fiéis sempre traziam à mão um pequeno cordão de contas que era usado para desfiar louvores a Alah. Mais tarde, missionários Dominicanos trouxeram outro cordão de contas com o qual faziam suas orações à Virgem Maria, o Rosário. O hábito de rezar nas contas se espalhou e sincretizou com as crenças dos povos nativos, principalmente em Angola e Guiné. Os escravizados vindos daquelas terras que chegavam ao Brasil já conheciam a reza e encontravam alento nas preces e orações. Fé e magia se unem sob a luz das velas, com a oração de nossos Pretos e Pretas Velhas que trazem o axé de Aruanda.
Obrigados a professar a fé de seus senhores, são batizados pela mesma igreja que não permitia que entrassem no interior de seus templos. Em meio aos santos cultuados na religião dos senhores, descobrem santos negros: Santa Efigênia, Santo Elesbão, Santo Antônio de Categeró, São Benedito… negros divinizados e cultuados. Protetores e padroeiros de seus iguais na cor e na fé.
Os ricos senhores se reuniam em irmandades, proibidas aos que carregavam o “vil sangue negro”, como constava em seus estatutos. Surgem, assim, as Irmandades de negros e mulatos, dentre as quais se destaca a Irmandade do Rosário dos Homens Pretos, para unir pretos e mulatos, cativos e libertos sob a fé católica. A primeira irmandade surge em Olinda, ainda no Sec. XVI, se espalhando pelo Brasil no decorrer dos séculos:
As irmandades passam a ser movimentos de assistência para seus membros, proporcionando assistência jurídica, médica, arrecadando dinheiro para comprar a alforria para aqueles que não possuíam condições para comprar sua liberdade, como o Chico Rei, que juntava o ouro escondido nos cabelos de seus irmãos na pia da Igreja de Santa Efigênia do Alto da Cruz, em Vila Rica. Até mesmo na hora da morte, as irmandades foram fundamentais, promovendo enterros dignos para seus membros. Obras de caridade que eram vistas com bons olhos pelos senhores, que não mais se preocupavam com a assistência a seus cativos devotos, confiando esta responsabilidade às Irmandades do Rosário.
Devotando seu suor, ergueram capelas e igrejas para prestar seu culto e, secretamente, sincretizar seus deuses aos santos católicos. Obras de arte e fé, onde os sagrados se encontravam. Em louvor ao padroeiro ou à Santa, saíam em procissões e celebravam as festas, fazendo das ruas e dos adros de suas igrejas um pedaço da Mãe África: Congados, Reisados, Maracatus, Batuques de todos os tipos em louvação aos santos e aos ancestrais.
As Irmandades do Rosário dos Pretos resistem ao tempo, sendo focos de resistência e preservação da cultura negra e centros de luta pela igualdade e liberdade. Seja no Recife, no Pelourinho de Salvador, nas Minas Gerais, ou em qualquer canto do Brasil, lá estarão as mãos negras que desfiam o Rosário e mantém viva a chama da fé da negritude.
Saudamos as Irmandades de todo o Brasil!
Axé! Amém!
Autor do enredo: Milton dos Santos Batista Junior