Império Andreense lança sua sinopse para o Carnaval Virtual 2019

A Império Andreense divulgou a sua sinopse para o Carnaval Virtual 2019. Após se consagrar campeã do Acesso B, a agremiação busca dessa vez chegar no Grupo Especial pela primeira vez na sua história. A escola vem com o enredo Roma Negra de autoria de Leandro Ramos. A escola do presidente Henrique Torres confirmou Leandro Ramos como carnavalesco e Ewerton Fintelman como intérprete para 2019. Confira o recado da escola:

Após sua segunda ascensão para o grupo de acesso A, uma das escolas mais antigas da atualidade do carnaval virtual vem para se manter de vez em busca do grupo de elite da LIESV, sua fundação em 2011 teve como base a cidade de Santo André após muitos altos e baixos enfim pegamos o rumo certo. A Agremiação optou por manter a fórmula que trouxe a vitória, um enredo afro, desta vez teremos como pano de fundo a Bahia.


Confira abaixo a sinopse na íntegra.

“Roma Negra”

SINOPSE DE ENREDO

         

Nas margens de lá e nas margens de cá, ecoam choros e sofrimentos,

Da África ao Brasil se tem um rio¹ manchado com as dores de um povo;

Negreiros em crueldades, gênese insurgente aos infinitos lamentos,

Onde “a sombra da voz da matriarca” ² protege os Rômulos e Remos deste império novo.

E no desembarque a todo plural se denominou de nagô.

Na imponente diáspora atlântica, o encontro do mundo afro com o português se fez Salvador.

 

Chegaram de lá em ciclos como escravos, mas ricos de cultura e tradições,

Vindos da Guiné, Angola, Costa da Mina, Benin e outros mais;

Braços negros obrigados a erguer sacros monumentos entre os açoites e grilhões.

Para sustenta e amamentar a branca nação cristã e seu dito legado de paz.

Na alta construíram a riqueza e a beleza de uma cidade colossal, 

Na baixa manteve-se a resistência e a vivência de um legado imortal.

 

Os negros desterritorializados lutaram para manter sua fé,

Na união de diversos cultos, no velho engenho se estabeleceu o primeiro terreiro;

No Ilê Iyá Nassô o preto se reterritorializou na roda de candomblé,

E nos colos das grandes mães se consolidou culto afro-brasileiro.

O panteão dos deuses negros é refletido na cidade de todos os santos,

Onde Exu guarda todos os caminhos e Oxum é a mãe padroeira com todos os seus encantos.

 

“O preto norte-americano forte” tomou as ruas de revolução, contra a opressão em busca de liberdade,

Marcou seu espaço nas procissões, nas capoeiras e nos tabuleiros;

Foi a inspiração dos “alvos” gênio, que expressaram na arte toda a sua baianidade,

Desceu as ladeira com “o mais belo dos belos” ³ em um cortejo de bravos guerreiros.

Espalhou os afoxés, “seguiu o Olodum balançando o Pelô” numa festa que nunca vai terminar,

E transformou o solo soteropolitano na grande ágora da herança de Dodô e Osmar.

 

Na “Meca da negritude” o desigual ainda fere os direitos da criança,

A alma jovem é mira, é alvo nesse território de morte;

A mãe triste labuta na casa grande, reprimindo seus sonhos e esperança,

Levando no bolso um patuá, pedindo pra seus filhos proteção e sorte.

Mas o negro resiste e segue na luta, e inspira seus iguais a crescer,

No esplendor da Roma negra ele Veio, Viu, e vai Vencer! 4

 

Pesquisa e texto: Leandro Ramos.

 

Glossário

Rio¹ – o termo faz referência ao oceano Atlântico, que era comumente chamado de grande rio pelos negros escravizados;

A sombra da voz da matriarca ² – trecho da canção Recôncavo de Caetano veloso, faz referência ao continente africano como a grande mãe da humanidade;

Rômulos e Remos – segundo a mitologia romana Rômulo e Remo eram irmão gêmeos e filhos de deuses, forma abandonados e criados por uma loba. Possuem sua representatividade ligadas a fundação da cidade de Roma;

Nagô – originalmente faz referência ao povo Ioruba – grupo étnico-linguístico da África ocidental -, mas também foi a designação comum dada a todo negro que desembarcava na condição de escravo nos portos da Bahia;

Grilhões – corrente de metal formada por anéis em forma de cadeado; Algemas de mãos ou de pés;

Diáspora – palavra de origem grega, que significa deslocamento, dispersão voluntária ou forçada dos povos por motivos políticos, econômicos ou religiosos; Mas para os povos negros diáspora é o nome que se dá ao fenômeno ou a experiência vivida por descendentes africanos nas Américas, na Europa e em outros lugares e o rico patrimônio cultural que construíram;

 – Colossal – que tem volume, altura ou proporções gigantescas, descomunal, vastíssimo;

Desterritorializados – ato ou efeito de desterritorializar; anular ou reduzir os limites territoriais. Desterritorializar uma etnia é a melhor maneira de vê-la desaparecer;

Ilê Iyá Nassô – da língua Ioruba “Casa Branca do Engenho Velho” foi primeiro terreiro de Candomblé fundado em Salvador;

Panteão – conjunto de deuses de um povo, de uma religião politeísta;

Exu – o orixá da comunicação, da paciência, da ordem e da disciplina. É o guardião das aldeias, cidades, casas e do axé, das coisas que são feitas e do comportamento humano; Segundo Jorge Amado no livro “Bahia de Todos os Santos” Exu guardas todos os caminhos da cidade de Salvador;

Oxum – orixá da água doce, dona dos rios e cachoeiras, cultuada no candomblé e também na umbanda; É a padroeira da cidade de Salvador, no sincretismo religioso ela é Nossa senhora da Conceição;

O mais belo dos belos ³ – canção do álbum “O Canto da Cidade” de Daniela Mercury lançado em 1992; Faz referência ao bloco Ilê Aiyê, o mais antigo bloco afro do carnaval de Salvador. Fundado em 1974 por moradores do bairro do Curuzu;

Olodum –  é um bloco-afro do carnaval de Salvador, foi fundado em 25 de abril de 1979 ; É uma organização não governamental (ONG) do movimento negro brasileiro. Desenvolve ações de combate à discriminação social, estimula a autoestima e o orgulho dos afro-brasileiros, defende e luta para assegurar os direitos civis e humanos das pessoas marginalizadas, na Bahia e no Brasil.

Pelô – como é popularmente chamado O Pelourinho, bairro de Salvador, localiza-se no Centro Histórico da cidade;

Afoxés – é um cortejo de rua que sai durante o carnaval; É uma manifestação afro-brasileira com raízes no povo Ioruba, onde geralmente seus integrantes são vinculados a um terreiro de candomblé;

Soteropolitano – habitante ou natural da Cidade de Salvador BA;

Ágora – termo grego para representar a praça central ou local de encontros, assembleias ou manifestações na antiguidade;

Dodô e Osmar – foram uma dupla de músicos formada por Adolfo Antônio do e Osmar Álvares Macedo, à eles é atribuída a invenção do trio elétrico;

Meca – cidade da Arábia Saudita considerada a mais sagrada no mundo para os muçulmanos; Segundo alguns estudiosos Salvador seria a Meca da religiosidade negra;

Patuá – amuleto muito utilizado por pessoas ligadas ao Candomblé, feito de um pequeno pedaço de tecido na cor correspondente ao Orixá, ao qual é bordado o nome do mesmo, e colocado um determinado preparo de ervas e outras substâncias atribuídas a cada divindade.

Veio, Viu, e vai Vencer 4 – é uma variação da frase em latim “Veni, Vidi, Vici”, atribuída ao general e cônsul romano Júlio César em 47 a.C.; E é popularmente associada a uma consolidação ou vitória indiscutível.

 

A escola encomendará seu samba

 

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