“Um Grito de Estrelas vem do Infinito”. Conheça o enredo da Arrebatados por Momo em 2024

Nome da Escola: Grêmio Recreativo Escola de Samba Virtual Arrebatados por Momo
Data de Fundação: 2015-09-13
Cidade/Estado: Rio de Janeiro – RJ
Símbolo da Escola: Águia, coroa imperial, coroa de louros e sambistas.
Cores da Escola: Verde, azul e branco.
Instragram da Escola: GresvArrebatados
Nome do Presidente: Elidio Fernandes Junior
Nome do Carnavalesco: Guilhermje de Carvalho
Intérprete: Beth Ramôa e Pâmela Falcão
Outros Integrantes: Diretor Musical – Lelê do Cavaco
Enredo: Um grito de Estrelas vem do infinito
Autor do Enredo: Elidio Fernandes Junior

Enredo pesquisado e escrito por Elídio Fernandes Junior

Um grito de estrelas vem do infinito.

O homem é um ser cultural.

A cultura, essa capacidade re-criadora, permite ao Homem re-produzir o mundo dinamizando a existência dos existentes. O fato de estar sempre criando ou re-criando sua obra ou suas manifestações faz da cultura uma das marcas mais tipicamente humanas, pois é principalmente pela sua capacidade de recriar o mundo e as manifestações culturais que o homem se diferencia dos demais existentes: por ser cultural deixa de ser apenas homo para ser sapiens.

Homo Sapiens… Homo Culturalis… Homo Faber…

O Homem que se entende como sabedor de si ou consciente (por isso sapiens), produz o mundo (por isso é faber) circundante e aquilo de que tem necessidade para melhor se situar nesse mundo. A consciência de sua capacidade produtiva e criadora, juntamente com sua criação é o que determina sua dimensão cultural (por isso culturalis).

Anos 70 no Brasil: cinza, chumbo… Recessão pela crise do petróleo. Ditadura militar. Milagre brasileiro.  Censura nos meios de comunicação, tortura e exílio de dissidentes. Inflação, endividamento externo…

Muitos nomes da música brasileira amenizaram suas personas em favor do sucesso e, portanto, poucos podem ser considerados, efetivamente, transgressores. Mas nós fomos… Desafiando tudo e todos, fomos um grito de estrelas que rompeu o infinito estabelecemos conceitos por nossa lendária performance no palco – musical e estética – ou pela fluidez de nossas identidades: Sexualidade, gênero, canto, dança, estética dentro desse espectro, encantando a todos.

A necessidade é a mãe da invenção e era a época das bandas progressivas, que tinham um aparato sonoro poderoso. Éramos o contrário disso: tidos como despojados musicalmente, mas tínhamos referências teatrais e começamos a inventar saídas para não perder terreno, como usar roupas extravagantes e maquiagem. Percebemos que quanto mais nos aventurávamos naquilo que era bizarro, mais as pessoas ficavam estupefatas e atraídas. Alice Cooper fazia sucesso, nos Estados Unidos, o David Bowie, na Inglaterra, e plasticamente levamos as ideias do glam e do glitter ao extremo. E acabamos envolvendo, em torno de nós, pessoas de todas as camadas sociais, de todos os credos, cores e idades, algo que não aconteceu nem ao Bowie nem ao Alice Cooper.

Nossa música era revolucionária, capaz de incorporar influências de Beatles, rock progressivo, o nascente folk rock californiano e misturar tudo isso às raízes portuguesas e ao experimentalismo em flamenco e outros gêneros latinos.  Não podemos deixar de lado o Tropicalismo que nos antecedeu e tanto nos influenciou. A Tropicália tentou conscientizar os jovens, acabar com tabus. E acabamos sendo resultado de tudo isso.

Em maio de 1973 gravamos um álbum que foi um estrondoso sucesso. Assim, como simples e suave coisa… Suave coisa nenhuma! Ouvir nossa obra é ser atravessado por sensações muito diversas a cada música, ou mesmo a cada uma das muitas variações de intensidade, interpretação, campo harmônico ou ritmo que vamos experimentando ao longo da audição. Este disco chegou num momento em que a junção de todas as suas características fazia com que seu projeto musical fosse, no mínimo, arriscado. Mas assumimos nossas personas! Ao que já mencionei, deve-se somar o fato de que o Brasil se encontrava sob uma ditadura militar de direita, extremamente conservadora em relação a costumes, valores sociais, noções de família, homem, mulher e arte. Não pode ser esquecido, em nenhum momento, o caráter violento e repressor daquele regime político, com ampla perseguição a opositores políticos e a quaisquer manifestações artísticas, políticas, sociais e, principalmente, comunicacionais que se opusessem aos valores considerados cruciais pelos grupos dominantes do país naquele momento. Mas é sempre bom repetir para que isso não seja esquecido…

Foi um grande experimentalismo musical que deu certo! Ruptura de paradigmas que causaram grande movimentação do público, como em nosso histórico Show no Maracanãzinho, em 1973, com mais de 30 mil pessoas dentro do ginásio e outros milhares do lado de fora. Liberdade e transgressão!

Somos mais do que parecemos ser. Quem não nos conhecer precisa ouvir nossas canções multireferenciais: Suave coisa nenhuma! Já cantamos a conquista espanhola e portuguesa da América Latina, tanto os povos nativos quanto os povos escravizados e subjugados foram obrigados a abandonar suas identidades culturais… Levamos todos para as terríveis consequências deixadas pela guerra. Rompemos o paradigma da associação da imagem de uma rosa à beleza… Poemas de Manuel Bandeira e Cassiano Ricardo foram musicados, propondo reflexões sobre liberdade, depressão, frustração e conflito entre sentimentos e sensibilidades… Reverberamos a afirmação da identidade e exploramos o tema da comunicação e a importância de ouvir uns aos outros; o desejo de entender e ser entendido pelos outros, a falta de voz durante a Ditadura militar… O signo do poder também é representado quando da era colonial, fazendo referência a Manuel I de Portugal, monarca que ocupara o trono português à época que Pedro Álvares Cabral chegou ao território conhecido hoje como Brasil. Poder, decadência, resistência… a tradição musical portuguesa associada a superstições variadas, lendas e seres elementais está presente em muitas de nossas canções… Um ato de rebeldia, clamor social e críticas à ditadura estão latentes, também, em nossa postura cênica. Mas sempre demonstramos necessidade de encontrar caminhos para a paz…

Um surrealismo impulsionando a liberdade sem fronteiras para o ser humano! Poesia para os olhos e ouvidos…

Eu vi El Rey andar de quatro

De quatro caras diferentes

A mesma língua por dentro da língua falada nos espaços

Recônditos da alma morena dos antepassados recíprocos

Rompi tratados, traí os ritos!

Diga que não sei de nada. Nem posso saber.

Não é de tristeza, não é de aflição: é só de esperança…

Mas se eu não entender, não vou responder.

Então eu escuto!

E o guarda Belo é o herói assim assado

Nada espero e tudo quero

Sou quem delira sem ter febre…

Minh’alma cativa, estúpida, inválida

Sem cor, sem perfume…sem nada!

Sombra, silêncio ou espuma

Suave, coisa nenhuma!

E lá no fundo azul, na noite da floresta

Um grito de estrelas vem do infinito

E um bando de luz repete o grito:

Nos fios tensos as andorinhas gritam.

Voem pombas brancas e amanheça

Inventem a contra mola que resiste

A força de saber que existe

Consciência para ter coragem.

Cantando amanhã as palavras somadas

Pelas gentes que em si mesmo esta língua procria

No mesmo verbo ardente de lírica melodia – Secos & Molhados.

Músicas citadas:

Sangue Latino – 1973

Rosa de Hiroshima – 1973

Rondó do Capitão – 1973

Amor – 1974

Fala – 1974

El Rey – 1973

O vira – 1973

Flores astrais – 1973

As andorinhas – 1973

Assim assado – 1973

Prece cósmica – 1973

Os portugueses deixam a língua nos trópicos – 2000

Primavera nos dentes – 1973

Delírio – 1974

Toada & rock & mambo & Tango & etc – 1974

REFERÊNCIAS

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. “Viver de criar cultura, cultura popular, arte e educação”. In. SILVA, René Marc da Costa (Org). Cultura popular e educação. Brasília: Salto para o futuro/TV Escola/SEED/MEC, 2008.

HOLLANDA, Pedro. Secos & Molhados, um desafio às normas de gênero no auge dos anos de chumbo. Disponível em: https://igormiranda.com.br/2023/08/secos-e-molhados-album-historia/ (Acesso: 30/09/2023).

MONDIN. Batista. O Homem, quem é ele? Elementos de antropologia filosófica. 2 ed. São Paulo: Paulinas, 1982.

Regras do Concurso de Samba-Enredo:
Letra identificando os autores deve ser enviada ao presidente Elídio Jr (21 973936882);
Áudio com duas passadas com base melódica (cavaco ou violão) deve ser enviado junto com a letra;
Inscrição até 09/03/2024
Anúncio do hino vencedor: 23/03/2024

A escolha se dará por voto individual da equipe de carnaval do GRESV Arrebatados (Carro de som, carnavalesco e Presidente). Em caso de empate, um convidado externo (que só será anunciado a posteriori) dará o voto de minerva.

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