Nome da Escola: | GRESV PARACAMBI IMPERIAL |
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Data de Fundação: | 07/02/2014 |
Cidade/Estado: | PARACAMBI – RJ |
Símbolo da Escola: | CURIÓ IMPERIAL |
Cores da Escola: | AZUL, VERDE E BRANCO |
Instagram da Escola: | @PARACAMBIIMPERIAL |
Nome do Presidente: | KARINE PIRES MOREIRA |
Nome do Carnavalesco: | GLEISON FERREIRA MAURÍCIO |
Intérprete: | RAFAEL FAUSTINO |
Outros Integrantes: | MARCIA PIRES MOREIRA – PRESIDENTE DE HONRA THIAGO HENRIQUE – VICE – PRESIDENTE E DIRETOR DE CARNAVAL |
Enredo: | PARACAMBI COM A BOCA NA BOTIJA – UM CAUSO BRASILEIRO DO QUAL NEM TUDO QUE RELUZ É FLORIM DE OURO |
Autor do Enredo: | GLEISON FERREIRA MAURÍCIO |
Já dizia o clássico samba-enredo do jegue em outros carnavais, que lá pelas bandas do nordeste brasileiro “ecoam pelo ar, estórias de tesouros escondidos”. De boca em boca. De geração em geração. São histórias que rompem a barreira do tempo e se recusam a morrer permanecendo vivas na memória do povo até os dias de agora. A Paracambi Imperial vem se embriagar em comemoração, e, contar tintim por tintim de um causo antes nunca contado. Primeiramente não custa lembrar que, um bom conto se conta bebericando, e sabendo-se disso, caímos com a boca na botija para nos embebedarmos de felicidade em “água” que até curió bebe.
Diferente de outras histórias quando o beijo normalmente só aparece no final, nessa ele se dará logo de início. O encontro entre lábios e gargalo se tocando numa mistura de sentimentos e prazer marca este começo. Contam que no Velho Mundo, em terras gélidas e distantes, uma gente do olho azul para celebrar já bebia na boquinha da garrafa. Era por costume nos Países Baixos, guardar a saborosa bebida jenever, genebra ou zinebra, num recipiente de barro vidrado e quase sempre alado. Objeto esse, retratado em várias obras barrocas em óleo sobre tela do pintor flamengo David Teniers. A esse recipiente que guardava a popular bebida destilada consumida nas tavernas holandesas e belgas, lhe foi dado – não se sabe por quem, como, quando, ou onde – o nome de botija. Tratava-se de uma peça de cerâmica, curta, bojuda e as vezes de uma asa só, que além de ser prática para servir também facilitava no transporte dos inebriantes líquidos. Quem poderia imaginar que um objeto tão simples como esse um dia se tornaria um dos maiores desejos por parte de uma nação?
No século XVII novos rumos a botija surgiriam com a invasão holandesa ao Brasil, colônia portuguesa que naquele momento estava sob o domínio espanhol devido a União Ibérica. A princípio o plano era tentar conquistar Salvador em 1625, mas não obtiveram sucesso. Cinco anos mais tarde, com objetivos mais ambiciosos e melhor preparados, os laranjas tiveram Recife, capital da capitania de Pernambuco, a mais próspera da colônia, como novo alvo. O ataque contou com 56 velas holandesas tendo a bordo mais de sete mil homens, esses em sua grande maioria formado por mercenários europeus dos mais perigosos e violentos já vistos. Recife cai e assim se inicia em Pernambuco um domínio holandês que duraria por quase trinta anos.
Mas… e a botija? Ela, assim como outros objetos, desembarcava aos montes no Brasil colonial trazidas pelos holandeses em seus navios, e por aqui foram reaproveitadas, ganhando outras funções. A zona canavieira pernambucana possuía, no início do domínio holandês, cerca de 30 engenhos e 70 pequenas edificações, em diferentes lugarejos, onde se fabricava açúcar, o que proporcionou o aparecimento de grandes fortunas para os senhores de engenho da época. Preocupados em manter seus bens de forma segura, os senhores passaram então a utilizar os referidos recipientes para enterrar suas riquezas em moedas de ouro e de prata, até joias, talheres e canecas de materiais valiosos. Práticas comuns num período em que não existiam bancos.
Os séculos passaram.
Foi quando em 1967, trabalhadores encontraram um fabuloso pote de moedas enquanto removiam terra para a construção de uma estrada no Engenho Jindai, localizado na cidade de Rio Formoso, Litoral Sul de Pernambuco. O motorista Manoel Crispin (um dos trabalhadores) dirigia na ocasião um caminhão caçamba, e esperava que o tratorista Raimundo o enchesse para transportar o barro. Em certo momento, o tal Raimundo teria gritado: “Crispin, parece que a escavadeira quebrou alguma coisa, veja o que é…” Crispin ao chegar na beira do riacho de onde estavam trabalhando teria se deparado com um “botijão de barro quebrado”, contendo nele vários “quadradinhos de cor preta”. Além de supostos florins (moedas holandesas) cunhados no Brasil em ouro puro explorados da Guiné no século XVII, também constariam na botija copos de ouro, medalhas, placas de ouro e barras de prata e cobre.
O achado tomou proporções grandiosas e causou o maior rebuliço na circunferência daquela pequena cidade. A descoberta atingiu o âmbito nacional quando foi noticiada pela mídia escrita, atraindo dessa forma, curiosos e colecionadores de toda parte do país, inclusive estrangeiros. A botija provocou uma verdadeira corrida ao ouro. Pessoas investiriam suas economias e colecionadores trocariam valiosas moedas por aquelas que supostamente seriam os legítimos florins holandeses. A fama em volta da botija criou o cenário perfeito para a ação de espertalhões com a aplicação de pequenos golpes em cima de desesperados aventureiros, muitos deles na expectativa de adquirir alguns exemplares do tesouro, inocentemente caiam na lábia dos golpistas. Havia um comércio sendo feito a céu aberto e livre. Anéis, brincos, cordões, broches, talheres, pratarias, enfim. Qualquer objeto de família estava sendo negociado pelas ruas da cidade como parte do rico achado. Era o efeito do selo “botija de Rio Formoso”.
O passar da euforia da botija de Rio Formoso revelou narrativas que vão atravessar essa história e se multiplicar em seu percurso. Narrativas movidas pelo desejo de riquezas e pelas crenças de riquezas encantadas, criando dessa maneira práticas culturais. Será comum encontrar moradores da região que vão relatar histórias de sonhos, lendas ou de encontros com o sobrenatural, espíritos assombrados que trazem sinais indicando a localização de outros tesouros. A botija tornou-se desejo de sonhadores dos mais comuns mortais, que almejam mudança de vida e são seduzidos por seus encantos. Encantos esses inspiradores não apenas para a população que desenvolveram suas próprias versões sobre o ocorrido e as transmitem através da oralidade, mas também para escritores e cordelistas. A história será desdobrada pelo poeta nos versos do cordel “Vamos arrancar a botija”.
“Quem mora em Rio Formoso Trapiche ou Serinhaem Está achando moedas De ouro e prata também Apanha moeda no chão Troca por nota de cem (...) Tem muita gente cavando De enchada e chadecão (sic) E com colher de pedreiro Com cavador e com a mão E mais de mil curiosos Que vai prestar atenção” (SOARES, s/d, pp. 1-8).
Esse caso se tornou o mais famoso e estudado da história da numismática do Brasil. No entanto, os especialistas no estudo em moedas antigas defenderão unanimemente que o achado da botija de Rio Formoso não passou de uma grã farsa, uma grande ilusão. A moral desse causo é nos ensinar algo mais valioso do que as moedas holandesas, a lição de que nem tudo aquilo que vai reluzir deve ser considerado um florim de ouro, ou seja, de que as aparências enganam. O nosso tesouro, aquele para especialista em numismática nenhum duvidar, nós já encontramos. A Paracambi Imperial hoje, modéstia à parte, é o valioso recipiente que armazena conhecimento e alegria. Uma grande botija cultural que está há 10 anos colecionando relíquias para o Carnaval Virtual inteiro se orgulhar e da qual todos podem beber. Então, permita-se essa noite, a se esbaldar nas maravilhas dessa botija, pois é tempo de festejar.
Autor do enredo: Gleison Maurício
SETORES
1 – Com a boca na botija das tavernas holandesas
2 – O Brasil holandês e a chegada das botijas
3 – O achado da botija de Rio Formoso e a corrida do ouro
4 – Encontro de narrativas: A botija contada pela memória de um povo
5 – Paracambi: Uma grande botija cultural
REFERÊNCIAS
BEZERRA, Rubens Borges. Moedas Holandesas em Pernambuco – Dutch Coins in Pernambuco. Recife, Pernambuco, Brasil, 1980.
CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Coleção Terra Brasilis. 10ª ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998.
CIPRIANO, Maria do Socorro. A botija de rio Formoso e outras histórias. CLIO: Revista de Pesquisa Histórica, v. 28.1, p. 1-24, jan./jun. 2010. Semestral. Disponível em:
<https://periodicos.ufpe.br/revistas/index.php/revistaclio/article/download/24237/19659
/48341>. Acesso em: abr. 2024.
HENRIQUES, R. D. Afonso. Estudos Sobre as Primeiras Moedas Brasileiras – As Absidionais. 2004. Disponível em: <https://www.forum- numismatica.com/viewtopic.php?f=52&t=31628&p=285640&hilit=Ao+Sr+Bas+Pieter
+Jansen+Bas+%2C+nosso+colega#p285640>. Acesso em: 3 abr. 2024.
Regras do Concurso: | – O samba deverá conter (ao menos) uma passada do samba concorrente, podendo ser utilizados instrumentos,cordas e bateria (opcionais); – Os sambas podem ser compostos de maneira solo, ou em parcerias; – Podem ser enviados quantos sambas desejarem (por compositor, ou parceria); – Data limite para entrega do samba: 31/05/2024; – Os sambas devem ser enviados para o WhatsApp 21 98451-3817 (Thiago Henrique – Diretor de Carnaval) |
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