Lambe-Sapo apresentará um enredo “Baseado na Lei do Samba” no Carnaval Virtual 2024

Nome da Escola:Grêmio Recreativo Escola de Samba Virtual Lambe-Sapo
Data de Fundação:20/04/2024
Cidade/Estado:Rio de Janeiro – RJ
Símbolo da Escola:Anuro (Sapo)
Cores da Escola:Verde e Branco
Nome do Presidente:Pernil
Nome do Carnavalesco:Ewerton Fintelman e Joleno de Niterói
Intérprete:Em Negociação
Outros Integrantes:Vice-Presidente: Joleno de Niterói
Diretor Musical: Jason Molina
Enredo:Baseado na lei do samba
Autor do Enredo:Ewerton Fintelman

Tem gente botando fogo no verde. Que viagem! E tem quem queira colocar fogo em quem coloca fogo no verde. Que bad trip! Mas desde que o mundo é mundo a Cannabis sativa está aí. Quer dizer, pelo menos desde que algas marinhas conseguiram colonizar o ambiente terrestre e desenvolver raízes e outros órgãos que só uma aula de evolução e anatomia vegetal explicariam. Mas não precisa falar de biologia. Se tinha planta com raiz, a Cannabis estava lá. Antes de nossa espécie e antes de muitos de nossos ancestrais.

Há estudos moleculares que corroboram que a Cannabis surgiu na Ásia Central e meridional. Antes do nosso senhor Jesus Cristo pisar na Terra, a humanidade já gostava da planta. A propósito, é bom salientar: ninguém encontrou, até o momento, nenhum escrito atribuído a Jesus proibindo a “erva”. Estima-se que há 9 mil anos já havia exemplares da nossa espécie inalando fumaça de Cannabis. Que onda velha, hein? E você achando que seu avô só fumou palha.

Mas não foi a fumacinha que popularizou a Cannabis num primeiro momento. Suas sementes oleosas com excelentes propriedades e, claro, a fibra de cânhamo popularizaram a planta. Faziam roupa, corda e tudo o que pudesse ser útil na produção têxtil. Pois é, que animal! Quem te viu legal, hoje te vê marginal.

No Renascimento, a Cannabis representava um produto agrícola de grande valia. Além das utilidades já citadas, começou-se a fazer papel e até mesmo telas para pintura. Até a palavra “canvas”, que é designada para descrever uma tela, vem de cannabis. O óleo sobre tela significa literalmente “tinta na maconha”.

Ah, é necessário falar desse termo “maconha”. Esse é brasileiro. E por aqui é difícil falar do assunto. Se você for preto, pobre e favelado então, é melhor nem pensar muito. Se você for bem aceito aos olhos das autoridades, é só tomar um pouquinho de cuidado e nada te acontecerá. Nem preciso falar daqueles clichês de que existem vários Brasis. É uma brasa…

Pensar que Dom João VI, quando trouxe a corte portuguesa ao Brasil, mandou que plantassem o cânhamo por onde fosse possível! Logo ele, que se fazia regente por ter uma mãe louca! E do cânhamo se fazia vela para as embarcações e vestimentas para adornar a nobreza. Eu posso jurar que há registros históricos até de Dona Carlota Joaquina bebendo um chazinho de Cannabis. A Cannabis estava na família real antes mesmo daquela diarreia que Dom Pedro teve no Ipiranga. E vocês aí achando que Dom João só gostava de sapoti, hein? Inocentes!

Mas se pensam que foi Dom João VI que trouxe o cânhamo, Cannabis, ganja, maconha, ou como queira chamar, para o Brasil, enganam-se! Os pretos escravizados vindo da África trouxeram o “fumo de Angola” ainda no século XVI. Ah, esses pretos maravilhosos! Como devemos a eles. Tanta cultura, tanta comida, tanta representatividade. E ainda nos trouxeram Cannabis! E pensar que por aqui a “onda” era o tabaco. Tolice!

Mas como tudo que tem “culpa do preto”, pretificado, precificado e petrificado é. Assim foi com a planta. Já no século XX, após o fim da escravatura e o início da liberdade condicional eterna do preto, o fumo de Angola começou a incomodar. Acende lá, apaga cá. Proibiu-se. Como assim? Não nasce como qualquer outra planta na natureza?

Anos depois, bastava um cigarrinho de ganja para o cidadão “puxar uma cadeia” braba. O assunto foi proibido. A Cannabis tinha virado de vez maconha. Era perfeito, pois para qualquer clérigo é simples explicar que, se fosse bom, não seria “má conha”. Impressiona a etimologia aos olhos de algumas teocracias.

Foi preciso muita gente apanhar e morrer. O verde da medicina da vida chegou a se tornar vermelho como sangue. Nem um verão pra lá de “brisado” conseguiu fazer a cabeça de quem falava mal da “maldita erva”. Logo no Rio de Janeiro, no berço da África, como uma retro-oferenda que veio do mar, um dos mais pitorescos episódios: o “verão da lata”. Era tanta ganja pra pouca gente. Até quem não era de dar um tapa viu que um tapinha não dói.

Depois de viver muita guerra, o mundo estava meio de saco cheio de tudo. Nós ainda vivemos um regime de morte por décadas no Brasil. E quando acabou, muita gente pôs a boca no trombone. Tim Maia levou a cultura do fumo do “baurete” por onde passou. Rita Lee “mocozou” em todos os lugares possíveis. Os Mutantes lançaram até disco. Bezerra da Silva falou dela com amor e bom humor. Marcelo D2 escrachou e quebrou tabus. Deu para sonhar que o fumo de Angola seria finalmente reconhecido como algo positivo.

A Gaviões da Fiel levou o tabaco para a avenida e advertiu que faz mal ao coração e ao pulmão. E essa parte a gente não questiona. É verdade que fumar não faz bem. Mas quando começou a ganhar força o papo de que a Cannabis não servia só para fumar e “ficar bruxão” ou para fazer fibra de cânhamo, a planta foi, comprovadamente, declarada medicinal. Uma infinidade de substâncias que podem curar ou atenuar diversas doenças. A natureza dá o veneno e a cura. E para quem achou que era veneno, fuma que não é de uva! É medicinal, sensual, um delírio febril e a cara preta do Brasil. Não é caju, mas pede um salve que eu dou!

Hoje querem proibir, outros querem liberar. Uns querem só curtir, outros querem se curar. Mas quem somos nós para limitar? Na Lambe-Sapo é legalizado desde que Mr. Catra cantou “baseado na lei do samba”. Catra, que era bacharel em Direito e “doutor em lascívia” sabia também aproveitar as benesses da planta. Mas também soube bradar contra o Brasil hipócrita que, se você puder pagar, não vai “rodar” e não importa se eram 400 gramas. Você pode ser Cannabis ou fumo de Angola. Depende de quanto você tem de grana e melanina.

E se um dia a lei for baseada na lei do samba, com certeza se dará a liberdade ao baseado. O samba é preto como o fumo de Angola. Democrático como Mr. Catra. Alegre como Bezerra. Mas para isso é preciso ter consciência. A nossa arma é o nosso voto. Se queremos um Brasil menos conservador e uma mente mais conservada, é preciso tomar cuidado quando chegar na urna. Aperta com carinho. Deixa subir para a mente. E no final, consciente, aperta o verde! Confirma a Lambe-Sapo subindo fumaça na avenida!

JUSTIFICATIVA

Em 2012, ninguém imaginava que o irreverente funkeiro Wagner Domingues Costa… Ou melhor, Mr. Catra se lançaria a cantar samba. Ora, já era sabida a sua versatilidade musical. O bacharel em Direito e, com toda a licença poética, Doutor em Luxúria, não só se aventurou a cantar samba como lançou seu próprio álbum.

“Com todo o respeito ao samba”. Produzido por Pedrinho Ferreira, ex-diretor musical do grupo de pagode Só Pra Contrariar, o álbum não teve quase nenhum alcance comercial. Foi lançado extraoficialmente várias vezes quando somente no fim de 2023 foi lançado oficialmente e postumamente nas plataformas digitais. O álbum, de excelente gosto, mostrou a versatilidade de Catra não só cantando samba com sua voz rouca inconfundível. Quem diria que, além de lançar um álbum de samba, Mr. Catra faria um protesto contra a proibição da Cannabis sativa. Catra optou por não cantar a Cannabis de maneira poética. Abordou sob forma de protesto toda a questão sociológica que envolve o assunto. Você é preso com Cannabis por matar? Ou por sua condição social ou pela sua cor? A letra, a seguir, fala por si e provoca a reflexão:

"Baseado, baseado na lei, baseado, baseado na lei...

Num dicionário que eu procurei
Estava escrito uma palavra que eu encontrei
Estava escrito 'baseado', adjetivo fundado, fundamentado
Muito mal interpretado, fortemente criticado
E na hipocrisia tu és condenado

6368/76 do antigo 16
Se tu rodar, o que que tu pode pagar
E nem precisa explicar o que tu faz, o que tu fez
Mas se for duro, corre pra pular o muro
Pois quem fica de bobeira será a bola da vez

Vamos plantar para colher nossos direitos
E tem de tudo, o bando da corrupção
Quem rouba o povo tem direito e proteção
Tem a graça garantida, é muito mais do bandido
E vai passar despercebido e vai sacar o mensalão

A nossa arma é o nosso voto, fica esperto meu irmão
É preciso atitude pra mudar essa nação,
Inocente perde a vida,
Renda mal distribuída, isso é crime da antiga,
Chega de humilhação!

Baseado, baseado na lei
baseado, baseado na lei... (tudo baseado na lei)"
Wagner Domingues Costa
Regras do Concurso:Encomenda.
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