Riachuelo mostrará os “Olhos de Erê” no Carnaval Virtual 2024

Nome da Escola:Escola de Samba Virtual Riachuelo
Data de Fundação:22/02/2021
Cidade/Estado:Batatais/SP
Símbolo da Escola:Brasão com âncora e tuberões
Cores da Escola:Vermelho, Verde e Branco
Instagram da Escola:@riachuelovirtual
Nome do Presidente e Carnavalesco:Gabriel Oliveira e Sousa
Intérprete:André Ricardo
Enredo:Olhos de Erê
Autor do Enredo:Gabriel Oliveira

JUSTIFICATIVA

OLHOS DE ERÊ é o enredo para o Carnaval Virtual 2024 da Riachuelo, inspirado em um filme homônimo sobre o universo de um menino quilombola.
O curta-metragem “Olhos de Erê”, produzido e interpretado pelo pequeno Luan Manzo, apresenta seu olhar sobre os elementos do cotidiano de um menino de candomblé no quilombo Manzo Ngunzo Kaiango, em Belo Horizonte (MG). Gravado em 2020, quando tinha apenas seis anos de idade, Luan é responsável pela realização, som e câmera do filme. O curta ganhou o primeiro lugar na categoria “Curta-Metragem de Baixo Orçamento”, com a temática “Instante Suspenso: narrativas de um tempo de isolamento”. Exibido em vários festivais durante a pandemia, o prêmio recebido por “Olhos de Erê” também possibilitou que Luan realizasse sua iniciação no candomblé aos oito anos de idade.
Essa sinopse apresenta trechos de falar documentadas tanto no curta-metragem “Olhos de Erê” como no “Pequeno Dicionário de Erê – Reflexões de Luan Manzo” dirigido por Anderson Lima, e trechos de falas de Mãe Efigênia (Matriarca do Quilombo Manzo Ngunzo Kaiango e Avó de Luan Manzo).

SINOPSE – OLHOS DE ERÊ

Um dia um Erê me disse:

“Uma vez eu vi no Jornal, na Tv, que o Brasil é um país muito religioso, e muito respeitoso. Só que nós, povos de matrizes africanas sofremos intolerância religiosa todos os dias, quebram nossos orixás, inquices, voduns, todo nosso terreiro. Ai eu fico pensando, se o Brasil é um país tão religioso, não deveria respeitar todas as religiões?”

O Erê me disse isso, e saiu correndo, eu impressionado com o que tinha ouvido daquela criança corri atrás dele, ele dava gargalhadas enquanto corria mais, como em uma brincadeira de pega-pega, foi quando eu entendi que “pra entender o Erê, tem que tá moleque…” quando finalmente alcancei o Erê, perguntei seu nome, ele me disse e ainda me fez um convite:

“Oi Eu sou o Luan Manzo e tenho 8 anos, pode me chamar de Kzabangue, meu nome africano, eu sou um Muzenza, ou seja, uma palavra Bantu das línguas Quimbundo e Quicongo, utilizada no Candomblé do seguimento Angola para designar o noviço, iniciado. Meus inquices são Katendê – a divindade que transforma as folhas em remédios, é pra ele que eu peço a cura da Intolerância Religiosa, também sou filho de Dandalunda – das águas doces, fertilidade, fecundação, ouro, amor, beleza e riqueza e Kassuté – o inquice da procriação e da paz, pai de todos os inquices, e através da pureza deles consigo ver um mundo melhor. Hoje eu quero convidar vocês para ver com os meus olhos como é a casa da minha avó aqui na Comunidade Quilombola Manzo Ngunzo Kaiango e compartilhar um pouco da minha vivência e religião, o Candomblé Angola.”

Entramos por uma porteira e ele me pegou pela mão e começou a me apresentar o lugar – O Terreiro da Minha

“Aqui é o guardião da porta, é o Exu que toma conta da porta, é o NZILA, Exu não é o diabo, não conhecemos esse “senhor” aqui, Exu é a comunicação. Aqui é o porrão onde fica a maza (Água), Aqui na frente tem o assentamento do Seu Tiriri, que é o guardião da casa e as comidas dele são, o padê, o galo, ele gosta de uma cachacinha e de água. Aqui mora o Incossi e o Mutacalambo, que são referentes a Ogum e Oxóssi, aqui tem também um dendezeiro, que é a erva sagrada do Incossi, que minha avó plantou com as mãos pretas dela. Aqui na frente fica o Jogo de Búzios, e aqui dentro é o terreiro.”

Dentro do Terreiro, há várias imagens de santos e no centro a cumunheira. O Erê seguiu me guiando.

“Essa no quadro é a minha avó, essa aqui é a Matamba e o chicote que as Matamba usam quando tá virada, o Kitembu Velho e o Kavungo e as palha de Kavungo, esses são os santos que passam na cabeça da minha avó. Aqui tem o Caxixi e os Atabaques ou seja, as ingombas que são o conjunto de três, são feitas para os Tata Kambondo, que são pessoas do Candomblé que não rodam de Orixá ou Inquice, e tocam para invocar o Inquice de quem está na Roda.”

Aquele Erê conhecia muito sobre tudo que estava me mostrando, seus olhos enxergavam além dos objetos cotidianos do nosso dia-a-dia, tudo ali tinha um significado, e o menino sabia todos eles, parecia que eu estava diante de um Pequeno Dicionário de Erê, ele seguiu me explicando…

“Fora do Terreiro, quando uma pessoa usa um colar ou uma corrente, é só pra enfeitar, mais aqui no terreiro tem outro significado. Quando as pessoas colocam um corrente ou alguma coisa no pescoço, o significado da Guia ou Conta de Inquice é como se fosse a representatividade do Inquice, essa minha é de Katende, o dono do meu mutuê, ou seja, o orixá que rege a minha cabeça.
Uma vez ouvi na Escola que Macumba era quando a gente queria fazer o mal para o outro, ou seja, para o próximo, porque será que eles pensam isso? porque será que eles falam isso, sem nem conhecer? Só que ano no terreiro, é bem diferente, Macumba é um instrumento musical que nasceu na África.
Quando eu fui no Hospital tinha um monte de gente vestida de branco, os enfermeiros, eu não entendi muito, mais aqui no terreiro, tem outro significado, a pessoa de branco como eu, significa o povo do terreiro.
Muitas pessoas acham o doce muito saboroso, e aqui o doce é o NGUDIA de Vunji ou a Comida dos Erês, o milho não é da festa junina, é o NGUDIA de Mutalambo, ou seja, a comida do rei da caça e a Pipoca não é do cinema, é o NGUDIA de Cavungo ou a Comida do dono da terra, por falar em cinema, uma vez eu vi no
cinema e vi um filme de uma pessoa morta, e as pessoas deixavam flores do lado do corpo do morto, mais aqui no terreiro é diferente, as flores são pra enfeitar o terreiro. Falando de flores eu lembrei das plantas, vem aqui pra você ver.”

Saímos de dentro do terreiro e do lado de fora no terreno além das plantas, observei outras casa, casas de santo e casas de famílias quilombolas, descobri que Tem um Quilombo dentro do Terreiro.

“Essas são as plantas da minha avó, são algumas plantas que são usadas nos nossos rituais e são protegidas pelo meu pai Katende. tem Mamoneira vermelha, Capéba, Comigo ninguém pode, Espada de São Jorge, Bolso, Acoco e o rei das Ervas, o Peregum. Tá vendo aquelas casinhas lá em cima? São as casas dos Santos, todos nós do terreiro ajudamos a construir, usamos muito bambu e muito barro, lá tem os assentamentos de Baba, Nzila, Caboclo , Casa de Lemba, Luango e Kaiaia, Casa de Kavungo, zumba, Angoro, Casa de Katendê, Casa de Matamba e Dandalunda e ali no meio a bandeira de Kitembu. Essas outras casas são as casas das famílias Quilombolas que vivem aqui no Quilombo Manzo que abriga aproximadamente onze famílias (cerca de 50 pessoas, incluindo um considerável número de crianças e adolescentes). Nós temos também um Projeto Social aqui, que atende todas essas famílias e muitas outras, é o Kizomba, que significa Festa do Povo, é um projeto social e cultural de valorização da cultura afro-brasileira através da realização de atividades como: capoeira, dança afro e percussão, Eduka Kilombu dentre outras.”

Esse é um lugar de muita resistência e de muito aprendizado, o Erê me pegou pela mão e correndo me levou ao último ambiente daquele lugar incrível. chegamos na cozinha, onde os alimentos sagrados e das festas são preparados e hoje Tem Festa no Terreiro.

“Aqui é a cozinha, onde é preparado todos os alimentos sagrados, onde fazendo a comida do nosso ancestral, é um lugar sagrado da casa, um lugar de troca de conhecimento, as vezes eu ajudo a descascar o alho, a socar o alho, ajuda a buscar lenha. Hoje estamos preparando a Kukuana, ou seja, o Banquete do Rei, essa é só uma das festas que fazemos aqui, além dela tem a Festa de Pai Benedito, Festejo de Caboclo e a Rua de Erê e Kurumis onde é servido o Caruru, que é o prato dos Erês, os sete primeiros a se servirem são sete crianças que depois de comer limpam as mãos na barra a saia da senhora mais velha da casa. Falando em festa, lembrei da minha Saida de Yaô ou Muzenza que é uma festa pública do Candomblé e é considerada uma das cerimônias mais importantes da religião, por ser o momento da iniciação de fato de um membro do Candomblé, foi lá que eu recebi o título de Muzenza e o nome africano Kzabangue.
Eu sou uma criança de Asé, prazer Muzenza Nsabangue Kiamaza.”

E eu sou a Riachuelo, e foi assim, através dos olhos desse Erê que pude enxergar um mundo puro e inocente, que respeita e ama a diversidade.

“Pare e pense no que já se viu/Pense e sinta o que já se fez/O mundo visto de uma janela/Pelos olhos de uma criança… o Erê é a criança, sincera convicção…”

Salve os Vunjis e Ibejis Salve os Kurumins
Salve Cosme e Damião
Salve a inocência das Crianças

Gabriel Oliveira – Carnavalesco

Regras do Concurso:Encomendado
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