Carnaval Virtual 2023 – Retornando a LIESV, a Remeiros contará a história da guerreira Zeferina, com o enredo “Mocambeira, o insurgir das Zeferinas”

Em seu retorno a LIESV, a Remeiros, que é presidida por trará o enredo “Mocambeira, o insurgir das Zeferinas”.

Confira a entrevista concedida pelo presidente, André Gustavo:

1- Como conheceu a LIESV e por que a escolheu?

Sempre fui apaixonado por carnaval e tudo o que envolve samba, e foi através da internet em meio a buscas aleatórias conheci a LIESV.

2- Qual a história da sua escola, como e onde foi fundada, qual o motivo, quais as cores, símbolo e nome?

A Remeiros – que é a junção de Reunidos de Medeiros – surgiu em 01 de janeiro de 2018 em Mesquita – RJ, a tricolor da baixada reúne em seu pavilhão as cores azul, vermelho e branco; nossos símbolos são a águia, jatobá e estrela de Belém.

3- Qual será o enredo da sua escola e como ele será contado na passarela virtual (quantas alas, alegorias e demais elementos)?

Enredo: Mocambeira, o insurgir das Zeferinas. Pretendemos levar 20 alas e três alegorias, mas ainda estamos discutindo o desenrolar desse enredo incrível. Nosso enredo discute a história da guerreira Zeferina, mocambeira em Salvador que foi escrava oriunda de Angola e refugiou-se no Quilombo do Urubu, apresentaremos também a ligação de Zeferina com sua religiosidade e também a história de diversas mulheres negras que são guerreiras do dia-a-dia. É história, é samba, é manifesto, e como disse a Lins Imperial, muito mais que carnaval é a arte em forma de protesto.

4- Como a equipe da sua escola foi montada e quem faz parte dela?

Mistério, suspense e emoção. Estamos em reconstrução.

5- E o samba enredo, vai fazer eliminatórias de samba ou vai encomendar? Se for eliminatórias, quais as regras da disputa, pra onde os compositores devem mandar os sambas e etc?

Realizaremos eliminatória com votação interna, todos os sambas concorrentes devem ser enviado através do WhatsApp.

REGRAS PARA CONCURSO DE SAMBA ENREDO DA (REMEIROS) – LIESV CARNAVAL VIRTUAL 2023

– Data limite para entrega dos sambas: 31/03/2023;
– Divulgação do Samba Campeão: 02/04/2023;
– Poderá ser feito solo ou em parceria de compositores? SIM
– É necessário envio do áudio com no mínimo uma passada do samba, acompanhado ou não, de instrumentos? SIM
– Cada compositor ou parceria poderá colocar em disputa quantos sambas quiser? SIM
– Todos podem participar? SIM
– Os sambas inscritos só poderão ser divulgados após o fim do prazo de inscrição? NÃO
– Enviar o áudio do samba concorrente em formato “.mp3”; acompanhado da letra do samba e nome dos compositores para o Whatsapp 21 97580-7513 (Gustavo Pituquinho) ;

6- O que você e sua escola esperam do Carnaval Virtual 2023, tanto de vocês quanto das coirmãs?

Um espetáculo a parte, que todas as agremiações possam realizar uma boa apresentação e que os perrengues fiquem de lado, sempre vencendo a que mais se destacar sem esquecer que além de uma competição o carnaval virtual é uma diversão e uma vitrine para manter a nossa arte viva.

Confira abaixo a logo e a sinopse do enredo da Remeiros para o Carnaval Virtual 2023:

“O meu nome é Zeferina, vim pra cá presa ao colo de minha mãe sobre a proteção das inquices (divindades do culto banto) no navio de muzungu (homem branco), aquele caixão onde preta morria. Minha terra natal é Angola, casa dos povos Bantus onde se plantava alegria e muita tradição, cresci ao som do tambor, meu povo sabia festejar e era com semba na festa do mar.

De dentro do navio avistei Salvador, que vinha surgindo lá longe! Em terra, me foi tirado mainha, esses muzungus sabiam o que era semear ódio, meu pequeno coração virou uma grande plantação, cada lágrima que caia era guardada com rancor.”

A Remeiros levará pra avenida em 2023 o enredo “Mocambeira, o insurgir das Zeferinas”, Zeferina foi uma mulher negra escravizada originária de Angola, ao chegar em Salvador na Bahia foi retirada de sua mãe Amália, a mitologia sobre Zeferina diz que um dia ela recebeu a visita do grande Urubu Rei que era um pássaro mensageiro – o griot da liberdade -, disse a ela: “Você é rainha, e precisa reunir seus guerreiros, no centro dessa cidade, na mata virgem irá fazer seu mocambo”.

E assim fez Zeferina, reuniu-se com alguns malungas (companheiros, camaradas) e fugiu da fazenda do escravocrata, sobre a orientação do griot Urubu Rei foi seguindo mata a dentro, eram tantas cachoeiras de mamãe Oxum, e ela ia abençoando seu povo guerreiro.

Zeferina tornou-se uma liderança no Quilombo do Urubu – hoje bairro Pirajá (Chuva forte e passageira) e do Parque São Bartolomeu, em Salvador, na Bahia. Em 17 de dezembro de 1826, utilizando apenas arco e flecha, Zeferina liderou a população local em um levante contra o ataque de tropas policiais ao quilombo. Ela foi a última a desistir, e ao final acabou sendo presa por vários soldados. O título de “rainha” lhe foi dado pelo presidente da província, a maior autoridade da época na Bahia, após a sua prisão.

Zeferina não retornou ao Quilombo do Urubu. As condições de sua morte nunca foram devidamente esclarecidas, e a localização de seus restos mortais não foi informada. Foi -ela- uma referência de resistência. Ela fez uma escolha por seu povo, lutou e deixou um legado a ser seguido.

A resistência desta população possibilitou a preservação de suas tradições, crenças e cultura, permitindo que a história de Zeferina continuasse a ser transmitida através da oralidade. Apesar de não estar presente em muitos dos livros escolares brasileiros, Zeferina é conhecida no estado em que defendeu seu direito por uma existência livre.

Por sua bravura e resistência, foi homenageada na comunidade outrora conhecida como Cidade de Plástico, onde viviam pessoas em barracos improvisados e suas casas em maioria eram chefiadas por mulheres negras. Devido a uma intervenção promovida pela prefeitura de Salvador, o local transformou-se no Conjunto Habitacional Guerreira Zeferina.

Além de desbravarmos a história da Rainha Zeferina, iremos voltar a essência da mulher negra e suas culturas, nos distanciamos do sofrimento da escravidão mas não esqueceremos do que os muzungus fizeram, apresentaremos mulheres que foram e são ícones da resistência e empoderamento.

A figura de Zeferina está sempre associada aos orixás, como Oxum – rainha das águas doce, segunda esposa de Xangô, representa a sabedoria e o poder feminino, deusa do ouro – que protegia o Quilombo do Urubu o cercando com seus rios e cachoeiras, e enriquecia os rios de peixes para alimentar os mocambeiros, Oxóssi – representado com um arco e flecha, protetor das florestas, o guardião e caçador, homem do conhecimento, responsável por trazer o sustento – pois Zeferina usava arco e flecha assim como o orixá e percorria a mata com sabedoria, era guerreira e caçava muzungu como ninguém.

Iremos clamar pelo fim do feminicídio das mulheres negras, pelo direito a vida das crianças negras como Alice Rocha (tinha apenas 4 anos, comprava uma pipoca com sua mãe após sair da escola e foi atingida na cabeça por um tiro de bala perdida, no bairro da Taquara no Rio de Janeiro), enalteceremos as mães negras do Brasil e de modo especial as mães da Cidade de Plástico (atual Conjunto Habitacional Guerreira Zeferina), falaremos de nomes como Marli Pereira que resistiu contra a ditadura (Ficou conhecida em sua fala “Tenho pavor de barata, de polícia não”, ficou conhecida como Marli Coragem. No dia 13 de outubro de 1979, ela testemunhou seu irmão Paulo Pereira Soares, de 18 anos, ser morto com 12 tiros pela polícia militar. Denunciou o caso na delegacia de Belford Roxo-RJ, onde passou a fazer reconhecimentos quase que diariamente para identificar os algozes de Paulo. Durante sua luta por justiça, Marli sofreu constantes ameaças. Sua casa foi saqueada e incendiada e sua família voltou a ser vítima de violência policial. Em 13 de janeiro de 1993, seu filho Sandro foi assassinado aos 15 anos e, três meses mais tarde, Luiz Carlos Fusco, afilhado de Marli, foi executado por policiais do 18º BPM, aos 18 anos. O atual paradeiro de Marli é desconhecido), Luislinda Dias de Valois Santos também estará presente (Nasceu em Salvador, foi a primeira juíza negra do Brasil), Antonieta de Barros (nascida em Florianópolis (SC), foi professora, jornalista, escritora, fundou o jornal “A Semana” e se tornou a primeira deputada estadual negra do Brasil, autora da lei que instituiu o dia 15 de outubro, dia do professor, para enaltecer e valorizar a profissão.), Carolina Maria de Jesus (nasceu em Minas Gerais e escreveu o livro “Quarto de Despejo”, obra traduzida para mais de 10 idiomas e considerada um dos primeiros livros de Literatura escritos e publicados por uma mulher negra a repercutirem no Brasil.), entre outras figuras como a cantora Ludmilla, Elza Soares, Dona Ivone Lara, e personalidades como Mariele Franco, Glória Maria, Chica Xavier, e outras várias mulheres negras que fazem de seus dias e de suas vidas um ato de resistência e luta!

A Remeiros voltou, com garra e sangue nos olhos e nosso objetivo é resgatar a essência da Guerreira Zeferina do Mocambo do Urubu para vencer na Passarela do Carnaval Virtual.

Autor do enredo: André Medeiros

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