Carnaval Virtual 2023 – “Paticumbum Prugurudum” é o enredo da Arrebatados por Momo para o Carnaval Virtual 2023

Em uma temática lúdica, que trará os sambas de enredo de 1982, e homenageando os “poetas do samba”, a Arrebatados por Momo tem como enredo “Paticumbum Prugurudum”, que será desenvolvido pelo carnavalesco Guilherme de Carvalho.

Confira a entrevista concedida pelo presidente, Elidio Fernandes Junior.

1- Como conheceu a LIESV e por que a escolheu?

Sinceramente nem me lembro bem como conheci a LIESV… Penso que uma amiga falou de desfile virtual e fui assistir. Gostei! Me juntei com um grupo de amigos para fundar o GRESV Arrebatados por Momo. Naquela época não conseguimos desfilar. Fato que só aconteceu recentemente e estamos indo para nosso terceiro desfile.em 2023.

2- Qual a história da sua escola, como e onde foi fundada, qual o motivo, quais as cores, símbolo e nome?

Arrebatados nasceu de uma maluquice minha. Mas como sempre tento me cercar de amigos, desta vez não foi diferente: um grupo de foliões assinou a ata de fundação. Tinha Imperiano, Portelense, Insulano e Mangueirense. Desse DNA vieram as cores e símbolos da nossa escola. Tricolor (verde, azul e branco) e com uma águia, coroa imperial, coroa de louros e sambistas como símbolo, a Arrebatados representa paixões. Sobre o nome… Bem, somos devotos de Momo e a expressão “Arrebatados” foi tirada da cartola para ironizar os preconceituosos pela fé…. Por isso GRESV Arrebatados por Momo.

3– Qual será o enredo da sua escola e como ele será contado na passarela virtual (quantas alas, alegorias e demais elementos)?

Apresentaremos um enredo lúdico e totalmente referencial aos sambas de enredo do carnaval de 1982, no RJ. Seu pensar partiu de uma crônica escrita por Carlos Drummond de Andrade, grande poeta brasileiro e, a partir de então, decidimos também homenagear os poetas do samba. Então, sim, será um carnaval retrô na estética audiovisual (essa é a intenção). E será um desfile bastante colorido intencionalmente.. Nomeamos nosso enredo com 0o mesmo títudo da citada crônica: PATICUMBUM, PRUGURUNDUM. E será uma grande ode à poesia popular que é o samba-enredo.

4- Como a equipe da sua escola foi montada e quem faz parte dela?

Temos o orgulho de manter Guilherme de Carvalho, um jovem brilhante, comprometido, criativo e talentoso como carnavalesco que dará vida às ideias projetadas a partir de sua arte, seus desenhos. Ele também me ajuda a pensar o desfile e o desenvolvimento do enredo, cujo texto é pesquisado e elaborado por mim… E nosso carro de som é capitaneado pela linda e melódica voz de Pâmela Falcão em parceria com nossa queria e já premiada Beth Ramôa… Mas estamos tentando construir novas parcerias, que ainda não posso adiantar…

5- E o samba enredo, vai fazer eliminatórias de samba ou vai encomendar? Se for eliminatórias, quais as regras da disputa, pra onde os compositores devem mandar os sambas e etc?

A ideia é haver eliminatória aberta aos poetas que quiserem se aventurar conosco. As regras são as de sempre: gravação de samba com duas passadas com alguma base melódica. Temos um grupo de whatsApp apenas para os compositores interessados. Caso mais alguém queira ingressar, pode me chamar no privado: Elidio (21)973936882.

REGRAS PARA CONCURSO DE SAMBA ENREDO DA (DIGITE O NOME DA ESCOLA AQUI) – LIESV CARNAVAL VIRTUAL 2023
– Data limite para entrega dos sambas: 05/05/2023;
– Divulgação do Samba Campeão: 20/05/2023;
– Poderá ser feito solo ou em parceria de compositores? SIM
– É necessário envio do áudio com duas passadas do samba, acompanhado de alguma base melódica.
– Cada compositor ou parceria poderá colocar em disputa quantos sambas quiser? SIM
– Todos podem participar? SIM
– Os sambas inscritos só poderão ser divulgados após o fim do prazo de inscrição? SIM, afinal só estará oficialmente inscrito após o envio.
– Enviar o áudio do samba concorrente em formato “.mp3”; acompanhado da letra do samba e nome dos compositores para o Whatsapp (21 973936882 – Elidio);

6- O que você e sua escola esperam do Carnaval Virtual 2023, tanto de vocês quanto das coirmãs?

Louvar o próprio desfile das Escolas de Samba a partir o olhar poético de Drummond, com foco nos sambas-enredo. Será um ato de gratidão a todos que já emprestaram seu talento a esta arte. Esperamos um desfile de alto padrão, com samba, alegorias e fantasias criativas e de fácil leitura. Esperamos ficar felizes com nosso desfile e provocar reflexão crítica no público em geral, fugindo da “pasteurização” das escolas de samba. Quanto à classificação, trabalhamos para subir pro especial, mas mais que isso, trabalhamos para ser felizes sem considerar egos… E que as coirmãs, assim como nós, consigam colocar seu projeto para desfilar na íntegra. Isso é o que vai garantir a qualidade do espetáculo. O resto é o resto…

Confira abaixo a logo e a sinopse do enredo da Arrebatados por Momo para o Carnaval Virtual 2023:

É carnaval!
Fevereiro. Ano de 1982…
É como se uma nova estação surgisse, com o ar mais rarefeito e a paisagem modificada. Mas o que se modificam não são os contornos cariocas, é a paisagem humana: Homens passam a se vestir de mulher; monstros passeiam pelas ruas, personagens do cotidiano se multiplicam; caveiras ostentam seus ossos pela cidade. Aceitamos e sorrimos para esse universo que se constitui temporariamente. Blocos desfilam pelos bairros, crianças brincam nas ruas, marchinhas ecoam pelo ar e, na vitrola, as escolas de samba ganham seu lugar.
Contemplativo poeta-cronista sereno Drummond de Andrade que sou, como que observando esta cidade orgânica de minha cadeira de balanço assumo a atmosfera coloquial e relaxada para refletir sobre o que se passa ao meu redor. Ao ouvir este mundo com meus ouvidos de poeta, proponho um retrato de um gênero musical brasileiro, tendo como fonte a efervescência do Rio de Janeiro.
E tudo começou com um papo em meio à festa momesca, quando João Brandão veio confessar que adora sambas-enredo. Havia lido todas as divulgações das composições em jornais ou em leques distribuídos pelas drogarias ou postos de combustível: era bastante comum a distribuição de ventarolas com as letras impressas de um lado e a divulgação da marca do outro… Comentou sobre como estes compositores, cada vez mais, colocavam aspectos literários em suas obras, popularizando a poesia da maneira mais contagiante possível: pela música!
E foi então que me dediquei a conhecer as obras daquele ano…
Caruso e Djalma Branco, pela Unidos de São Carlos estabelecem interessante jogo de som e sentido entre rede e renda: ”Quem joga a rede / pega o peixe e faz a renda”, “Vou deitar na rede, / vou sonhar os sonhos dela, / e trazer muié rendeira / pra rendá na passarela”.
Já o Império da Tijuca nos brinda com um samba narrativo, cheio de elementos, personagens. Está tudo lá numa composição suave e bela de Jorge Melodia: “No sol bonito da manhã / Na imensidão da terra dos Tupis / Iara adorava o Deus Tupã / Pedindo a paz com os Guaranis / Quando uma linda arara / Em puro Tupi lhe falou / Que a ervateria lendária / Salvaria seu povo da dor…”
J. Albertino, da Unidos de vila Isabel, recria o universo dos antigos carnavais trazendo grande saudosismo expresso em seus versos, prometendo alegria ao recriar o passado e ser inesquecível em algum tempo futuro: “As batalhas do Boulevard / E os poetas da Vila Isabel / Belos corsos, pierrôs e colombinas / Sob chuvas de confetes e serpentinas” e “Até amanhã se Deus quiser / Eu volto novamente pra lhe ver / E vou fazer o que puder / Pra você nuca mais me esquecer”.
Conforme meu amigo João comentou quando conversamos, fica evidente a preocupação literária no samba da Unidos da Tijuca, ao relembrar a figura de Lima Barreto, “Figura destacada do romance social”, nestes versos geniais assinados por Adriano: “Mesmo sendo excelente escritor / Inocente Barreto não sabia / Que o talento banhado pela cor / Não pisava o chão da academia”.
Os Acadêmicos do Salgueiro não fazem por menos e saem de Anfitrite, Netuno, Cinderela, polvo de prata, passarinho de cristal, anjos e um rei na carruagem dos corcéis alados. Zé Di e Cesar Veneno, autores confessos, adentraram o “Reino do faz de conta”! Que João Brandão não sabe ao certo se é reino da fantasia ou pseudônimo do país oficial inserido em nosso país concreto, onde os polvos não são prateados e as carruagens rodam a poder de gasolina ou álcool caríssimos.
Para apresentar “O Velho Chico”, Adil, Didico da Viola e Roça optaram pela simplicidade de uma composição bastante direta, mas que propõe uma ruptura temporal muito interessante desde os tempos de criança até o tempo mudar… Curiosa a opção por versos curtos, estanques e ritmados, propondo um rol de elementos culturais vinculados ao Rio São Francisco: “Bate batéia, na peneira fica o ouro / O que cai não é tesouro / Deixa a água carregar / Casei donzelas / Me fizeram oferendas / Fiz mistérios / Criei lendas / Decidi meu caminhar / Oô, oô, oô, oô / Até carranca no meu leito navegou / Lindo cortejo para o mar me carregou”.
“O olho azul da serpente”. O título já é poesia. Só um poeta, seja ele da velha guarda ou Wilson Bombeiro e Carlinhos Bagunça poderia observar de imediato essa particularidade da serpente: o azul dos olhos. É uma história de bruxariano reino de Paranambuco e faz referência expressa à Literatura de Cordel; desfilam Maurício de Nassau; Mestre Vitalino e o Rei Guerreiro Dourado ao som da “Viola vadia de vida boa”. Conclusão: “Geme viola um repente / vem pro forró si menino / Caruaru tá contente, / o Nordeste tá sorrindo.”
Didi e Mestrinho introduzem no vocabulário dos sambas-enredo a palavra euforia (“Eu vim descendo a serra / cheio de euforia para desfilar”). E é assim que a União da Ilha entra para a competição: “A minha alegria / atravessou o mar / e ancorou na passarela / fez um desembarque fascinante / no maior show da terra”. Como não se deixar seduzir pela felicidade?!
E lá vem Mangueira. “As mil e uma noites cariocas” passeiam pela história pretérita e presente do Rio de Janeiro sob o olhar de Flavinho Machado, Heraldo Faria e Tolito. Esse jogo temporal fica claramente exposto nos versos “Os nossos carnavais de antigamente / O pierrô e a colombina encantando a gente / E no carnaval de hoje cheio de loucura / Vem a nossa verde e rosa, que ninguém segura”.
A Imperatriz Leopoldinense traz, já no título, uma grande referência da poesia brasileira: “Onde canta o sabiá” se apropria da Canção do Exílio para, a partir de então, louvar a brasilidade sertaneja em versos que vão da beleza natural à seca e consequente luta pela vida… “Chove chuva / Chove sem parar / Assim canta o sertanejo / Nessa terra onde ecoa / O som do sabiá”.
David Corrêa e Jorge Macedo passeiam pela musicalidade brasileira neste samba da Portela que evoca diversas imagens poéticas: a lua, o amor, a flor… “No meu país tudo é assim / A lua acende a poesia lá no céu / Violeiro, repentista / Seresteiro e sambista / Desafiam em cordel”. Mas não sem evocar a história de amor que está em todas as escolas de samba: “Mestre-sala e porta-bandeira / Girando num conto de amor”.
A formidável onomatopeia do “Bum, bum, paticumbum, prugurundum”, no Império Serrano, pede passagem “pros moleques de Debret” e acentua a magia poética destes versos de Beto sem Braço e Aluísio Machado: “Enfeitei meu coração / de confete e serpentina / minha mente se fez menina / num mundo de recordação. / Abracei a coroa imperial / fiz meu carnaval / extravasando toda a minha emoção…”
João Brandão pergunta se os nossos poetas, os consagrados e os marginais, convidados a fazer letra de samba-enredo, fariam melhor. Certamente apresentariam obras mais caprichadas estilisticamente (isto é, nem todos…). Mas não: não fariam melhor. Falta-lhes o que individualiza o sambista de escola de samba dos demais. O gênero não é fácil, palavras e expressões perdem a força poética ao serem escravizadas ano a ano. O samba-enredo dá à escola de samba o sentido de comunhão quando um poeta do samba, da casa, compõe o hino para o desfile. Pertencimento! Nenhum soneto Shakespereano tem essa característica.
O samba-enredo conquistava os espaços, metia-se na zona sensível de cada um, BUM! BUM! Afastava qualquer imperfeição ou inutilidade de pensamento: PATICUMBUM! Abolia a suposta ordem das coisas no mundo e na mente: PRUGURUNDUM!
A poesia que emana do povo e ao povo retorna via cultura popular. Evoé grandes artistas: Marcus, Abraão, Junior, Caju, Rogério, Guilherme, Vidal e Túlio – Poetas Arrebatados por Momo e tantos outros que emprestam sua arte ao mundo do samba. Sem amarras: Liberdade, ainda que folia!

Autor do enredo: Elidio Fernandes Junior.

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