Unidos do Paiol faz homenagem a Aldir Blanc na Edição Especial do Carnaval Virtual – LIESV

Tradicional agremiação do Carnaval Virtual, a Unidos do Paiol estará presente na Edição Especial do Carnaval Virtual em Fevereiro de 2021. Com o enredo “O dia que Aldir chegou no céu”, a escola vai homenagear Aldir Blanc, grande escritor e compositor brasileiro.

Sinopse do Enredo

O dia que Aldir chegou no céu

Por Adler Mendes

Confesso que quando comecei a escrever sobre Aldir Blanc, parti para uma literatura de cordel. Não gostei e passei para uma prosa mais bibliográfica e que tentava contar sobre Aldir Blanc… adivinha só, também não gostei. Resolvi, agora, continuar com essa crônica para dar forma a essa sinopse. Talvez, consiga, assim, o fracassado plano de explicar o inexplicável: te contar quem foi… Aldir. Nada mais justo que começar dizendo: boêmio, tijucano, sambista, músico, cantor, suburbano, compositor, cronista, escritor, neto, pai, avô e até doutor. Foi múltiplo sob sua perspectiva de olhar o mundo
.
Assim será essa sinopse, esse desfile, esse carnaval que mesmo na data que o convém, será… fora de época. Fora de época pelo período difícil em que vivemos. Pela doença mortal que nos vimos obrigados a conviver. Pelo tempo difícil que nos convida a ver o que há de pior dentro do ser humano. Confesso que tento romper as palavras aqui escritas para atingir você, leitor. Talvez num sopro de Brecth, em que romper a quarta parede para conversar com que me lê, seja, para mim, um ato de auto ajuda ou de uma companhia presente no distanciamento. Uma esperança equilibrista, contra o ano de 2020 que foi uma corda bamba. Portanto, te convido a imaginar comigo e tentar, enfim, romper o tempo, romper esse plano e achar uma fuga efetiva através das palavras e da imaginação. Criando um circo de ilusão próprio. Dito isso, a sinopse do dia que Aldir chegou ao céu está assim posta:

Talvez, quando chegou ao céu, Aldir, de cara, tenha dado “batidas na porta da frente” e visto Pedro em pé, segurando uma chave, ao melhor, segurando um surdo de marcação para celebrar aquele início de Segunda-Feira. Enquanto chorava a pátria mãe gentil, Marias e Clarisses, o céu estava em festa. O silêncio, que no nosso imaginário é o som do paraíso, nesse céu de Aldir é o “som da ralé, da gentalha, de exus catimbeiros, de canalhas”. Um som de samba celebrando o poeta dos desprezados, o filósofo dos botequins o cronista dos carnavais.
Talvez santos e santas não tenham demorado aparecer: Santa Bárbara, São João, Santo Expedito, Santo Antônio, São Jorge, São Sebastião e até Santo Antão. Bem, e como céu é de Aldir, o céu é democrático. Talvez tenha chegado Ogum com seus dez mil cavalos, exus, caboclos e orixás. Todos pedindo bençã ao “ateu, cético, cínico e escroto, nessa ordem”. Rompendo a quarta parede: nem pelo fato de ser ateu, tiraria o mérito de Aldir ter um céu só dele, ainda que o sentido de céu, aqui empregado, seja figurativo, seja uma tentativa de fuga. Funciona, como disse anteriormente, ser uma imaginação de que qualquer aparente fim seja um novo começo.

Talvez tenha chegado Seu Ceceu Rico com um taco de sinuca em uma mão e o cigarro na outra, parando, de tempos em tempos, para pegar um pouco de fôlego naqueles pulmões asmáticos. Talvez ainda Dona Helena, mais quietinha, tenha chegado também para acalentar aquele coração de outrora triste. Talvez quem Aldir mais tenha gostado de ver tenha sido seu Avô. Seu Antônio, afinal de contas, qualquer festa ele estaria dentro. E nosso Vasco hein?! Perguntaria o avô. Não importa se na segunda, na terceira ou deixe de existir: Sou Vasco. Ao que responderia Aldir. Talvez o papo tenha ficado nas glórias da memória. Do jogo contra o Bangu que Vavá não perdoou e marcou o título de 56. Do negro e do português, lado a lado, da febre alta que pegou depois da churavarada e que o fez ficar de cama causando a doença de ser Vasco da Gama.

Talvez, em certo momento da prosa Aldir tenha olhado lá de cima cá pra baixo e ficando com um tanto de “saudades da Guanabara”. Talvez tenha sentido uma nostalgia, respaldada pela acepção da palavra, o tomando por completo. Saudade de uma Guanabara longe da devastação e “contra os crimes cometidos contra a liberdade”. E talvez, lá de cima mesmo tenha regado ao Salgueiro novo alento, retirado flechas do peito do padroeiro e subido alguns ramos do seu céu para pedir piedade ao Redentor que o olhava entre folhas e nuvens. Ao que esse talvez tenha respondido através de “pipas levadas pela brisa remendando luzes do sol” que o faz relembrar da sua Tijuca. “Laranjeiras da terra, limoeiros, jaqueiras, mangueiras, goiabeiras vermelhas, uma leitura de monteiro Lobato, almoços de domingo em forma de festa, feijoadas recortadas por cervejas suadas em tinas de madeira. Talvez recordando do menino que lançou garatujas no papel sempre correndo atrás da infância.
Talvez com uns olhos marejados de saudade tenha escutado a melodia de um timbre famoso: “Olá! Prazer rever você”. Que no giro do corpo, já consciente de quem se tratava, “soube que encontraria no olhar no espelho daquela amiga sua própria face. Elis Regina girando num bailado de porta bandeira ao lado de um marinheiro, magrinho, riscando o seu céu como mestre sala. Como um almirante negro com vestes de dragão do mar: João Cândido.

Talvez tenha preparado uma mesa grande com a presença de Beth Carvalho, Betinho, Henfil, Taiguara, Clara Nunes, Tom Jobim e Beth Carvalho. Que bradariam em alto e bom som:” Glória aos piratas, as mulatas, as sereias. Glória a farofa, a cachaça, as baleias”. Uma reunião daqueles que nunca esqueceram a história de um país que vive um passado tenebroso. Dariam glória para que a memória nunca ficasse reduzida a pedras pisadas num cais.

Talvez… não

Com certeza, Aldir do seu céu estava ao redor de nuvens o glorificando por ter em vida tirado manchas torturadas através da sua música, da sua arte, do seu poema e da sua crônica! Ainda que uma parte de BraZil o estivesse menosprezado, o BraSil, a verdadeira pátria mãe gentil, Marias e Clarisses estavam chorando, porém com a certeza de que a esperança é viva, que a democracia é uma luta constante e que o show tem que continuar.

Aldir ao se despedir do Brasil que olhava lá de cima, ao se despedir do seu Rio de Janeiro, ao se despedir da sua tijuca, ao se despedir da sua vida boemia, ao se despedir do seu samba observou que o céu em que estava era o céu que já imaginava. Chegou na goiabeira branca cujo galho que se direcionava ao chão o pegou e o recolheu para as frondosas flores e o emaranhado de galhos, sempre deixando o menino dentro dele vivo e presente em cada pessoa que sempre defenderá a democracia e as lutas inglórias.

Regras do concurso de samba enredo:

O samba será encomendado

Logo oficial do enredo:

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