“­­¡Saludos a ‘Liberdade dos Fortes’!” Da Argentina para o Brasil, a Liberdade dos Fortes traz “Mi Pátria és El Tango” como enredo para sua estreia

Nome da Escola:G.R.E.S.V Liberdade dos Fortes
Data de Fundação:10/02/2024
Cidade/Estado:Villa Mercedes, San Luis, Argentina
Símbolo da Escola:Sol, Pegasus, Forte
Cores da Escola:Azul claro e Bege
Instagram da Escola:Não se aplica.
Nome do Presidente:Franco Raul Pontin
Nome do Carnavalesco:Franco Raul Pontin
Intérprete:Ainda não possui.
Outros Integrantes:Não se aplica.
Enredo:Mi Pátria és El Tango
Autor do Enredo:Elidio Junior

Sinopse:

Mi patria es el tango!

Por Elidio Fernandes Junior

Os saberes e culturas da América Latina foram sendo constituídos a partir de uma matéria prima que é a mescla de elementos estranhos uns aos outros, sem tornar esta diferença um problema. Sim, nascem de tensões, mas as dissolve. É a essência antropofágica…  

O tango nasce assim. Surgiu nos subúrbios de Buenos Aires e inclui som, ritmo, recortes e conexões, curvas dobras e encaixes sonoros e corpóreos entre o casal que dança executando, dentre tantos outros, três passos característicos: o caminharo ocho e o giro

Tango é linguagem.

Tango é ambiente.

Tango é corpo.

Tango é movimento!

A invenção da Argentina – O caminhar…

Luzes se apagam, soam os primeiros acordes… Ele: elegantemente trajado de preto, suspensório e paletó, ergue o chapéu… Ela: vestido vermelho com uma grande fenda na perna direita. Olhar decidido… o drama está posto! 

Há milhares de anos atrás, nômades asiáticos atravessaram o Estreito de Bering; que nesse período encontrava-se congelado em razão da era glacial, formando assim uma ponte natural entre os dois pontos. A partir daí o homem migrou e foi se espalhando pelo território americano… Novas civilizações foram se constituindo e o grande Império Inca e a região dos pampas passaram a ser habitados por nações indígenas… E, só então, chegaram os espanhóis com seu projeto de dominação…

Em 1516, o navegador Juan Diaz de Sólis realiza navegações pela foz do Rio da Prata, começando a colonização espanhola na região. O metal que dá nome ao rio era abundante e os indígenas que ocupavam o território foram sendo, aos poucos, conquistados e dizimados pelos europeus que queria explorar a riqueza, que também foi se tornando alvo de piratas franceses e holandeses.

O casal, aos acordes do tango, caminha em círculo tocando olhares sedutores até que seus corpos se entrelaçam formando um só. Mas que são dois… E a dança dramática do casal começa…

Buscando ampliar a dominação, foi se intensificando a formação das missões jesuíticas cujo objetivo era catequizar os indígenas guaranis argentinos. Juntos, espanhóis e guaranis, iniciaram uma grande luta para expulsar os portugueses da região do Rio da Prata e acabaram, também, expulsando da Argentina os jesuítas da Companhia de Jesus que estavam no local.

Grande parte do movimento de independência das colônias espanholas se deu quando Napoleão invadiu a Espanha prendendo Fernando VII. A partir de então, o movimento separatista entre as colônias e a Metrópole espanhola se concretizou por eventos externos como este, e não por um movimento reivindicatório iniciado nas colônias. Após a independência, uma guerra civil se instalou complicando ainda mais a organização política da região. Precisando definir-se como unidades político-administrativas autônomas foi necessária à criação de ficções-diretrizes de povo e nação, para que se pudesse alcançar o mesmo consenso ideológico que sustentava outras regiões do mundo. Somente a partir dessas ideias foram criados países como Venezuela, Guatemala, Colômbia, Bolívia e Argentina.

O casal entreolha-se com ardor e seguem o caminhar, ocupando todo o salão… da direita para a esquerda. Da esquerda para a direita. Rigidez e sedução…

Devido ao comercio que foi se consolidando em Buenos Aires, com as trocas comerciais, rotas de navios e tráfico negreiro, foi-se formando uma burguesia liberal que tinha como inspiração o liberalismo proposto por Adam Smith. Essas ideias liberais surgem a partir da invasão inglesa de 1806, cujo objetivo foi anexar Buenos Aires ao seu domínio econômico na tentativa de quebrar o monopólio comercial do governo espanhol. Diante da invasão inglesa duas formas de pensamento se formaram entre os argentinos. A primeira se apresentando com uma burguesia liberal que via a Europa como uma referência daquilo que poderia ser consolidado na Argentina, com a defesa de um Estado centralizado sob o controle portenho. A segunda com o nacionalismo em suas várias vertentes, preconizando a valorização da cultura popular, dos gaúchos e às vezes dos indígenas, rejeitando o ideal europeu. É nesse contexto que Buenos Aires se consolida frente às demais regiões do país com duas formas de pensar a nação.

Embebido pela canção, pelo drama, seduzido e sedutor, ele e ela param no meio do salão…

Gardel, o símbolo nacional – O ocho

Há um drama no ar… O casal inebriado pela tensão, começa a riscar o chão com vigor e movimentos contritos…

O tango surge da mistura: de um lado, os subúrbios de Buenos Aires pleno de nacionalismo. Do outro, as elites influenciadas pelo pensar europeu. Carlos Gardel surge neste contexto e alcança o status de símbolo nacional ao tocar dos dois pontos: se torna o mais popular dos cantores de tango e se tornou elemento fundamental do imaginário internacional acerca do que se entende por Argentina. Ele foi/é um elemento estruturador de uma identidade mediada entre o regional, o nacional e o internacional. Gardel se comunicava com todos.

A ponta dos pés dela toca o solo e parados, apenas mexendo sua perna, começa a riscar o chão…troca de lado e faz o mesmo movimento com a perna oposta… Ele inerte, servindo como base…

Disposto a defender sua língua, seus costumes e canções, Gardel dá vez e voz ao gaúcho em seu espaço enquanto representação nacionalista. Sem deixar de lado as influências da imigração europeia, acaba por mesclar toda esta diversidade cultural em um personagem de refúgio nacionalista. E assim o tango se torna a mais pura representação da Argentina ao confluir grupos populares do interior e também grupos populares urbanos com aspectos da linguagem visual e corpórea de influência europeia.

O bailar dos pés que traduz o duelo de quereres, o transbordar dos desejos do casal se intensifica e ambos passam a riscar o chão de forma sincopada com o corpo inerte, mas intensa expressividade nos membros inferiores…

Gardel cantou as diversas regiões argentinas retratando toda a pátria por meio do tango, sempre de forma elogiosa e propondo harmonia entre as diferenças. Fato que acabou por consolidar o artista e sua arte como elementos identitários de uma nação. E ainda se torna um grande fenômeno midiático de seu tempo, estando presente no cinema e no rádio, se transformando em um grande produto da indústria fonográfica, traduzindo e exportando para todo o mundo o que é ser argentino.

O trançar das pernas do casal inebriado pelo vigor dramático-passional da canção se espalha pelo salão quando deslisa pelo espaço no duelo seduzente que envolve os dois. O vai-vém das pernas dele trançando as pernas dela…pernas e pés. Olhares fixos. E se espalham por todo o espaço: o ocho!

Oratório Carlos Gardel – O giro

Ampliando seu espaço cênico, o casal vai tomando o espaço com seus giros conferindo sinuosidade ao bailar que transita por todo o salão, ganhando nova dimensão.

Originalmente estreado em Mar del Plata, em 1975 e remontado dez anos mais tarde no Teatro Colón, o Oratório é uma peça comemorativa pelo centenário do nascimento de Carlos Gardel. Musicalmente, a obra inclui uma orquestra sinfônica, coro misto, solistas musicais e um recitador. É composto por oito movimentos, cada um dos quais reflete diferentes momentos ou fases da vida do artista. 

E o casal segue girando pelo salão, espalhando sua magia portenha pelo ar, em consonância com os acordes que insistem em impor todo o drama traduzido em movimento.

Natural da Argentina, filho de Carlos e Berta, Calos gardeu faleceu em 1935, com cerca de 40 anos. Adulto e solteiro, recebeu um sepultamento cercado com as honras da Igraja Católica no Cemitériod e São Pedro. Tudocorroborado por uma reunião de anjos, durante o inverno, com o som solitário de um violão ao fundo. E a Morte, sem saber quem tinha possuído teve musical anúncio: Carlitos Gardel, que ganhou vida eterna…

Isto porque sua alma crioula nasceu no dia de Santa Guitarrita. Nasceu da melancolia do pastor gaúcho das planícies; nasceu das brincadeiras; nasceu do sorriso do padrer que convocou a todos dos subúrbios… Nasceu num murmúrio, embalado no orvalho… a Santa Guitarrita cantou contando esta história…

Carlitos viveu num circo crioulo, entre voos e piruetas e cresceu cantando, fazendo segunda voz para o som do vento.  Na pista de dança, acompanha um duelo… perdendo-se em seus pensamentos…

Duelo: a dança do casal se desenvolve em disputa de poder: Ela a conduz. Ela o domina. E a audiência embevecida aplaude a cada diro de pernas entrelaçadas…

E as virtudes, fruto das vivências, foram-se agregando a Carlitos, ao homem com seus mistérios. Guitarra e bandoleon: fogo e ternura. Muitas vozes transformam seu viver numa Babel, mas se torna a voz Divina em meio ao caos. Ela canta! E lá vai Gardel, o mago de Buenos Aires… para o mundo!

Da ópera de Paris, com um calor saudoso em seu coração, escreve uma carta ao Rio da Prata: o sol, a gaivota, os poetas, os crioulos, os prisioneiros e os pebetas…Tinha acabado de sair do palco. Pássaros-tango soltos da gaiolados sentires de Gardel: o silêncio e o sorriso causado pelas memórias compartilhadas com o Rio da Prata. Sabedor do quanto de sua vida deu ao Tango, ele  se percebe na varanda de um grande pátio cheio de reis e gênios: Gardel está lá! E é do mundo…

Os sinos choram.

O murmúrio da brisa das melodias num canto de cristal anuncia: 24 de julho de 1935.

A vida de Carlitos transfigurada em coro! 

Drama!… (é linguagem…)

No último acorde, o casal para no meio do salão. Estáticos. As luzes se apagam.

O silêncio.

As violas! (é corpo…)

E a ovação… um eterno movimento!

Obras de referência:

BALAKRISHNAN, Gopal (org.): Um Mapa da Questão Nacional. Rio de Janeiro, Contraponto, 2000.

FERRER, Horacio e SALGAN, Horacio. Oratório Carlos Gardel. Disponível em:  https://www//.youtube.com/watch?v=6EBf8k-IDog&list=OLAK5uy_lnLaohOx7RPJhKIQW29QL3k8wObTvf11I (Acesso em: 08/04/2024).

HOBSBAWM, Eric. TERENCER, Ranger. A invenção das tradições. 6 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.

KERBER, Alessander. Tango, Nacionalismo e regionalismos na Argentina no entreguerras: uma análise a partir da obra de Carlos Gardel. Revista Prâksis, Novo Hamburgo, a.13, v.2, p 54-65, 2016. Disponível em: https://periodicos.feevale.br/seer/index.php/revistapraksis/article/view/444/1534  (Acesso em: 01/04/2024)

MELO, Luiz Gustavo Bezerra de. A invenção da Argentina: história de uma ideia. Uma análise da formação do nacionalismo argentino. Disponível em https://www.encontro2020.pe.anpuh.org/resources/anais/22/anpuh-pe-eeh2020/1600975859_ARQUIVO_e1cbc4c2ebc69a98e406bb7f933ffbca.pdf (acesso em 03/04/2024)

RODRIGUES, V. O corpo e a cidade: dobras e curvas nos passos do tango. Parte 2: corpo e música na cidade. Algazarra (São Paulo, Online), n. 4, p. 67-77, dez. 2016.

Regras do Concurso:– Pelo menos uma passada do samba. – Instrumentos é a critério do compositor. – Cada compositor pode enviar quantos sambas quiser. – Áudio pode ser enviado no WhatsApp +54 9 2657 31 1667
Comentários do Facebook
%d blogueiros gostam disto: