Nome da Escola: | Sociedade Escola de Samba Virtual Imperatriz Ludovicense |
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Data de Fundação: | 01/01/2014 |
Cidade/Estado: | Curitiba Paraná |
Símbolo da Escola: | Coroa ladeada por dois leões |
Cores da Escola: | Azul, vermelho e dourado |
Instagram da Escola: | @imperatrizludovicense |
Nome do Presidente: | Marcelo Luiz Vergilio Ferreira |
WhatsApp para Contato: | 41 999405358 |
Nome do Carnavalesco: | Cleiton Almeida |
Intérprete: | Igor Viana |
Outros Integrantes: | Kfe – Diretor Musical Matheus Bianck – Diretor de carnaval |
Enredo: | Mama de Vison |
Autor do Enredo: | Cleiton Almeida |
Mama de Vison
De um botequim pé sujo de esquina, observo o fluxo da cidade. Tocam os sinos das igrejas para avisar que lá se foi mais uma hora. E tocam, e tocam, e tocam. Percebo as ruas preenchidas por um mundaréu de gente que vive sob um santo poderio. E lá se vai uma gente carregando pasta de couro que certamente está abarrotada de documentos importantíssimos. E lá se vai outra gente com bolsa malhada que sem dúvida também carrega papéis timbrados e carimbados. E lá se vai aquela gente, e lá se vai esta gente. Laça a si própria com as cordas da sagrada ordem. Laça e vai, ocupada em nascer e morrer. Mesmo com tantos papéis possíveis, vemos correndo pelas ruas uma imensidão de iguais. Êêêêêêê…
A cidade parece se organizar mesmo como um grande curral. Um curral muito moderno, certamente, com cercas de vidro, ripas espelhadas, cochos minimalistas onde os benfeitores colocam um pouco de sal para nutrir o divino rebanho. Há também muita merda espalhada pelo chão e pelas bocas. Tocam as convenções tal como berrantes, ao pé do ouvido para que nenhum outro chamado seja seguido. Não escapo da constatação: laçado estou eu também no meio da multidão, trajado com terno e com a gravata de uma celestial seriedade. Ora, mas que diabos de história é essa que nos põe cabrestos? Nos suga o leite, nos deixa pálidos, sombrios e apáticos como se a cidade fosse a cubista Guernica.
Oh, sim, eu estou tão cansado, mas não para dizer tudo o que vejo – ou vi. Não sei se era a vontade por uma outra história que não a da entediante e ordinária rotina ou se era apenas um exagero na bebida, mas juro que ouvi soprar um vento pagão que trouxe o eco de um forte mugido responsável por estremecer as mesas de plástico e o copo vazio. Do meio da boiada emergiu uma vaca, profana em todos os seus gestos, de cornos robustos que saíam para fora e acima da manada. Que consagrada visão! De suas divinas e assombrosas tetas, começou a jorrar como chuva o leite da vida. Era o despertar de uma revolução:
– Derrame o leite na minha cara!
Fui arrebatado para uma dimensão extraordinária. De fato, começava a ser organizado um motim pelas sombras da cidade. Há algum tempo já circulava à boca miúda que isso estava prestes a acontecer, mas custei a acreditar. Precisei ver com meus próprios olhos – ou com minha própria fantasia. Aquela vaca profana, que outrora era mais um engravatado carregando a mesma papelada que a multidão, trajou seu biquíni e um belíssimo casaco de vison para rasgar os velhos papéis. Pelas gotas de seu leite, nos levou como discípulos para seu coven, localizado à meia-luz da noite carioca. Estávamos lá assistindo suas performances como aulas preparatórias para a insurreição. Éramos rebeldes bezerros famintos por uma vida de boemia. Aquela mamífera fatal inventava a vida diante de nós, como uma miss que fala sobre seu maior desejo:
- – A paz mundial. Obrigada.
Chegada a hora da batalha, a subversiva vaca empunhou um berrante como uma trombeta e tocou fundo – como só ela poderia tocar. Eu nunca tinha visto – nem sei se agora já vi – uma coisa daquelas. Era como se o seu chamado fosse cinematográfico. As ruas da cidade foram surpreendidas por criaturas mitológicas que eu não sei nem dizer o nome porque ainda não foram fabuladas. A ordem era samba, comia-se tudo, comia-se o mundo. Comia-se palavra, comia-se gravura, comia-se alegria pura. Operavam-se cabeças e deglutiam-se miolos. Eu estava lá, é lógico, como um soldado do exército profano daquela guerra cultural. Antropofágico e tropicalista, o Rio sempre foi um curral da beleza e do caos. Era muito leite inundando a alma dos caretas e chifres voando para todo lado, tanto é que se podia ouvir os apelos:
– Não me fale dos meus cornos!
Desse conflito, como um redemoinho que remexeu com as águas do Rio, ficaram os escombros. Os prédios não foram destruídos, as casas não foram detonadas, as árvores continuavam em pé. No máximo, foram derrubadas algumas estátuas que já não cabiam mais. As ruínas às quais me refiro são as que emergiram da terra. O passado foi revirado e posto à tona. Em nossa frente apareceram os vestígios de uma cidade que não era refletida pelos espelhos do velho curral. Sinais de outras vacas profanas que foram detidas, cujos cornos foram cortados ou que adoeceram sem uma bendita assistência. A emoção foi geral, chegou a faltar lenço para secar as lágrimas. Oh, minha honey, baby… Dos destroços – há tantos traçados! – foi reerguido um chafariz bovino de onde pudesse jorrar o leite ancestral. E para celebrar, eis o pedido:
– Uma cachacinha, si us plau.
O tempo não para e, no entanto, ele nunca envelhece… Por isso uma força tão estranha quanto familiar me levou a contar essa história. No mesmo boteco de esquina, percebo que ainda estou vivo e pensando com cada pelo do meu corpo. Mas – felizmente – nada está igual: na quadra de cima, há aulas de bate-cabelo. Na de baixo, oficinas de lip sync. A cidade que antes parecia curral, agora poderia ser descrita como um baile de vacas peruas. Ai, que delícia, a vaca não foi para o brejo e sim para a glória. Vejam só, a profana e professora vaca tornou-se sagrada! Deusa da burla, da abundância, da sátira. Filha de Momo e dona de voluptuosas mamas. Estamos protegidos por essa senhora das nossas, uma lady Laura que nos dubla uma canção, nos afaga as perucas e nos desperta para a vida. Laura que ofereceu seu leite para a história e tornou-se mãe.
– Nossa Mama de Vison!
Regras do Concurso: | O compositor pode fazer quantos sambas quiser. Mandar dúvidas, letra e áudio para o WhatsApp – 41 999405358 ou para o e-mail marcelolvferreira@gmail.com Receberemos sambas até 19 de maio. |
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