Carnaval Virtual 2023 – “Kahwe! O Aroma Negro.”, é o enredo da Bambas de Ouro para o Carnaval Virtual de 2023

Confiante em apresentar um belo espetáculo, a Bambas de Ouro, vem com o enredo “Kahwe! O Aroma Negro.”, criado por Maurício Vianna e que será desenvolvido pelo carnavalesco Wuerley Lima.

Confira a entrevista concedida pelo presidente, Maurício Vianna:

1- Como conheceu a LIESV e por que a escolheu?

Conheci a LIESV em 2013, quando durante pesquisas sobre o mundo do carnaval, equivocadamente digitei LIESV ao invés de LIESA. Pronto, desde então entrei em um processo de imersão ao mundo do carnaval virtual ao ponto de, poucos meses depois, fundar a Bambas de Ouro.

2- Qual a história da sua escola, como e onde foi fundada, qual o motivo, quais as cores, símbolo e nome?

A E.S.V Sociedade Bambas de Ouro foi fundada em 10 de agosto de 2013, por seu atual presidente Maurício Vianna e o querido amigo Maurício Lanner, o qual defendeu nosso pavilhão por muitos anos. Da vontade de viver o carnaval em sua plenitude, ambos tomaram por decisão fundar a Bambas de Ouro, e assim serem parte do processo construtivo de um desfile.

Natural de São Gonçalo, RJ, a Bambas de Ouro ostenta como seu símbolo maior o pandeiro, que simboliza a raiz do samba, da boêmia. Já suas cores e nome tem por homenagear a escola paulista Rosas de Ouro, trocando no entanto o termo “rosa” por “bambas”, plural daqueles que têm por essência o gingado.

Curiosamente a denominação Sociedade, usada pela escola paulista, não fora adotada na fundação da Bambas de Ouro, sendo no entanto inserida neste ano, o qual completa 10 anos em defesa do samba virtual.

3- Qual será o enredo da sua escola e como ele será contado na passarela virtual (quantas alas, alegorias e demais elementos)?

“Kahwe! O Aroma Negro.” será nosso enredo para 2023, no qual contaremos a história do café, desde sua descoberta, através da lenda de Kaldi, até os tempos atuais, em uma mescla de sua popularidade nas ruas e sua influência nas religiões afro-brasileiras.

Abordaremos ainda no correr do desfile a expansão do grão do café por todo o Oriente e Ocidente, e sua importância para o Brasil, seja em face do crescimento econômico e industrial, ou na construção da identidade histórica e cultural do povo brasileiro.

Quanto ao número de elementos de desfile preferimos trabalhar de maneira aberta, sem fixar números durante o processo criativo. O que existe é uma base necessária, uma estrutura mínima composta por 17 alas, 04 alegorias, 02 casais, 02 tripés e 04 destaques de chão.

4- Como a equipe da sua escola foi montada e quem faz parte dela?

Sociedade Bambas de Ouro é uma escola de coração, aqueles que por ela passam dificilmente se desligam. Portanto nossa equipe seguirá em grande parte a mesma, com Maurício Vianna na presidência e Wuerley Lima como carnavalesco e diretor de carnaval.

No carro de som, buscaremos o melhor ou a melhor profissional possível. Contudo
, no momento ainda não temos este nome definido, tendo em vista o não fechamento de agenda de gravação dos estúdios parceiros, a qual precisa coincidir com a agenda dos profissionais.

5- E o samba enredo, vai fazer eliminatórias de samba ou vai encomendar? Se for eliminatórias, quais as regras da disputa, pra onde os compositores devem mandar os sambas e etc?

O samba enredo está sendo escrito por encomenda aos talentosos Daniel Segatto e Maurício Oliveira, os quais compuseram a nossa obra em 2021, e possuem vasto trabalho musical no carnaval virtual e real.

Portanto, certamente nosso samba-enredo apresentará as qualidades necessárias para levantar o folião virtual e representar toda a força, importância, popularidade e fé que traz o fruto e o grão do café.

6 – O que você e sua escola esperam do Carnaval Virtual 2023, tanto de vocês quanto das coirmãs?

Para 2023 esperamos um carnaval ainda mais competitivo do que foi o de 2022. Esperamos, também, que nosso retorno, assim como o de outras co-irmãs, seja o gás motivador para novos tempos na LIESV, onde possamos juntas dar início a um tempo ainda mais tecnológico e com muitas mais possibilidades de criação e apresentação.

Esperamos por fim que seja este carnaval a vitrine, a porta de entrada, para muitos dos nossos profissionais virtual ao mundo do carnaval físico, e claro não nos falta na confiança de nosso trabalho a certeza de um belíssimo espetáculo da Sociedade Bambas de Ouro.

Confira abaixo a sinopse do enredo da Bambas de Ouro para o Carnaval Virtual 2023:

Sinopse

Setor 1 – A Lenda de Kaldi e o Ritual do Café

Abssínia (Etiópia), África.

O berço do café.

Conta a lenda, que certo dia um pastor de cabras, chamado Kaldi, percebeu que seus animais ao se alimentarem de alguns arbustos que cresciam por volta das montanhas de Kaffa experimentavam um frenesi constante que os deixavam inquietos e saltitantes. Curioso quanto aos mistérios do fruto daquele arbusto, Kaldi tomou deles em suas mãos e naquele momento experimentou da mesma sensação de seus animais. Durante toda a noite foi impossível conter a animação. 

Dias depois, Kaldi juntou alguns ramos do arbusto e os levou aos monges da região. Estes, ao prepararem uma infusão, experimentaram da mesma sensação que o pastor e seus animais. Logo, adotaram a bebida, em suas longas jornadas espirituais de meditação.

Da descoberta deste fruto e de sua apreciação, surgiu na região a tradição do preparo da infusão. O Ritual do Café, por séculos, vem sendo guiado por mulheres e são acompanhados por incenso e muita pipoca.

Setor 2 – A Expansão do Café Pelo Velho Mundo

Os árabes, quando tomaram conhecimento da bebida do café, buscaram para si o traquejo do plantio de seus arbustos, e assim deram por iniciar sua expansão por todo o Oriente Médio. Outrora, foi na Pérsia que surgiram os processos de torra e moagem do grão, aquecendo ainda mais o comércio árabe.

No entanto, com o avanço das viagens marítimas em busca de especiarias, os holandeses deram por conta de fazer chegar, o café, em todo mundo. Ao chegar à Europa foi expurgado pela igreja católica, pois o julgavam sendo a bebida do diabo, o que deixou de ser tempos depois com a ascensão de Clemente VIII ao papado católico.

Do batismo papal, o café ganhou paladar europeu. Tão logo se tornou popular, passou-se a abrir, em todo continente, espaços próprios para o consumo da bebida. Frequentadas pela elite européia, as Casas de Café eram dotadas de todo o requinte arquitetônico, e contavam com louças e mobiliários extremamente luxuosos.

Setor 3 – O Café no Brasil

No Brasil, tendo por missão “esconder algum par de graons com todo o disfarce”, Francisco de Melo Palheta – militar a serviço da coroa portuguesa – seguiu rumo às terras francesas ao norte do Grão-Pará. Do êxito da missão chegaram mudas e grãos em número suficiente para mudar a história sócio-econômica do país.

Explorando a mão de obra escrava, os produtores brasileiros muito rapidamente iniciaram as plantações de café nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Estes, chamados de “Barões do Café”, concentravam consigo terras, riquezas e forte capital político. Tendo, pois, chegado o tempo do Império do Brasil, iniciou-se o processo de industrialização, o qual rapidamente fez do país fonte de riqueza e progresso. No entanto, com todo fervor da industrialização cresceram os movimentos abolicionistas e pouco depois, os senhores do café, junto ao Império, passaram a estimular “parcerias” com imigrantes europeus que chegavam as dezenas de milhares, em sua maioria de origem italiana. Com o fim do Império e o início da República, no entanto, o surgimento de novas figuras políticas, para capitanear a economia cafeeira, foi inevitável. Estabelecida por Campos Salles, a república do café com leite mantinha a alternância de poder sob o domínio exclusivo dos oligarcas paulistas e mineiros.

Assim, em meio a todo fervor da economia cafeeira via-se nas telas de Debret e Portinari o abismo social existente entre os escravos e senhores, e lavradores e senhores. O negro café e o negro homem, ambos que vieram de África se juntavam em meio a histórias de luta, tal como gravou a história em o “Comboio de café rumo à cidade”, “Café” e tantas outras telas.

Por fim, ao passar dos anos, o café seguiu sendo fonte importante de renda aos brasileiros. Hoje, o país, ao manter-se como grande exportador do produto, tendo forte estrutura portuária para escoamento de seus grãos, herança do passado, faz firmar no comércio exterior seu café tipo exportação.

Setor 04 – Nas ruas e na Fé.

O grão negro que veio de África, donde seu fruto serviu de alimento a cabras, caiu nas graças do povo brasileiro e se tornou uma bebida democrática. Seja em bares sofisticados, ou mesmo em botequins, atualmente, o café sempre está presente no dia-a-dia da população, ora como bebida, ora em doces e chocolates. A verdade, é que de tão popular, o café faz parte da culinária nacional.

Nas crendices, há quem diga que derramar café na roupa traz azar, ou que beber da xícara do marido é sorte ao casal. Ainda que não passem de superstições, o fato é que muitos confiam verdadeiramente nestas teorias, onde para ter sorte ou azar é melhor ser aliado do café.

Para terminar, ao toque dos tambores da fé, o café – grão negro que veio de áfrica – encontra na umbanda seu irmão de raça, ao qual chamamos de preto velho. Aos filhos da fé, o café é purificação, banho e oferenda. Fonte de limpeza espiritual e renovo é parte essencial dos trabalhos, que pelas mãos de seus griôs (pretos velhos), quebra demanda e afasta miasmas.

O café é negritude, história de luta, progresso e religião.

No terreiro, Saravá Preto Velho!

Sua bênção e proteção.

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