Camarões dos Pampas homenageará Carolina de Jesus em 2020



A Camarões dos Pampas anuncia o seu enredo para 2020. A tradicional escola, campeã em 2011 e que retornou as atividades em 2019, busca agora o título do Grupo de Acesso homenageando a escritora e poetisa Carolina de Jesus, cuja obra “Quarto de Despejo – Diário de uma Favelada” completa 60 anos. Confira a entrevista com o presidente e carnavalesco Everton Santana.

1- Porquê a escola escolheu esse enredo?

E: Carolina de Jesus foi escolhida como Enredo para 2020, no intuito de homenagear uma das primeiras Escritoras Negra do Brasil, onde sua Historia tem um valor riquíssimo, da sua infância até as suas obras .
2- Como será desenvolvido na passarela João Jorge 30?

E: A setorizição da Camarões será desenvolvida da infância de Carolina , fase adulta, e suas Obras Literárias .
3- Qual a motivação da escola pra buscar o título?

E: Sabendo o nível Alto que será o Grupo de Acesso 2020, a Camarões vai sim buscar o Titulo , mais sabendo que terá Escolas Grandes, e Fortes na Briga Também . Com Humildade e Dedicação , como foi em 2019, vamos fazer o Máximo para Obter o Exito que as escolas buscam ao Entrar na Passarela JJ30.
4- Como será feita a escolha do Samba?

E: Até o Momento a Escola pretende fazer Concurso do Samba Enrendo, vamos escolher uma Data para Iniciar os recebimentos das Obras.
5- O que os espectadores podem esperar da Camarões em 2020?

E: Uma Escola Forte, e com muita Vontade de Conseguir uma Vaga No Especial.
6- Considerações finais:

E: Esperamos que o Publico Gostem do Desfile 2020 da Camarões, como Presidente e Carnavalesco, vou fazer meu Máximo para isso. Abraços a todos, e até o Desfile 2020.

A improvável saga de Carolina de Jesus
Autor: Eric Balbinus


Carolina de Jesus é uma das personagens mais intrigantes da literatura brasileira, mais até pela singularidade de sua existência que por sua obra. Veja, não significa que a obra possa ser subestimada, é que a própria trajetória da escritora parece fictícia de tão fantástica. Quem se
depara com sua história pela primeira vez fica boquiaberto, já que pessoas como Carolina não escrevem. Negra e obviamente pobre, a escritora nasceu em 14 de março de 1914 na cidade mineira de Sacramento. Vivendo em uma comunidade rural, a filha de mãe analfabeta  -  fruto
de uma relação extraconjugal de seu pai. Apesar dos maus-tratos e da aridez da vida difícil na roça foi a convicção pessoal de sua mãe que a obrigou a frequentar a escola. A educação seria apadrinhada pela esposa de um rico fazendeiro local que se ofereceu para patrocinar a garota.
As intempéries se abateram e a garota abandonou os estudos ainda no segundo ano, mas esperta conseguiu dominar a escrita e desenvolver o hábito da leitura.
Perdeu a mãe em 1937. Carolina resolveu que uma vez sozinha no mundo o melhor era seguir o êxodo para São Paulo  –  se fixando na antiga favela do Canindé em 1947. A comunidade já extinta na zona norte foi uma das primeiras favelas da cidade, chegando a contar com uma
população de 50 mil habitantes. Aos 33 anos se dedicava a catar papelão, inclusive construiu sozinha a própria casa com madeira, papelão, lata e outros materiais que encontrava em sua lida. Pouco depois a história a coloca em contato com o célebre médico cardiologista Euryclides de Jesus Zerbini. O patrão se tornaria famoso em 1968 ao realizar a primeira cirurgia
de transplante de coração na América Latina. Na casa da família Zerbini Carolina pode conciliar o trabalho com um passatempo inviável fora dali, a leitura dos inúmeros livros da biblioteca do patrão durante suas folgas.
Carolina nunca se casou, já que sua personalidade independente a intuiu de que não valeria a pena ser governada por homem algum. O trauma veio de seu primeiro relacionamento. O companheiro era um marinheiro português com quem manteve uma relação tumultuada.
Namorado ciumento que era o português não hesitou em abandoná-la grávida de seu primeiro filho- que nasceu em 1948. A partir dali foi Carolina que não queria mais saber de casamento.
Se envolveu anos mais tarde com um imigrante espanhol e com um pequeno empresário – relacionamentos que lhe dariam outros dois filhos. Mesmo assim quem educou as crianças foi ela, sozinha e com a força do seu trabalho.
Durante todo este tempo Carolina não deixou de nutrir seu amor pelas letras, mesmo nas piores circunstâncias. Em 1950 publicou em homenagem a louvor a Getúlio Vargas no jornal O Defensor. Em 1955 começou a escrever diários em cadernos que encontrava no lixo. Começou
a registrar o cenário desolado das favelas e impressões por vezes ácidas da realidade, com relatos sobre alcoolismo, violência urbana e migração para as metrópoles. Foi esta etnografia informal do Canindé que deu origem ao “Quarto de Despejo”, “Provérbios” e outras obras.
O reconhecimento veio de forma inesperada. Corria o ano de 1958 quando o jovem repórter Audálio Dantas foi designado pelo jornal Folha da Noite para fazer uma matéria na favela do Canindé. Enquanto percorria as ruelas para ouvir moradores viu que alguns homens danificavam brinquedos instalados para as crianças da comunidade. Foi quando uma mulher os afugentou ameaçando que registraria o vandalismo em seus diários. A personagem intrigou o jornalista, que desejou saber mais da intrigante personagem. Trechos de seu diário foram publicados na Folha da Noite e no ano seguinte na revista O Cruzeiro, para onde Audálio se transferiu. Quarto de Despejo foi publicado em 1960 pela Editora Francisco Alves. O sucesso foi estrondoso. Foram vendidos 600 exemplares na noite de autógrafos e outros 100 mil ao longo daquele ano. A escritora se tornou celebridade literária, participando de eventos literários e viajando para Uruguai, ao Chile e a Argentina  -  onde foi agraciada com a “Orden Caballero Del Tornillo”.
Após o sucesso de Quarto de Despejo a vida da escritora mudou por completo. Seus relatos crus sobre a favela do Canindé renderam a inimizade de vizinhos, hostilizada pelos moradores teve que abandonar sua antiga residência. Com o dinheiro obtido pela venda de seu primeiro livro adquiriu um sobrado em Santana, na Zona Norte. Mais tarde se muda para Parelheiros, onde poderia conciliar seus filhos poderiam frequentar escolas públicas próximas enquanto ela desfrutava de uma vida mais próxima da realidade rural onde nasceu. Lançou ainda os livros
Casa de Alvenaria: diário de uma ex-favelada (1961), Pedaços de Fome (1963) e Provérbios (1963). Faleceu em 13 de fevereiro de 1977 aos 62 anos, vítima de uma crise de asma. A esta altura já era nome consagrado na literatura afro-brasileira. Após sua morte foram publicados Diário de Bitita (1977) – com recordações da infância e da juventude, Um Brasil para Brasileiros (1982) e Meu Estranho Diário e Antologia Pessoal (1996). Em 2014, as pesquisadoras Raffaella Fernandez e Maria Nilda de Carvalho Motta organizaram a coletânea Onde Estaes Felicidade, com textos originais e sete ensaios sobre sua obra e Meu sonho é escrever - Contos inéditos e outros escritos (2018), com narrativas da autora. Ao todo a obra inédita da escritora organizada por Raffaella Fernandez reúne 07 romances, 60 textos, 100 poemas, 4 peças de teatro e 12 letras para marchinhas de carnaval.

Regras do Concurso de Samba:

As regras serão divulgadas pela escola em breve

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