Depois de bater na trave em 2021 e quase subir para o Grupo Especial, a verde e branco de Niterói apresentará no Grupo de Acesso do Carnaval Virtual 2022 o enredo: “Espelho da Vaidade”. De acordo com a escola, nessa narrativa, a vaidade não se porta exatamente como uma qualidade meramente humana, mas divina. A equipe da Imperatriz Cubango é exatamente a mesma desde 2020, sendo composta pelo carnavalesco Fábio Henriques, pelo enredista Elidio Fernandes, pelos intérpretes Thiago Brito e Millena Wainer e comandada pelo presidente Marcus Lopes.
Confira a entrevista cedida pelo presidente, Marcus Lopes:
1- Como conheceu a LIESV e por que a escolheu?
R.: Meu primeiro contato com a LIESV foi em 2018 através do Facebook, quando encontrei, por acaso, uma escola virtual com disputa de samba aberta. A partir daí, além de alguns sambas feitos, surgiu o desejo ainda incipiente de fundar uma escola de samba virtual.
2- Qual a história da sua escola, como foi fundada, qual o motivo, quais as cores, símbolos nome?
R.: Fundei a Imperatriz Cubango há um pouco mais de 2 anos na cidade de Niterói/RJ. Ela faz aniversário a cada dia 17/12 (dia de São Lázaro) tal qual a Acadêmicos do Cubango, uma das nossas inspiradoras. Por também nos inspirarmos na Imperatriz Leopoldinense, escolhemos as cores verde e branco, tendo como símbolos a Coroa, o Partenon e a Imperatriz preta. Como signo dessa união de DNAs, procuramos conduzir a escola com uma forte identidade cultural preta, trazendo enredos históricos. Acredito que ainda há muito o que explorar dessa característica.
3- Qual será o enredo da sua escola e como ele será contado na passarela virtual (quantas alas, alegorias e demais elementos)?
R.: “Espelho da Vaidade” é um misto de enredo factual e autoral. Nessa narrativa, a vaidade não se porta exatamente como uma qualidade meramente humana, mas divina. Pois ela nos ajudou a entender a história de sociedades, construir diversos relacionamentos com a fé, também contribuiu para o avanço da ciência e da economia. Talvez não seja tão negativa quanto dizem, não é mesmo?!
4- Como a equipe da sua escola foi montada e quem faz parte dela?
R.: Nossa equipe é exatamente a mesma desde 2020, sendo composta pelo carnavalesco Fábio Henriques, pelo enredista Elidio Fernandes e pelos intérpretes Thiago Brito e Millena Wainer, está última se juntou a nós no último desfile.
5- E o samba enredo, vai fazer eliminatórias de samba ou vai encomendar? Se for eliminatórias, quais as regras da disputa, pra onde os compositores devem mandar os sambas e etc
R.: O samba será encomendado, como tradicionalmente conduzimos os trabalhos na Imperatriz Cubango.
6- O que você e sua escola esperam do Carnaval Virtual 2022, tanto de vocês quanto das coirmãs?
R.: Esperamos um Carnaval Virtual extremamente forte, os enredos até então divulgados são de excelente qualidade e prometem render ótimos desfiles e sambas. Quanto a nossa escola, esperamos dar um passo a mais em nossa qualidade visual, escrita e musical. Esperamos nos consolidar como uma escola competitiva e, principalmente, que tem mensagens relevantes para transmitir, indo além de um desfile.
Confira abaixo a logo e a sinopse do enredo da Imperatriz Cubango para o Carnaval Virtual 2022:
“Espelho da Vaidade”
Quem sou eu?
Quem é você?
No Reino de Momo, seja real ou virtual, baila no ar a vaidade foliã. Carnaval, festa da libertação dos Eu’s onde personas se reconstroem compondo um painel humano diverso, onde quase todos buscam re-conhecimento. Seja pela palavra escrita, seja pela palavra cantada, seja pelo desenho, seja pelo discurso ou pelo poder (Carnavalescos(as), enredistas, compositores(as), rainhas , reis, musas(os) e dirigentes…). Essa multiplicidade de quereres eleva o folião aos postos de reis e rainhas do carnaval, donos de verdades absolutas com seus egos massageados pelo status conquistado. Ninguém quer ser apenas mais um… Todo folião quer brilhar de alguma forma…
As máscaras que compoem estas personas não são exclusividade do festejo de Momo… São máscaras da vida que acabam em carnaval!!! Ninguém samba de cara limpa…
De onde vem esse mundo momesco, assim configurado? Eu o criei…
O cotidiano desmascarado revela uma humanidade entristecida… Estas faces que disfarçam as vidas de cada um dão vazão a um sorriso que sustenta as vaidades humanas, acobertando as tristezas, pelo prazer de ser feliz.
É neste jogo do revela-esconde, tão igual desde sempre, embora diferente, que ocultam-se cicatrizes, flagelos dos preconceitos que ferem. O que faz com que uma pessoa se julgue superior a outra? A vaidade que gera a imposição deste pensar gera ações dolorosas. E as máscaras da vida desconstroem os ethos oprimidos… Tornam opressores! Todos querem ser aceitos…
E você, já sofreu algum preconceito? Agiu preconceituosamente?
O homem, vaidoso como o que, vê em cada situação uma oportunidade para se empoderar, se impor, com ou sem máscaras…
Hoje, novos deuses comandam nosso viver. Você já pensou nisso? Isso não me aflige porque sou o Todo Poderoso. Mas…
Os deuses tradicionais, de raízes mitológicas gregas, romanas, cristãs, indígenas etc, estão perdendo fiéis para um panteão de outros mais novos que refletem o mundo contemporâneo: o Poder, a Mídia, a Tecnologia… O Homem, tão sábio é facilmente manipulado neste novo mundo. (E quando não foi?…) Tudo que é vão, que só existe na fantasia, no campo do ilusório, provoca a necessidade do merecimento da admiração alheia: a autoafirmação esnobe da própria identidade em prol da aceitação social. A opressão da felizlândia e a ditadura da beleza são frutos desse mundo em que vivemos. A publicidade vende aquilo que ocupa as lacunas do ser, a mídia preenche os vazios. A agonia de encontrar um um lugar no mundo a todos cega.
Será que se orgulhar de não ser devorado por este universo também não é uma vaidade?
A vaidade está em tudo: “Espelho, espelho meu….existe algém mais bela do que eu?”. “Quem não gosta de samba bom sujeito não é: ou é ruim da cabeça ou doente do pé”. “As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”…
Todo filósofo é vaidoso! A vaidade do pensar e conhecer… Assim como a vaidade intelectual esconde inseguranças, a vaidade física esconde as rugas. E tudo se trata de fugas dos vazios existenciais. É preciso deixar a vaidade para aqueles que não tem outra coisa para mostrar… Até por que a vaidade é o medo de parecer original.
Será que sou vaidoso?
Ah, esses tolos vaidosos reis… Não são como eu, o Rei dos Reis! Jamais o serão…
Tutancaten anulou, quando assumiu o reinado no Egito Antigo, a proibição do culto de Amon, com seus privilégios divinos restaurados. Foi quando assiumiu o nome Tutancâmon: “Imagem viva de Amon”. Sua fama se deve principalmente a suia tumba muito bem preservada e das exibições globais de artefatos a ela associados. O Faraó do Egito que fora um dos menos estimados em vida se tornou, em morte, o mais renomado. O reinado de Nero é associado habitualmente à tirania e à extravagância. É recordado por uma série de execuções sistemáticas, incluindo a da sua própria mãe e o seu meio-irmão, e sobretudo pela crença generalizada de que, enquanto Roma ardia, ele estaria compondo com a sua lira, além de ser um implacável perseguidor dos cristãos. Luis XIV acabou por se auto-aclamar “O Rei-Sol”. Ele pretendia se igualar ao astro-rei, aquele que brilha para todos quue aquece e dá vida à humanidade. O sol se tornou, então, o emblema de Luis XIV. Uma forma de demonstrar a seus súditos que seus poderes eram inesgotáveis e ilimitados. Tudo é vaidade! Em Eclesiastes, o filho de David é maravilhoso. Salomão é o Rei mais rico, mais inteligente, mais sábio, mais poderoso… Mas critica a vaidade… A vaidade é a mentira que contamos sobre nós mesmos para não encararmos nossas verdade… Será?!
Em Apocalipse podemos ler que o rio principal em Éden flui do Meu Trono e do Cordeiro e que a árvore da vida está na margem deste rio. Em seguida no livro de Gênesis lemos que este mesmo rio que sai em Éden para regar o jardim se dividindo em quatro rios; Pisom, Giom, Tigre e Eufrates. Assim, no Jardim do Éden temos duas arvores (arvore da vida e a arvore do conhecimento do bem e do mal); um rio que saía para banhar o Jardim e se dividia em quatro braços – Pisom, Giom, Tigre e Eufrates; uma natureza que era plena, tudo que era plantado dava fruto numa velocidade maior – devido ao canópio; a vida era completamente inocente; Eu mesmo caminhava nele (o Meu Jardim). Para habitar esse Jardim, criei Adão do pó da terra e o coloquei lá. A ele foi dito que ele podia comer livremente de todas as árvores no jardim, exceto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Só então, Eva foi criada a partir de uma das costelas de Adão para fazer-lhe companhia. Eles eram inocentes, sem vergonha da sua nudez. No entanto, uma serpente engana Eva, convencendo-a a comer o fruto da árvore proibida. Ela deu também a fruta para Adão. Esses atos lhe deram conhecimento adicional, mas também noções negativas e destrutivas, como o mal e a vergonha. Não sei porque, mas amaldiçoei a serpente e a terra, e disse à mulher a ao homem que haverriam consequências pelo pecado da desobediência. Foram banidos do Jardim do Éden. Adão e Eva desafiaram a perfeição…mas que perfeição?
Ora, mas serei Eu a serpente e o fruto?
Se TUDO fora criado à minha imagem e semelhança, será que em mim habita também o mal? Será que Eu onipotente, onipresente, senhor de tudo, eterno… Será que em Minha infinita grandeza e bondade, criei o Homem para reforçar Minha absolutamente? O livre arbítrio é uma criação divina? Se sim, todas as opções ofertadas também o são…
Vaidoso como o que, Eu preciso da humanidade tal como esta se apresenta para sobreviver, vivendo na experiência de ser sempre inferior, nada, vazio…
“É que Narciso acha feio o que não é espelho…”
Autores do enredo: Elidio Fernandes Jr. e Fábio Henriques