Homenageando Aldir Blanc, Unidos do Paiol trará “O dia que Aldir chegou no céu” no Carnaval Virtual de 2021

Fundada em 1991, a Unidos do Paiol completará 30 anos de existência e em 2021 fará uma homenagem a Aldir Blanc, grande nome da nossa cultura e que nos deixou em 2020. O projeto completo ainda está em construção e é uma adaptação do que seria apresentado na edição especial do Carnaval Virtual deste ano.

Confira a entrevista cedida pelo presidente, Michel Lackzynski:

1- Como conheceu a LIESV e por que a escolheu?

A Paiol é um dos pilares da LIESV. Chegamos em 2004 participando já da terceira edição do Carnaval Virtual em 2005 no Grupo de Acesso. Após alguns anos de inatividade, retornamos para nossa casa em 2015 e por aqui estamos!!

2- Qual a história da sua escola, como foi fundada, qual o motivo, quais as cores, símbolos nome?

A Unidos do Paiol nasceu de uma brincadeira de criança com desfile de maquetes lá em 1991. Quando conhecemos a LIESV nos inscrevendo para participar. Nossas cores são azul, verde e branco em homenagem a Beija-flor de Nilópolis e União de Jacarepaguá e o símbolo, a pomba, surgiu graças ao primeiro desfile de maquetes da escola que tinha como tema, a paz. O nome Paiol é o mesmo nome do bairro de sua sede no município de Nilópolis.

3- Qual será o enredo da sua escola e como ele será contado na passarela virtual (quantas alas, alegorias e demais elementos)?

Em 2021 faremos uma homenagem a Aldir Blanc, grande nome da nossa cultura e que nos deixou em 2020. O projeto completo ainda está em construção e é uma adaptação do que seria apresentado na edição especial do Carnaval Virtual deste ano.

4- Como a equipe da sua escola foi montada e quem faz parte dela?

Somos poucos mas trabalhamos muito em prol de nossa escola. Eu, Michel Laczynski, na presidência. A partr artística fica por conta de nosso carnavalesco Adler Mendes e a voz de Ewerton Fintelmann, que retorna à Paiol após um ano afastado.

5- E o samba enredo, vai fazer eliminatórias de samba ou vai encomendar? Se for eliminatórias, quais as regras da disputa, pra onde os compositores devem mandar os sambas e etc

Após a reedição realizada no último carnaval (2020) e a encomenda de 2019, não poderíamos deixar de prestigiar a talentosíssima ala de compositores da LIESV para 2021. Esperamos os sambas de todos vocês!!!

Vamos receber os sambas concorrentes até o dia 02 de maio de 2021 e o compositor pode enviar quantos sambas quiser, seja  solo ou parceria, bastando apenas entregar a letra e o áudio do samba no e-mail: unidosdopaiol@gmail.com ou pelo Whatsapp 21 99179-5777.

No dia 9 de maio de 2021 vamos divulgar os sambas finalistas e no dia 16 de maio de 2021 vamos realizar a grande final de Samba-Enredo ao vivo em nosso canal no Youtube.

6- O que você e sua escola esperam do Carnaval Virtual 2021, tanto de vocês quanto das coirmãs?

Esperamos de todas as escolas mais um carnaval virtual de excelência. Nosso objetivo para 2021 deixa de ser apenas se manter no grupo e sim tentar ficar entre as melhores e retornar no desfile das campeãs.

Confira abaixo a logo e a sinopse do enredo da Unidos do Paiol para o Carnaval Virtual 2021:

“O dia que Aldir chegou no céu

Confesso que quando comecei a escrever sobre Aldir Blanc, parti para uma literatura de cordel. Não gostei e passei para uma prosa mais bibliográfica e que tentava contar sobre Aldir Blanc… adivinha só, também não gostei. Resolvi, agora, continuar com essa crônica para dar forma a essa sinopse. Talvez, consiga, assim, o fracassado plano de explicar o inexplicável: te contar quem foi… Aldir. Nada mais justo que começar dizendo: boêmio, tijucano, sambista, músico, cantor, suburbano, compositor, cronista, escritor, neto, pai, avô e até doutor. Foi múltiplo sob sua perspectiva de olhar o mundo.
Assim será essa sinopse, esse desfile, esse carnaval que mesmo na data que o convém, será… fora de época. Fora de época pelo período difícil em que vivemos. Pela doença mortal que nos vimos obrigados a conviver. Pelo tempo difícil que nos convida a ver o que há de pior dentro do ser humano. Confesso que tento romper as palavras aqui escritas para atingir você, leitor. Talvez num sopro de Brecth, em que romper a quarta parede para conversar com que me lê, seja, para mim, um ato de auto ajuda ou de uma companhia presente no distanciamento. Uma esperança equilibrista, contra o ano de 2020 que foi uma corda bamba. Portanto, te convido a imaginar comigo e tentar, enfim, romper o tempo, romper esse plano e achar uma fuga efetiva através das palavras e da imaginação. Criando um circo de ilusão próprio. Dito isso, a sinopse do dia que Aldir chegou ao céu está assim posta:


Talvez, quando chegou ao céu, Aldir, de cara, tenha dado “batidas na porta da frente” e visto Pedro em pé, segurando uma chave, ao melhor, segurando um surdo de marcação para celebrar aquele início de Segunda-Feira. Enquanto chorava a pátria mãe gentil, Marias e Clarisses, o céu estava em festa. O silêncio, que no nosso imaginário é o som do paraíso, nesse céu de Aldir é o “som da ralé, da gentalha, de exus catimbeiros, de canalhas”. Um som de samba celebrando o poeta dos desprezados, o filósofo dos botequins o cronista dos carnavais.
Talvez santos e santas não tenham demorado aparecer: Santa Bárbara, São João, Santo Expedito, Santo Antônio, São Jorge, São Sebastião e até Santo Antão. Bem, e como céu é de Aldir, o céu é democrático. Talvez tenha chegado Ogum com seus dez mil cavalos, exus, caboclos e orixás. Todos pedindo bençã ao “ateu, cético, cínico e escroto, nessa ordem”. Rompendo a quarta parede: nem pelo fato de ser ateu, tiraria o mérito de Aldir ter um céu só dele, ainda que o sentido de céu, aqui empregado, seja figurativo, seja uma tentativa de fuga. Funciona, como disse anteriormente, ser uma imaginação de que qualquer aparente fim seja um novo começo.
Talvez tenha chegado Seu Ceceu Rico com um taco de sinuca em uma mão e o cigarro na outra, parando, de tempos em tempos, para pegar um pouco de fôlego naqueles pulmões asmáticos. Talvez ainda Dona Helena, mais quietinha, tenha chegado também para acalentar aquele coração de outrora triste. Talvez quem Aldir mais tenha gostado de ver tenha sido seu Avô. Seu Antônio, afinal de contas, qualquer festa ele estaria dentro. E nosso Vasco hein?! Perguntaria o avô. Não importa se na segunda, na terceira ou deixe de existir: Sou Vasco. Ao que responderia Aldir. Talvez o papo tenha ficado nas glórias da memória. Do jogo contra o Bangu que Vavá não perdoou e marcou o título de 56. Do negro e do português, lado a lado, da febre alta que pegou depois da chuvarada e que o fez ficar de cama causando a doença de ser Vasco da Gama.
Talvez tenha visto lá de cima as “pipas levadas pela brisa remendando luzes do sol” que o faz relembrar da sua Tijuca. “Laranjeiras da terra, limoeiros, jaqueiras, mangueiras, goiabeiras vermelhas, uma leitura de monteiro Lobato, almoços de domingo em forma de festa, feijoadas recortadas por cervejas suadas em tinas de madeira. Talvez recordando do menino que lançou garatujas no papel sempre correndo atrás da infância.
Talvez, em certo momento da prosa Aldir tenha olhado lá de cima cá pra baixo e ficando com um tanto de “saudades da Guanabara”. Talvez tenha sentido uma nostalgia, respaldada pela acepção da palavra, o tomando por completo. Saudade de uma Guanabara longe da devastação e “contra os crimes cometidos contra a liberdade”. E talvez, lá de cima mesmo tenha regado ao Salgueiro novo alento, o seu Salgueiro que o fez nem ser melhor ou pior, apenas uma pessoa diferente. Ou talvez tenha visto galos de briga, um João triste ou um Moacyr invadido de um “desejo calmo e frio” de tocar seu violão de parceria ou um Paulinho que não quer despedida do filme da vida. Talvez tenha saído na madrugada mais vadia e passado por um bloco de rainhas e princesas que resultaria nas “poluções noturnas” tal qual o bafo da onça. Porém a madrugada reservaria o amarelo e lilás tradicional de um bloco sustentado pela simpatia, que de tanta, seria quase amor. Sorte de Sebastião a quem retiraria as flechas do peito desse padroeiro e, subido alguns ramos do seu céu, pediria piedade ao Redentor.
Com certeza, Aldir do seu céu estava ao redor de nuvens o glorificando por ter em vida tirado manchas torturadas através da sua música, da sua arte, do seu poema e da sua crônica! Ainda que uma Minnie estivesse dançando com um zé carioca, ainda que essa parte de BraZil o estivesse menosprezando, o BraSil, a verdadeira pátria mãe gentil, Marias e Clarisses estavam chorando, mas com a certeza de que a esperança é viva, que a democracia é uma luta constante e que o show tem que continuar.
Talvez com uns olhos marejados de saudade tenha escutado a melodia de um timbre famoso: “Olá! Prazer rever você”. Que no giro do corpo, já consciente de quem se tratava, “soube que encontraria no olhar no espelho daquela amiga sua própria face. Elis Regina girando num bailado de porta bandeira ao lado de um marinheiro, magrinho, riscando o seu céu como mestre sala. Como um almirante negro com vestes de dragão do mar: João Cândido.
Talvez tenha preparado uma mesa grande com a presença de Beth Carvalho, Betinho, Henfil, Taiguara, Clara Nunes, Tom Jobim e Beth Carvalho. Que bradariam em alto e bom som:” Glória aos piratas, as mulatas, as sereias. Glória a farofa, a cachaça, as baleias”. Uma reunião daqueles que nunca esqueceram a história de um país que vive um passado tenebroso. Dariam glória para que a memória nunca ficasse reduzida a pedras pisadas num cais.
Talvez… não
Aldir ao se despedir do Brasil que olhava lá de cima, ao se despedir do seu Rio de Janeiro, ao se despedir da sua tijuca, ao se despedir da sua vida boemia, ao se despedir do seu samba observou que o céu em que estava era o céu que já imaginava. Chegou na goiabeira branca cujo galho que se direcionava ao chão o pegou e o recolheu para as frondosas flores e o emaranhado de galhos, sempre deixando o menino dentro dele vivo e presente em cada pessoa que sempre defenderá a democracia e as lutas inglórias.

Autor do enredo: Adler Mendes

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