“Os Mistérios de Sumé” é o enredo da Guerreiros do Leão para o Carnaval Virtual 2021. Confira a sinopse

A tradicional Guerreiros do Leão trará para 2021 a lenda de Sumé, uma entidade que segundo a cultura dos índios carijós, caminhou pelo litoral brasileiro pregando aos povos nativos valores da civilidade, da agricultura, da pesca, da organização social, entre outras virtudes. Conversamos com o presidente Sérgio Razera sobre o que a escola planeja para 2021 e o mesmo nos contou dentre outras coisas, que a empolgação dos componentes da escola depois da grandiosa edição do Carnaval Virtual de 2020 será um grande combustível para a vermelho e branco em 2021.

Confira a entrevista cedida pelo presidente da escola, Sérgio Razera:

1- Como conheceu a LIESV e por que a escolheu?

A Guerreiros foi fundada em 2009. Recém completou 11 anos de fundação. Porém, vamos apenas para o quarto desfile da nossa história. Conheci a LIESV através do meu primo, que é o fundador da agremiação e desde então tenho participado da LIESV desde 2010. Vejo na Liga um projeto que vai muito além do Carnaval. É um espaço onde fiz amigos e aprendi muito. Posso dizer que vestimos a camisa da LIESV.

2- Qual a história da sua escola, como foi fundada, qual o motivo, quais as cores, símbolos nome?

O G.R.E.S.V Guerreiros do Leão foi fundada em Novembro de 2009, tem como cores o Vermelho, Branco e Ouro e o símbolo é o Leão. A Escola foi fundada após o desfile virtual de 2009 e fez sua estréia no antigo Conselho de Avaliação (CAESV) em 2010. Desfilou novamente em 2011, ficando na terceira colocação e se afastou dos desfiles desde então. Retornou em 2020 por acreditar no projeto da nova diretoria da Liga e inserida em um momento em que várias agremiações estavam retomando os trabalhos.

3- Qual será o enredo da sua escola e como ele será contado na passarela virtual (quantas alas, alegorias e demais elementos)?

Levaremos para a avenida o enredo “Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho? Os mistérios de Sumé”. Diferente do que sugere o título, não é um enredo religioso. Contaremos a lenda de Sumé, uma entidade que segundo a cultura dos índios carijós, caminhou pelo litoral brasileiro pregando aos povos nativos valores da civilidade, da agricultura, da pesca, da organização social, entre outras virtudes. O título do enredo trás uma frase do apóstolo São Tomé, que é identificado pelos padres jesuítas que conviveram com os indígenas brasileiros a época da colonização, como o personagem central da lenda de Sumé. A previsão é de que a Guerreiros desfile com 3 alegorias e 16 alas. O projeto está em desenvolvimento, mas não deve fugir dessa previsão inicial.

4- Como a equipe da sua escola foi montada e quem faz parte dela?

Após o desfile de 2020, decidimos que haveriam mudanças na construção do Carnaval da Guerreiros. Porém, nada relacionado a colocação obtida. Cumprimos nosso propósito que era de um desfile leve e irreverente. Entretanto, acredito que é hora de alçar vôos mais altos, como aqueles que eram almejados pela diretoria quando de nossa fundação. O carnavalesco Lucas Siqueira está mantido, mas trabalharemos em comissão, da qual também faço parte visando unir forças em pró de um grande desfile.

5- E o samba enredo, vai fazer eliminatórias de samba ou vai encomendar? Se for eliminatórias, quais as regras da disputa, pra onde os compositores devem mandar os sambas e etc?

Optamos mais uma vez pela encomenda, uma vez que o acúmulo dos trabalhos dentro da própria LIESV tomam um tempo muito grande, uma vez que também sou o carnavalesco da Paraíso da Folia no Grupo Especial. A opção pela encomenda vai ao encontro da necessidade de otimizar o tempo e buscar um samba que caminhe lado a lado com o projeto plástico da agremiação.

6- O que você e sua escola esperam do Carnaval Virtual 2021, tanto de vocês quanto das coirmãs?

O Carnaval Virtual de 2020 foi um divisor de águas. Um dos maiores de todos os tempos sem sombra de dúvidas. Vejo pela empolgação dos integrantes das coirmãs que o alto nível será mantido e até mesmo elevado. E da parte da Guerreiros será dessa forma. Iremos levar para a João Jorge Trinta o maior desfile da história da agremiação e sem sombra de dúvidas, lutaremos por esse acesso ao Grupo Especial.

Confira abaixo a logo e a sinopse do enredo da Guerreiros do Leão para o Carnaval Virtual 2021:

“SENHOR, NÃO SABEMOS PARA ONDE VAIS. COMO PODEMOS CONHECER O CAMINHO? OS MISTÉRIOS DE SUMÉ

Muito antes da chegada dos europeus nas Americas, os índios carijós de Santa Catarina, os Tihuanacos na Bolívia e os Incas no Peru, já haviam escutado profecias e ensinamentos vindos de homens brancos, de barba e que vieram pelo mar.

Registros antigos narram as histórias de Anthony Knivet, pirata inglês abandonado a própria sorte por seu capitão no litoral de São Sebastião em São Paulo. Nessa região, Knivet teve contato com os índios Tamoios, cujas canoas guerreiras dominavam a costa, desde o cabo de S. Tomé até Angra dos Reis, guardando as aldeias, formadas de cabanas sólidas, cercadas de altas paliçadas inexpurgáveis. Quando as tribos vizinhas ousavam invadir a seu território, — o canto do pajé concitava os filhos da grande nação. E, ao som dos chocalhos de pedras, das buzinas de madeira, dos tambores e das flautas de taquara, — os grandes exércitos tamoios abalavam em hostes cerradas, para repelir o invasor. E a nação não descansava, enquanto os inimigos não fugiam ao valoroso embate das suas armas de gloriosas, — maças pesadas feitas de lenho de palmeira, formidáveis machados chatos de madeira vermelha, flechas agudas, arcos da altura de um homem. Mais de uma vez, assim, os Goitacazes e Goianazes tiveram de ver castigada a sua ousadia. Quando a guerra findava, toda a tribo comemorava com grande festa a vitória de seus filhos. E a música e a dança celebravam, em torno dos prisioneiros que tinham de ser comidos vivos, a derrota dos inimigos. Depois vinha de novo a livre e arriscada existência da paz, — a pesca, nas canoas ligeiras que voavam como as aves do mar à flor das águas, e a caça dentro dos matos bravos, povoados de feras.

Um dia, em que uma grande multidão da tribo, à beira-mar, estava reunida, celebrando uma vitória, — viram todos que sobre o largo oceano, vinha, do lado em que o sol aponta, uma grande figura, que mais parecia de deus que de homem.

Para comprovarem essa maravilhosa história, os Tamoios mostraram a Knivet antigas marcas sagradas preservadas no litoral. Entre essas marcas havia a de um pé fincado em uma pedra.

Os chamados “finca pés” estão em diversos lugares nas Américas. Muito mais que marcas, eles são a personificação de um mito. O mito da passagem de um homem branco que deixou nas pedras vestígios de sua existência. Na época do descobrimento do Brasil, foram encontradas doze marcas de pés cravados em rochas. Elas estão na Bahia, em Pernambuco, na Paraíba, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, em São Paulo e Santa Catarina.

De acordo com as histórias contadas pelos seu ancestrais Tupinambás, os Tamoios descreveram este homem como sendo um velho, branco como a luz do dia, trazendo, espalhada no peito, como uma toalha de neve, até os pés, uma longa barba venerável, cuja ponta roçava a água do mar. E houve um grande espanto entre os Tamoios, vendo assim um homem, como eles, caminhar sem receio sobre as ondas como sobre terra firme.

Era Sumé, enviado de Tupã, senhor do Céu e da Terra. E Sumé operava prodígios nunca vistos. Diante dele, os matos mais cerrados se abriam por si mesmos, para lhe dar passagem: a um aceno seu, acalmavam-se os ventos mais desencadeados: quando o ma furioso rugia, um simples gesto de sua mão lhe impunha obediência. A sua presença fazia abaterem as tempestades, cessarem as chuvas, abrandarem as secas. E até as feras quando o viam, vinham submissamente lamber-lhe os pés, arrastando-se, de rojo, na areia. E os Tamoios, cativos de sua bondade, conquistados pelo assombro dos seus milagres, tomaram Sumé para seu conselheiro. E todas as tardes, os chefes adiantavam-se para ele, — enquanto em roda, mulheres, homens e crianças paravam a escutar, — vinham contar-lhe a história de seu povo, e interrogá-lo sobre as suas crenças, e pedir-lhe conselhos e lições.

E diziam-lhe a sua religião:

“Tupã, para fazer o céu e a terra, criou as mães para tudo. O sol é a mãe do dia e da noite. A lua é a mãe das plantas e dos animais. Os homens nasceram, e foram maus. Tupã, para castigar a sua maldade, mandou que as águas crescessem desmedidamente e cobrisse tudo. Então, viram-se os peixes nadando entre as folhagens das árvores, e os tigres afogados boiando sobre a vastidão das ondas crescidas. E os homens fugiam de monte em monte. E o céu se abria em relâmpagos e em quedas assombrosas de água. Mas um varão forte, que Tupã amava, — um varão de alma grande, que tinha o nome de Tamandaré, salvou a raça guardando dentro de uma canoa os seus filhos, e livrando-os do naufrágio espantoso. E de Tamandaré saímos nós, guerreiros que não tememos o trovejar das armas dos inimigos, quando o furor os assanha no campo de guerra, — mas que nos rojamos por terra, lembrando a antiga punição, quando ouvimos trovejar o céu, carregada de ameaças de maldição, a grande voz sagrada de Tupã, senhor e criador de todas as coisas e de todos os seres…”

Sumé amou aquela nação simples e sóbria, sem vícios e sem pecados. Louvou-lhe a bravura na guerra e a modéstia na paz. E quis torná-la feliz, ensinando-lhe o meio de viver na abundância. E ordenou que todos os homens válidos, depois de haverem abundantemente provido de caça e de pesca as cabanas, em que as mulheres e as crianças ficariam, seguissem com ele, para obrigar a terra a dar-lhes o sustento diário.

Disse-lhes Sumé: “A grande mãe é a terra: a grande mãe generosa; basta acariciá-la, basta amá-la e afagá-la, para que ela se abra logo prodigamente em toda a sorte de bens e de venturas.” Mas um pajé, velho sábio, conhecedor das coisas que o comum dos mortais ignora, observou: “Como pois, grande Santo, até hoje só tem ela tido para nós espinhos e répteis?” E Sumé respondeu: “Porque até hoje não a amastes com fervor e trabalho. Cavai-a e suai sobre ele: se rasgará agradecida, não para vos engolir, mas para vos dar vidas novas. Vinde comigo e vereis!”

Seguiram-no eles. E a terra, por toda a parte, era nua e ingrata. Matagais crespos e impenetráveis subiam do seu seio. E, dentro deles, as cobras silvavam, as onças uivavam: e toda aquela natureza primitiva era inimiga do homem, inimiga sem piedade, que afiava contra ele os dentes de suas feras e as pontas agudas dos seus espinheiros. Mandou Sumé que desbastassem a terra, e tivessem, para destruir os matos fechados, a mesma bravura e o mesmo vigor que tinham para destruir as hostes dos inimigos. Ordenou-lhe depois que amanhassem o solo, e, dando-lhes sementes várias, disse-lhes que as lançassem sem conta sobre o seio da grande mãe assim preparado.

Deste modo correu Sumé todo o litoral. E atrás dele todos os homens válidos da tribo seguiam. Os dias passavam. Passavam os meses. Passavam os anos. E de sol a sol, a febre do mesmo trabalho sacudia aquela multidão, que a virtude e a bondade de um só homem arrastavam seduzida e cativa. Quando Sumé chegou à grande Angra, que fechava ao sul o domínio dos Tamoios, parou. E disse, reunindo os trabalhadores:

— É tempo de retroceder… Ides ver como a terra vos paga em abundância e ventura as bagas de suor que gastastes em seu favor!

Retrocederam. E, então, começou o deslumbramento da tribo. À medida que se aproximavam do ponto de partida, viam a terra mudada, de mais em mais, abrindo-se em folhagens que não conheciam, em frutos que nunca tinham visto. E, quando chegaram ao grande acampamento, as mulheres e as crianças dançavam e cantavam. Os celeiros da tribo regorgitavam. O céu parecia mais belo; mais belo parecia o mar; mais bela a natureza toda; porque a tribo toda via agora a natureza através dessa alegria que é a filha da felicidade. Das sementes que o Santo Sumé fornecera, tinham nascido, em touceiras imensas, s bananeiras fartas; tinham nascido os carás e as mandiocas; tinham nascido os milhos de espigas de ouro; tinham nascidos os algodoeiros, os feijões e as favas…

Sumé não achou bastante o que já tinha feito: e ensinou-lhes a arte de fabricar a farinha, moendo a mandioca: e revelou-lhes os segredos da navegação, aperfeiçoando as suas igaras rústicas, dando-lhes velas, que, como asas de pássaros, ajudassem a voar com o vento, e lemos que, como caudas de peixes, as ajudassem a cortar ondas. E toda a tribo abençoou Sumé. E em honra sua, todas as tardes, quando o pôr-do-sol ensangüentava as águas,m a tribo dançava, ao bater compassado dos tambores, em torno do grande velho, — filho querido de Tupã, pai da Agricultura, Gênio protetor dos Tamoios.

Mas os anos passaram. E, com o passar dos anos, passou a gratidão da tribo.

Os pajés, ciumentos do poder do Santo, envenenaram a alma da nação: “Como? Pois ela, tão forte, que, em todo arredor, só seu grito de guerra bastava para amedrontar todas as outras nações, ficaria sempre sob o domínio de um só homem, um estrangeiro, um homem de pele branca?”

E o rumor da maledicência crescia em torno do Santo. E, em torno dele, a rede da intriga se apertava.

E ele ouvia, e sorria. E a sua grande alma, toda sabedoria e bondade, compreendia e perdoava a ingratidão das gentes.

Uma madrugada, quando o Santo saía da sua cabana, viu formados todos os Tamoios, que vociferavam, ameaçando-o.

E todos eles estavam armados. E as fisionomias de todos eles transpiravam ódio e rancor.

O Santo Sumé quis falar. Não pôde. Uma flecha certeira, partida das fileiras dos ingratos, veio cravar-se no seu peito. O Santo sorriu. E, arrancando o dardo das carnes, atirou-o ao chão, e foi andando, de costas, para o lado do mar. Então, o ataque recrudesceu. As setas voavam, às centenas, aos milhares, todas atingindo o alvo. Sumé, com o mesmo sorriso nos lábios, ia sempre caminhando de costas para o lado do mar, e, de uma em uma, ia arrancando do corpo as setas que não o magoavam.

Quando chegou à praia, entrou pela água, cresceu sobre ela, sobre ela se equilibrou, e, sempre de costas, foi fugindo, — e sorrindo, sem amaldiçoar os ingratos a quem dera fartura.

E toda a tribo, paralisada de assombro, via, oscilando de leve sobre as ondas que o nascer do sol ensanguentava, ir diminuindo, diminuindo, até sumir-se de todo na extrema do horizonte, aquela doce figura, de pele branca com o a luz do dia, trazendo espalhada sobre o peito, até os pés, como uma toalha de neve, a longa barba venerável, cuja ponta roçava a água do mar.

Autor do enredo: Sérgio Razera

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